quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

16º Almoço Anual do Salão Cultural Ataíjense




Como sempre, desde o ano de 2000, no terceiro domingo de janeiro, a população da Ataíja de Cima reúne-se no Salão Cultural Ataíjense, para o respectivo almoço anual.

Assim foi no passado dia 18, dando continuidade ao que já é uma arreigada tradição e, mais do que isso, uma manifestação de união em torno dos objectivos comuns que são os de continuar a desenvolver os laços de amizade e respeito mútuo entre os moradores, como condição para a união de esforços tendo em vista a melhoria das condições de vida da comunidade.

Participaram no almoço cerca de trezentos ataijenses e amigos e, como convidados, representantes da Câmara Municipal de Alcobaça e da Freguesia de Aljubarrota, incluindo os respectivos presidentes Dr. Paulo Inácio e Sr. José Lourenço e o Pároco Ramiro Portela.

Quem, como eu, acompanha com atenção e interesse mas, forçadamente, a alguma distância a vida ataíjense, não pode deixar de se sentir feliz por ver que, neste quinze anos, desde o 1.º almoço, a partir do qual o Salão Cultural Ataíjense logrou criar as bases para uma actividade diária e ininterrupta, o desenvolvimento do Salão tem sido, igualmente, ininterrupto.
De facto, desde então assistiu-se a, pelo menos, três fases de ampliação das instalações e, no último ano, à substituição integral da cobertura que é, agora, em painéis sandwich, com grande benefício das condições térmicas e acústicas do Salão.
Mas, porque uma Casa destas nunca está acabada, outras obras continuam em curso (caso da plataforma elevatória cuja entrada em funcionamento se prevê para breve e outras foram anunciadas. A próxima, que decorre da substituição da cobertura e implicará muito trabalho voluntário, será a pintura das paredes interiores do 1º andar.





Tudo só foi possível graças ao trabalho de muitos voluntários.
Eis alguns deles:



Este ano, ao contrário do habitual esquecimento a que a comunicação social local vota quase toda a Borda da Serra, o almoço foi notícia no quinzenário O Alcoa, de 22 de janeiro:





Dia 17 de janeiro de 2016, 17º Almoço Anual do Salão Cultural Ataíjense.
Até lá!

sábado, 10 de janeiro de 2015

Almoço Anual do Salão


16º Almoço Anual

do

Salão Cultural Ataíjense


3º domingo de janeiro

dia

18-01-2015


Ementa:
Almoço 

- Sopa da Pedra e Canja de galinha,
Bacalhau à Salão,
Galo do Campo com massa e legumes salteados.


Jantar
- Grelhados mistos e as sobras do almoço

As bebidas são incluidas, excepto cafés e bebidas espirituosas que são servidos no bar.


Preços: 
Crianças até 6 anos, grátis;
Crianças dos 6 aos 12 anos 6,50€
Adultos 18,00€



INSCREVE-TE JÁ, na sede do salão, ou através de: scataijense@hotmail.com ,ou 918201194



https://www.facebook.com/events/651581178284665/
https://www.facebook.com/SalaoCulturalAtaijense

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Ataíja, terra natal de Teresa Lourenço, a Pinheira, mãe do futuro rei D. João I, o da Boa Memória

“E he asy a maey del Rey Dom Yoam da Boa memoria chamada Tareyja Lourenço a Pinheyra era dahy do pee daquela serra das Ataijaas”


É um curioso documento o trazido, pelo Professor Saul António Gomes, ao fascículo dedicado ao foral de Aljubarrota[i], do projeto “comemorações 500 anos da outorga dos forais do concelho de Alcobaça por D. Manuel I”, com o título “Ataíja, terra natal de Teresa Lourenço, a pinheira, mãe do futuro Rei D. João I, o da Boa Memória”.

