sábado, 12 de novembro de 2016

O sino de ouro da Casa do Monge Lagareiro


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Nas noites longas de inverno, a minha avó Maria Lourenço contava-me histórias.

Uma delas, falava sobre um sino de ouro que haveria no lagar dos frades e estes enterraram para o esconder dos franceses, durante as invasões de há duzentos anos.
Como é evidente, tal sino nunca existiu e a lenda não tem qualquer fundamento.
Em primeiro lugar, não existem nem nunca ninguém os vislumbrou, quaisquer vestígios de capela e, o frade que ocupava a Casa do Monge Lagareiro, rezaria, certamente, frente a um simples oratório móvel (a ausência de vestígio ou notícia de capela levou-nos, inicialmente, a duvidar da presença permanente de frade(s) mas, no Verão de 1799, “Fr. Luis da Purificação, Professo Bernardo, rezidente na quinta do Lagar da dita Ataija”, foi padrinho de duas crianças do lugar).

De qualquer modo, capela que houvesse, nunca justificaria um sino de ouro.
O local era, apenas, uma fábrica de azeite. E, numa fábrica de azeite, não são precisos, nem adequados, outros tesouros que não o próprio azeite.
Talvez houvesse por lá uma pequena sineta, de bronze ou de latão fundido, para avisar que alguém chegara ao portão, ou marcar o ritmo dos trabalhos e das orações mas, não mais do que isso.

Apesar disso, a história do sino de ouro terá feito os seus estragos:
Joaquim Marques Silvério (Joaquim Albino, Joaquim Alvino) era, nos anos de 1940, proprietário do lagar, quando este se desmoronou ou foi deliberadamente arrasado e se encontrava em desuso e degradação há, talvez, dez a vinte anos

As opiniões dividem-se:
Uns, dizem que o lagar foi arrasado para reaproveitamento de materiais e, nessa ocasião, derrubado o portão de acesso à quinta para facilitar o acesso de veículos.
Outros, dizem que o Silvério procurava o mítico sino de ouro que, naturalmente, não encontrou.

Algumas das vigas do telhado foram compradas por José Francisco Veríssimo que, contava este, vendo-as ao abandono, foi lá com uma enxó e, verificando que a madeira estava em bom estado e era de qualidade, as comprou e mandou serrar em tábuas, de que se fez uma mesa, uma cama e um louceiro (cantareira) que ainda existem, agora na posse dos seus descendentes.
Curiosamente, ou não, a serração era do próprio Alvino, o dono do lagar que, inicialmente, se terá recusado a serrar as tais vigas. Como contava, ainda, o José Veríssimo, o Alvino receava que eventuais pregos que se encontrassem nas vigas, dessem cabo das serras. O José Veríssimo ter-se-á prontificado a pagar o prejuízo, se o houvesse e, afinal, veio a ser encontrado um único prego que não terá causado dano apreciável.

Passou-se isto pouco depois (ou, talvez, um pouco antes) de o José Veríssimo se ter casado, o que aconteceu em finais de 1942.
Em qualquer caso, nunca nos inícios do Séc. XX, ao contrário do que se lê no Sistema de Informação para o Património Arquitectónico,
in http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3336, (consultado em 1 de abril de 2012).  

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2 comentários:

  1. Carlos do Rosário Ângelo12 de dezembro de 2016 às 17:48

    Acrescento que o Joaquim ("Albino"), dos albinos da Tremoceira, casou com a Joaquina Coelho da Silva (da Boieira) e filha mais nova de Joaquim Ângelo (filho de Ângelo da Silva e de Maria dos Santos e irmão de Matias Ângelo) e de Maria Coelho(a) da Boieira. Moraram na Cumeira de Cima em casa adjacente à serração de Madeira. Não sei como ocorreu a transferência da posse do Lagar dos Frades do Matias/herdeiros para o genro (albino) do seu irmão Joaquim!

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    1. Sr. Carlos do Rosário Ângelo,
      Muito obrigado pelo seu comentário que acrescenta informação importante, designadamente quanto à progenitura da mulher do Joaquim Alvino e, assim, a sua ligação à Ataíja de Cima.
      Penso que será familiar e, assim, talvez lhe interessem outros posts publicados neste blog como, por ex. "O Poço do Moura" (https://ataijadecima.blogspot.pt/2016/11/o-poco-do-moura.html).
      Caso o pretenda, pode contactar-me pelo email jose.quiterio@sapo.pt
      Cumprimentos
      José Quitério

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