terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A Corografia Portugueza


Uma descrição de Portugal do final do Séc. XVII.


Aqueles que se interessam pelas questões da história local têm, obrigatoriamente, de consultar um conjunto de publicações de referência, das quais uma é, inquestionavelmente, a famosa “Corografia Portugueza, e Descriçam Topográfica do Famoso Reyno de Portugal, com as notícias das fundações das Cidades, Villas & Lugares, que contèm; Varões illustres, Genealogias das Famílias nobres, fundações de Conventos, Catalogos dos Bispos, antiguidades, maravilhas da natureza, edifícios, & outra curiosas observações.”, da autoria do Padre António Carvalho Costa, publicada em três volumes, entre os anos de 1706 e 1712.

Mais citada do que estudada, a obra encontra-se, hoje em dia, disponível numa excelente edição de 2006, fac-símile (reprodução do original), promovida pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Católica Portuguesa (Braga) e pela editora Alcalá, no entanto, de preço proibitivo.
São, de há muito, conhecidos os defeitos da obra: omissões, limitações, erros. Mas a empresa era grandiosa e o resultado foi, apesar dessas omissões, limitações e erros, monumental.

No que respeita ao objecto deste blog, seja, ao estudo das coisas ataíjenses, nada de novo ou útil (salvo, talvez, a população de Aljubarrota que computa em quatrocentos e cinquenta vizinhos) se consegue alcançar nesta Corografia que apenas contém um breve capítulo dedicado às vilas de Aljubarrota e Alpedriz exemplar, aliás, pelo menos no que diz respeito a Aljubarrota, das insuficiências da obra.
De facto, o que se diz é curto, pobre e com erros: fora da vila apenas se refere a existência de quatro capelas ou ermidas: Santo Amaro que diz ser no Carrascal, fazendo confusão com Carvalhal; São Romão que diz ser no Carvalhal quando é na Lameira (que, cerca de cinquenta anos antes, o Couseiro dá como lugar ermo); São Brás, em Chiqueda que, tal como, aliás, no Couseiro, é aqui chamada de Poços de Suão.
Note-se, finalmente que todas as ermidas referidas são da freguesia de Nossa Senhora dos Prazeres, omitindo-se todas as então já existentes na freguesia de São Vicente e referidas no Couseiro.



Podemos, pois, dizer que a leitura da "Corografia Portugueza" do P. Carvalho Costa, é inútil para a compreensão da Ataíja de Cima, 
Assim é. Mas é preciso conhecê-la para se poder afirmá-lo.

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domingo, 19 de fevereiro de 2012

A Casa do Monge Lagareiro - III


O Lagar dos Frades da Ataíja de Cima


Nos textos aqui publicados anteriormente sobre a Casa do Monge Lagareiro, da Ataíja de Cima, (Ver AQUI  e AQUI),  procurámos sintetizar o conhecimento actual sobre o monumento e desfizemos um erro que vinha sendo sistemática e acriticamente repetido, o de que a fachada principal seria dominada por “um janelão cego”, demonstrando que tal janelão nunca existiu ou, melhor, nunca passou de uma mera decoração feita em reboco.
Sobre este falso janelão, aliás, bom seria que os conhecedores da arquitectura setecentista – área em que não possuo quaisquer qualificações – observassem o estado actual do monumento, com vista ao esclarecimento da interessante questão de saber se tal era solução corrente na época ou, se se trata de uma curiosidade rara, como me parece que se trata, já que não tenho conhecimento de outros casos semelhantes.
Acresce que a solução adoptada para “fingir” o dito janelão, é de grande qualidade de execução técnica, de tal modo que, durante cerca de 250 anos, foi capaz de iludir todos os estudiosos e leigos que a contemplaram, todos eles convencidos de que se tratava da moldura de pedra de um janelão entaipado.
Esse equívoco está hoje sanado e, na sequência de uma intervenção e apresentação de provas fotográficas que fizemos junto do IGESPAR, no site deste instituto já não se fala, como antes, num “janelão cego” dizendo-se, apenas, que “Ao centro, uma molduração integra a pedra de armas de Alcobaça” (ver: http://www.igespar.pt/pt/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/detail/74418/)
No entanto, idêntica actualização não foi, ainda, feita no SIPA – Sistema de Informação para o Património Arquitectónico, onde, em: http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3336, continua a referir-se a existência de um “janelão cego, de moldura recortada”.