O autor, que diz escrever em 1516 e se identifica como João de Arruda, irmão de Vaz de Arruda guarda-roupa do Rei D. Manuel II, diz querer ajudar Garcia de Resende “pondo aquy huns passos que elle (o Rei D. João II) dixe e fez que nom acho escritos na sua (de Garcia de Resende) leytura e coronica”.

Para isso relata o supostamente acontecido de uma vez em que D. João II, indo de Alcobaça para a Batalha foi abordado, além da vila de Aljubarrota, por um grupo de camponeses, que, disse o Rei a João de Aveiro, seu moço de esporas que o acompanhava, alguns deles seriam parentes do próprio Rei.
É que, explica de seguida o dito João de Arruda, “E he asy a maey del Rey Dom Yoam da Boa memoria chamada Tareyja Lourenço a Pinheyra era dahy do pee daquela serra das Ataijaas”.
Por isso, D. João I teria dado àquela gente da Ataíja alguns privilégios (isenção dos impostos de oitava e jugada e do serviço em cargos do concelho), privilégios esses que, com o tempo, “…os almoxarifes[ii] dos duques senhores de Porto de Mós[iii] lhe foram tirando …”
Apresentar queixa ao Rei desses comportamentos dos almoxarifes era o propósito que movia o tal grupo de camponeses.

Quem, efectivamente, seria esta Teresa Lourenço, mãe de D. João I, isso é questão que, de todo, não está esclarecida.
Fernão Lopes autor das mais antigas referências escritas à mãe de D. João I, dá-a como uma dama galega[iv].
Outros, dizem-na filha de “Lourenço Martins, a quem chamaraõ o da Praça, Cidadaõ honrado de Lisboa, filho de Martim Lourenço, que jaz sepultado na Freguesia de S. Mamede, e de sua mulher Sancha Martins, de que se conserva ilustre descendência na Familia dos Almadas”.
Frei Manuel dos Santos, diz que Teresa Lourenço seria filha de Rui Fernandes de Almeida, fidalgo de entre Douro e Minho.
João de Arruda, no documento que motiva este texto, diz, como vimos, que Teresa Lourenço, a Pinheira era do pé da serra das Ataíjas.
António Caetano de Sousa no Tomo II, publicado em 1736, da “História Genealógica da Casa Real Portugueza”, trata a questão em profundidade, passando em revista as várias teses então existentes, refutando-as, uma a uma:
- A hipótese de ser fidalga galega, por não haver documento que o sustente;
- A de ser filha de Lourenço Martins por não haver documento nem, muito menos, “Author vizinho daquele tempo” que a confirme, embora reconheça que “… se alguma das opiniões sem documentos podia ter probabilidade na conjectura, e nas circunstancias era esta…”[v]
A de ser filha de um fidalgo de entre Douro e Minho, ainda menos a aceita porque, diz, não só não se encontram as cartas em que a hipótese se baseia como, porque, entre aquelas onde eram suposto estarem as ditas cartas, “… se vem algumas das que são inverosímeis à Historia daquele tempo…”
Conclue, no entanto, dizendo que “…ninguém duvida da nobreza desta Dama;…” mas, dessa nobreza não faz prova, pelo que, usando os seus próprios argumentos, isso não é de aceitar, sem mais. 
De facto, tal conclusão é meramente ideológica: O autor conclui que a mãe do Rei D. João I seria nobre porque, no sistema de classes vigente à época, inadmissível seria que o Rei de Portugal fosse de origem vilã.

E, chegámos ao Séc. XX, continuando sem novas provas mas, agora, com uma linguagem mais solta, como se vê, por exemplo, nas “Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança”, onde o Abade do Baçal diz que:
“El-rei D. Pedro, consolado da perda de D. Inês de Castro, tomou-se de amores com a formosa Teresa Lourenço, que, em paga, lhe deu … D. João, Mestre de Avis, depois primeiro deste nome rei de Portugal.
Alguns dizem que esta régia barregã era simples tendeira ou regateira da Ribeira Velha, em Lisboa, facto que não destoa do carácter plebeu do real amante.”

