quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Piões


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Numa região caracterizada pela absoluta falta de água superficial, como era o caso da Ataíja de Cima e de todas as aldeias da Borda da Serra, desde as Pedreiras até à Venda das Raparigas, o acesso ao precioso líquido exigia que, no tempo das chuvas, se procedesse ao seu armazenamento em cisternas ou lagos artificiais, bem como o aproveitamento de toda a que se acumulava em depressões naturais.

Assim, todos os locais onde era possível reter alguma água adquiriam uma importância decisiva na vida daqueles povos e tinham de ser, claramente, identificados.

A microtoponímia ataíjense é, disso, evidente reflexo:
Ele há as Barreirinhas, nos Arneiros, já perto da Figueira Pedral. O Canto do Barreiro, às Hortas, no caminho que vai de junto da casa que foi de José Bernardo, na direcção da Serra e o Barreirão, já na Ataíja de Baixo, onde havia um lagar de azeite que a esse barreirão ía buscar a água indispensável à laboração das azeitonas.
Em todos estes casos, são os solos barrentos, impermeáveis, que permitem conservar alguma água em depressões do terreno.

Quando atingiam dimensões e capacidade de armazenamento apreciáveis, permitindo o seu uso comunitário, passavam a chamar-se lagoas: a lagoa Ruiva, na Ataíja de Cima que era a maior de todas e a lagoa de Ferro, na Ataíja de Baixo, ambas entulhadas e, também na Ataíja de Baixo, a Lagoa Cova que ainda lá está e valeria a pena recuperar.
E havia as Lagoínhas (lagoas pequenas), a que se acedia pela Rua das Covas mas, hoje em dia, também já não retêm água.

E, os pocinhos (poços pequenos), do qual o mais conhecido é o Pocinho dos Casais, responsável pela grande mancha de verde que se vê em plena encosta da serra, em forte contraste com a secura envolvente.

As pias também eram topónimo, como encontrei numa escritura de 1867, relativa à compra de “um olival às pias” mas, cuja localização não pude confirmar.

Chegamos, finalmente, ao título deste texto.

Piões que nada têm a ver com brinquedos de crianças.

Piões, na Ataíja de Cima, eram pias naturais (pião como aumentativo de pia – pia grande), concavidades abertas, pela dissolução do calcário, na superfície das rochas, nas quais se acumulava água que era usada pelos pastores.

É por isso que temos um Vale Pião, um dos vales que se abrem desde o cume da serra dos Candeeiros e cujo nome se deve à existência de piões, onde pastores e animais podiam matar a sede.

Um dos blocos de pedra existentes no pequeno museu do cabouqueiro, junto à Casa do Monge Lagareiro, ilustra bem o que é um pião (a cavidade em primeiro plano está cheia de água):





terça-feira, 7 de agosto de 2012

Vaqueiros


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Uma das soluções a que, durante toda a primeira metade do Séc. XX, os ataijenses recorreram, para fugir às agruras e carências da vida local, foi a emigração para a região de Lisboa, para tratar de vacas leiteiras.
Do que alguns fizeram profissão onde se mantiveram longos anos.

Entre muitos outros, seguiram esse caminho os irmãos João e Manuel Luís de Sousa (Ver Aqui), Porfírio Coelho e o irmão José Coelho (Ver Aqui), Francisco Jorge (ainda vivo e de quem me lembro, há muitos anos, como responsável de uma grande vacaria que então existia na Quinta do Carmo, em Sacavém, mesmo colada à Portela) e, episodicamente, muito jovem, João Rosa Dias (Janita).

Não que a vida de vaqueiro fosse uma boa vida, que o não era, desde logo por ser um trabalho sem folgas, sem domingos ou feriados. Os animais comem todos os dias e todos os dias as vacas tinham de ser tratadas e mungidas.

Mas, se todos os dias se trabalhava, todos os dias se ganhava alguma coisa. Isso fazia a diferença já que, na Ataíja daquele tempo, não havia trabalho, não havia onde se ganhasse um tostão, salvo na época da azeitona e pouco mais.

Sobre as condições em que esse trabalho de vaqueiro se realizava, é bem elucidativa a fotografia seguinte.



Nela vemos Porfírio Coelho, ainda jovem (a fotografia é, talvez, dos anos de 1930 ou inícios de 1940), numa dessas quintas dos arredores de Lisboa, descalço, camisa e calças arregaçadas, estas de cós largo, onde se enrola uma cinta. Junto à porta da vacaria, a bilha de boca larga, afunilada, para onde se mungia.

A cena é crua, como num filme neo-realista e, à evidente pobreza do vaqueiro, alia-se a decadência do cenário, quase ruínas, apenas contrapontada pela presença dos fios telefónicos, por onde, imagina-se, passará algum progresso, no entanto, muito longe e muito acima do protagonista.

Porfírio Coelho foi por muitos anos vaqueiro (a isso o obrigava as necessidades da vasta família que chegou aos sete filhos - de dois casamentos - e um enteado), trabalhando, segundo a memória familiar “em casa de uns Condes”, até 1948, quando teve de regressar definitivamente, por ter adoecido “dos pulmões”.

Esse regresso à aldeia, quando a filha mais velha tinha apenas 13 anos e o mais novo ainda estava para nascer, teve como consequência inevitável o prolongamento da pobreza, de que o Porfírio nunca se conseguiu livrar.

Apesar dessa pobreza, a casa do ti’ Porfírio foi uma casa onde, sempre, me senti bem e onde gostava muito de estar: Uma chuva de primos para brincar, um tio e uma tia sempre tolerantes com as crianças e … carapaus secos dentro de um crivo.
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quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Festival das Sopas 2012


O Salão Cultural Ataíjense já está a preparar o Festival das Sopas, 2012:



“Caros Ataíjenses e amigos da Ataíja de Cima!

É com grande prazer que o Salão Cultural Ataíjense vos convida para o FESTIVAL DAS SOPAS 2012!
O evento terá lugar como sempre nos jardins circundantes ao campo de futebol da Ataíja de Cima, este ano será dia 23 de Setembro de 2012.

Teremos disponíveis 15 sopas diferentes, que serão acompanhadas dos habituais grelhados na brasa e bebidas à descrição durante a hora de almoço! 

Sobremesas serão um complemento à parte!
O bar estará aberto ao publico a partir das 15:00 horas!

PREÇÁRIO:
- Adultos: €11.00 (incluí almoço, taça de barro e t-shirt do evento)
- Crianças dos 6 aos 12 anos: €6.00 (incluí almoço, taça de barro e t-shirt do evento)
- Crianças dos 0 aos 6 anos: não pagam, (incluí almoço, taça de barro) se pretender t-shirt do evento o pagamento é de €5.00)

Claro que como em anos anteriores as sobras do almoço serão complemento de convivo durante toda a tarde!

Desde ja agradece-mos a presença de todos os interessados!

A ficha de inscrição esta disponível nas instalações do SCA ou pelo email do SCA scataijense@hotmail.com.”

FESTIVAL DAS SOPAS

ATAÍJA DE CIMA

23 de SETEMBRO de 2012