A Rua das Hortas parte do Fundo da Igreja para o lado norte,
numa curva apertada entre o muro do pátio da casa que foi do Pote Serrano e
onde, em 1952, o João Pereira começou a fazer barbearia e a casa do Machado, antiga
e bela casa de alpendre, semelhante à casa de José Ribeiro, situada em frente,
do outro lado do largo e, talvez, contemporânea dela.
Quando tratarmos da Rua de Traz havemos de voltar a falar desta casa do Machado onde, naquele tempo vivia, de empréstimo, a minha tia Papoila, irmã mais velha do meu pai, com o seu marido João Coelho, dito João Felismino e os três filhos. Gente pobre. Também de juízo.
Quando tratarmos da Rua de Traz havemos de voltar a falar desta casa do Machado onde, naquele tempo vivia, de empréstimo, a minha tia Papoila, irmã mais velha do meu pai, com o seu marido João Coelho, dito João Felismino e os três filhos. Gente pobre. Também de juízo.
Em pleno fundo da Igreja e ao lado da casa do Pote Serrano
havia de, pouco depois (a pedra da era indica 1952 como data de construção) ser construída a casa da sua neta, casada com o dito João
Pereira, ele vindo da Ataíja de Baixo, filho de Francisca Crispa, de quem me
lembro por ser a proprietária do único porco barrasco que havia por estas
bandas.
Quando a porca aluava lá iam, o animal e duas pessoas, pela Rua
dos Arneiros, até à Figueira Pedral e ao Casal de Ordem, tomando o caminho da
Lagoa Cova e virando depois à direita até à casa da Francisca Crispa.
À frente do animal ia um adulto ou adolescente com uma saca de milho que agitava a espaços, chamando a porca. Tiá! Tiá! Qnina!
A fechar o cortejo, um adulto com uma verdasca providenciava que o animal não voltasse para trás, não saísse do caminho, ou não se esquecesse de andar.
Se tudo corresse bem, a porca havia de emprenhar e parir uma bela ninhada que, criada até aos dois meses e vendida, havia de ser um excelente complemento do rendimento familiar.
À frente do animal ia um adulto ou adolescente com uma saca de milho que agitava a espaços, chamando a porca. Tiá! Tiá! Qnina!
A fechar o cortejo, um adulto com uma verdasca providenciava que o animal não voltasse para trás, não saísse do caminho, ou não se esquecesse de andar.
Se tudo corresse bem, a porca havia de emprenhar e parir uma bela ninhada que, criada até aos dois meses e vendida, havia de ser um excelente complemento do rendimento familiar.
Voltando à Rua das Hortas, à casa do Pote Serrano seguia-se e
segue-se e ainda é habitada, a casa dos Veríssimo, onde então moravam a viúva
Maria Ribeiro e os filhos Joaquina e João.
Trata-se de uma rara casa de dois pisos que vem do Século XVIII, mas que sucessivas intervenções descaracterizaram por completo, não existindo hoje sinais evidentes da sua antiguidade.
Trata-se de uma rara casa de dois pisos que vem do Século XVIII, mas que sucessivas intervenções descaracterizaram por completo, não existindo hoje sinais evidentes da sua antiguidade.
Seguia-se a casa de João Salgueiro, onde agora está a de uma
neta e, logo, a Azinhaga do Jogo, então uma mera serventia agrícola, no início
da qual Francisco Salgueiro tinha erguido, em 1939, a casa onde vivia com a
mulher Joaquina “da Serra” e os três filhos.
Esta Azinhaga, hoje Rua do Jogo, chama-se assim por,
contava-me a minha avó, no Século XIX aí haver um baldio onde aos domingos,
jogavam a péla.
Voltando. Um pouco à frente, do lado poente e ostentando
ainda a pedra da Era que nos indica que foi construída, ou reconstruída, nos
anos de 1940, a casa de José Gomes Machado, que foi conhecido por José Faxia e,
de seguida, o que naquele tempo já eram arrumos de José Bernardo, e foram
pertença de uns Almeida, gente de fora que por aqui foram proprietários de
olivais. Aqui funcionou antes um lagar de azeite, o lagar do José de Horta.
Em frente, a casa que foi de José Bernardo que aí viveu com
a sua mulher e filhos. A casa está hoje recuperada com gosto e nela habita a
família de um neto.
Seguia-se a casa, também construída ou reconstruída nos anos
de 1940, onde viveram Francisco Rosa, a mulher Umbelina e os filhos e hoje se
encontra fechada e sem uso e, logo, do outro lado do caminho, a casa, dentro de
um pátio, onde José Dias, recentemente falecido e irmão mais velho do Francisco,
viveu com a sua mulher Joaquina Cordeiro Ribeiro, que todos conhecemos por
Joaquina Maurício e, em frente, a casa, também erguida na década de 1940, do
irmão dela, António Maurício que foi casado com uma Maria da Conceição que foi
de todos conhecida pela curiosa alcunha de Quites.
Voltando ao lado poente da rua, outra casa resguardada
dentro de um pátio, casa ainda hoje habitada, onde vivia a viúva Maria Branca e
a sua filha Joaquina casada com Joaquim Henriques, conhecido por Joaquim Neto.
Virada à Rua, ainda lá está uma notável e hoje rara parede de pedra seca, ou
pedra insonsa como também lhe chamam, quer dizer, tecida sem uso de qualquer
argamassa. Disse-me um dia a ti’ Joaquina Branca que tinha sido mandava fazer
por seu pai, a uns pedreiros que vieram de “traz da serra”.
Por último, uma casa alta que nunca o chegou a ser e então
era, apenas, paredes sem telhado e vãos vazios.
Foi construída por um José Lourenço a quem chamavam o Combasteiro, o qual saiu da aldeia e nunca a acabou. Agora, vi-o há dias, tem telhado e os vãos emparedados.
Foi construída por um José Lourenço a quem chamavam o Combasteiro, o qual saiu da aldeia e nunca a acabou. Agora, vi-o há dias, tem telhado e os vãos emparedados.
Quem continuar para norte pode encontrar, à esquerda, a Pia
da Senhora e, ao chegar perto do IC9 que agora corta o caminho, virar à direita
e chegar à Rua de Traz do Muro, ou virar à esquerda e, caminhando pela Estrada
do Diamantino, agora irreconhecível, chegar à Rua das Seixeiras e ao viaduto
que liga aos Casais de Santa Teresa.
Tudo visto, em 1950 havia na Rua das Hortas (ou nas Hortas) nove
casas habitadas e cerca de trinta moradores.
Parede de pedra seca