Na década de 1870 a 1879, realizaram-se na Ataíja de Cima 15
casamentos.
Todos os noivos eram solteiros, com idade média de 32,4 anos,
sendo que o mais novo tinha 22 e o mais velho 55 anos.
Das noivas, por sua vez, 12 eram solteiras e 3 (20% do
total) viúvas, com idades compreendidas entre os 20 e os 48 anos, o que dá a
média de 31,9 anos. Se considerarmos apenas as solteiras, a idade média desce
para os 29,2 anos.
E, com isto se desfaz a idéia de que "antigamente" as pessoas casavam mais cedo.
Em um terço dos casos (5 casamentos) a noiva era mais velha
do que o noivo (respectivamente, 7, 3, 11, 5 e 4 anos).
E, com isto se desfaz mais uma ideia feita: a de que a mulher tem de ser, sempre, mais nova que o marido.
O casal mais velho era constituído por António de Moura, de
55 anos, solteiro, e Maria dos Santos, de 44, exposta de Lisboa, viúva de
Ângelo da Silva, falecido há, exactamente, um ano e uma semana.
Hoje em dia seria, talvez, objecto de fortes críticas a viúva
(ou o viúvo) que voltasse a casar apenas um ano e uma semana depois do falecimento
do primeiro cônjuge. Mas, quando estudamos factos acontecidos há tanto tempo (138
anos), é importante perceber que, naquela época, numa pequena aldeia rural, e sem apoios familiares (recorde-se que a Maria dos Santos era enjeitada e, assim, não tinha pai, mãe ou irmãos de sangue que, eventualmente, a pudessem auxiliar), era praticamente impossível a sobrevivência de uma mulher
viúva, com filhos menores (Maria dos Santos era mãe de 4 filhos: Joaquim, de 21 anos, Luisa, de 19 e Cristina, de 13 e, ainda de Matias Ângelo, nascido a 20 de Novembro
de 1859 e que viria a ser, no início do Séc. XX, o homem mais rico da Ataíja de
Cima ).
O segundo casal mais velho, era constituído por Matias
Coelho e Maria Felizarda, ambos solteiros, ele de 50 e ela de 44 anos de idade.
No acto do casamento, o Matias Coelho reconheceu a paternidade do filho
Joaquim, então com dez anos de idade.
O que terá levado um homem de quase quarenta anos a conceber
um filho numa mulher de quase trinta e quatro e, quando ambos estavam em boa idade de casar,
a não casar nem reconhecer o filho, mantendo-se, durante dez anos a vê-lo
crescer sem poder, ou querer, dar-lhe os carinhos e os ensinamentos de pai, enquanto
era, certamente, objecto de falatórios de toda a aldeia, que havia de ser
sabedora da progenitura e, só depois de tantos anos, finalmente, assumir a
paternidade e o casamento?
Estas são perguntas cujas respostas só muito dificilmente
viremos a conhecer. Mas, formulá-las serve para recordar que a vida é mais
complexa do que, às vezes, parece.
Estes Matias Coelho e Maria Felizarda vieram a ser avós
de António, Manuel e Joaquim Matias e, portanto, ascendentes de uma numerosa
prole que constitue, hoje em dia, uma das grandes famílias da Ataíja de Cima e,
esse, é o fim feliz da história do casal.Nota: Este texto foi, originalmente, publicado neste Blog em 29-01-2014