Neste início do Século XXI, surge esta nova hipótese, afirmada por João de Arruda, da naturalidade ataijense da mãe do D. João I.
Esta é, no entanto, hipótese tão incerta como as demais mas, tendo sido escrita 159 anos depois do nascimento de D. João I, tem as vantagens da razoável proximidade aos factos (três ou quatro gerações teriam sido suficientes para a transmissão oral da “verdade”) e, ao mesmo tempo, um igualmente razoável afastamento dos mesmos factos que dispensaria, agora, os cuidados com que a questão da ascendência materna do Rei teve, naturalmente, de ser tratada na época do nascimento da dinastia.
Acresce que, o ter nascido aqui ao “pee daquela serra das Ataijaas” não seria, por si, absolutamente incompatível com a hipótese de ser filha de Lourenço Martins e de sua mulher Sancha Martins.

Certo é que D. João I “Era filho del Rey D. Pedro, e de Thereza Lourenço, com quem depois da morte da Rainha D. Ignez teve El Rey trato” e, também é certo que esse trato, essa relação, não foi coisa acidental, antes assumida, estável e durável, como se deve concluir do facto de o Rei ter assumido logo a paternidade e ter-se interessado pela educação do filho[vi] e segurança da mãe a quem, em 1366, fez doação de umas casas e outros bens em Aviz, o que parece justificar-se com o facto de, dois anos antes, em 1364, o jovem João, então com sete anos de idade, ter sido feito cavaleiro e Mestre da Ordem de Aviz, onde passou a viver “e nesta Villa se creou”. Ou seja, bem parece que a doação teve o fito de levar a mãe para perto do filho.

Era a mãe de D. João I ataíjense?

Não o creio e, menos creio que tal se possa vir a provar. Mas, o texto de João de Arruda e a escrita deste já me levaram a ler, de um fôlego, a Crónica de D. Pedro I (disponível online em purl.pt/422) que recomendo vivamente porque, está lá tudo: Guerras várias, terror e justiça, crueldade, amor e ódio, sexo, fidelidade e traição, ganância e crime, perseguições e fugas etc., etc. Como num romance dos bons.




Loudel de D. João I
O Loudel, ou laudel, era uma veste destinada a proteger o corpo dos golpes de espada. O loudel de D. João I (actualmente exposto no Museu de Alberto Sampaio, em Guimarães) tem forma de colete cintado que se estende até aos joelhos. É composto por várias camadas de linho e enchimento de lã, acolchoadas. Aperta-se na parte frontal através de vários botões pouco intervalados (adaptado do site do Museu Alberto Sampaio, em http://masampaio.culturanorte.pt/pt-PT/colec/textil/ContentDetail.aspx?id=330)


[i] Distribuído com a edição 1104 do semanário Região de Cister, de 16 de Outubro de 2014.
[ii] Funcionário responsável pela cobrança e arrecadação de impostos.
[iii] Mais uma vez se confirma o que, aliás, há muito é sabido: historicamente, sempre a Ataíja pertenceu a Porto de Mós que, por sua vez pertencia a Ourém. Os “duques senhores de Porto de Mós” são os duques de Bragança, também, condes de Ourém.
[iv] “Uma dona natural da Galiza que chamavam Dona Tareija Lourenço, que pariu dele um filho, que houve nome D. João, que foi Mestre de Aviz e depois Rey” –in, Crónica de D. Pedro I, de Fernão Lopes, copiada do original e acrescentada pelo Padre José Pereira Baião, Lisboa, 1735, pág. 53.

[v] Faria sentido entregar a criança nos seus primeiros tempos (com a mãe, é óbvio) aos cuidados dos avós maternos.  
[vi] Segundo Fernão Lopes (op.cit., pág. 54) , a criança foi entregue pelo pai, primeiro, a Lourenço Martins da Praça, um dos honrados Cidadãos da cidade de Lisboa e, depois, a Dom Nuno Freire de Andrade, Mestre da Cavalaria da Ordem de Cristo.