Um outro aspecto deste monumento que interessaria ser objecto de estudo é que, de facto, nada na literatura nos elucida sobre como realmente ele seria aquando de sua construção e pleno funcionamento.
É preciso notar, em primeiro lugar que, da escassa literatura que se refere ao lagar dos frades da Ataíja de Cima, apenas J. Vieira Natividade, (v. As Granjas do Mosteiro de Alcobaça, in Obras Várias, II), declara tê-lo visto em funcionamento, cerca de 1915, e faz uma breve descrição das instalações, descrição essa, no entanto, insuficiente para com base nela se tentar reconstituir a respectiva planta.
Curiosamente o texto, publicado inicialmente, em 1944, no Boletim da Província da Estremadura, refere-se a dois dos compartimentos do lagar indicando as respectivas dimensões (o das prensas, com 21,80mx11,10m e o dos moinhos com 35,50mx9,50m), com uma minúcia que indicia terem, tais medições, sido feitas com cuidado e rigor. Como, de seguida, diz que as dependências do lagar já não existem (em 1944), isso significa que aquelas medidas foram tomadas anteriormente.
Talvez, na época em que viu o lagar em funcionamento (em 1915, JVN tinha 16 anos de idade), certamente acompanhando o pai nas suas explorações.

Sendo de admitir que as medidas foram, como é normal, tomadas sobre um esboço (que ainda existiria em 1944), deve admitir-se a possibilidade de, entre os papéis de J. Vieira Natividade, ainda poder vir a encontrar-se uma "planta" do lagar dos frades de Ataíja de Cima.

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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Cruzeiros



Cruzeiro s.m. Cruz grande, de pedra, ao ar livre.


 Existem actualmente, na Ataíja de Cima, três cruzeiros:
Um no adro da capela de Nossa Senhora da Graça, reconstruído já no Séc. XXI, após a destruição (ocorrida no final dos anos oitenta, quando foram demolidas a escola e o palheiro do Mira), de um semelhante ali existente e que se situava, então, no meio do Adro, tendo-se aproveitado o fuste.

Outro, na serra, ao cimo da Serventia (coordenadas GPS N 39 32.573 W 8 52.990).
Este tem na coluna a seguinte inscrição: 

N. S.
DA
GRAÇA
ABENÇOAI
OS
OLIVAIS
2-2-1949

 e foi mandado edificar pela comissão de festas desse ano, de que foi juiz o meu pai, João Lourenço Quitério.
Até aqui se desloca a procissão, no dia da festa de N. S. da Graça, em 2 de Fevereiro (realiza-se, actualmente, no Domingo seguinte àquela data) para se proceder à cerimónia da bênção dos campos.
Esta procissão parava, no regresso, junto da lagoa ruiva que era, igualmente, abençoada.

Um terceiro cruzeiro existe junto do Largo do Outeiro.
Era local de paragem dos cortejos de enterro e conhecido, por isso, como o Cruzeiro das Almas. 
O anteriormente existente, uns metros mais a nascente, foi derrubado nos anos de mil novecentos e oitenta e o actual foi erguido em 2008.

Houve, ainda, um quarto cruzeiro, no caminho dos Murtais (Rua da Ponte), junto à ponte sobre a ribeira do Mogo, do lado esquerdo do caminho e na margem direita da "rigueira", cravado na parede da propriedade confinante, o Olival da Ponte que foi de José Ribeiro.
Esta ponte era, apenas, uma grande lage, com menos de um metro de largura, permitindo somente a passagem de peões e animais. Os carros, esses, passavam ao lado, a vau.
Lembro-me de, nessa zona, na pequena subida em direcção aos Murtais, em invernos rigorosos, rebentarem, em pleno caminho, abundantes olhos de água.
Este cruzeiro era, igualmente, ponto de paragem dos cortejos funerários.
Entrou em desuso quando este antigo caminho para Aljubarrota foi substituído pelo actual (EM 553) e, quando eu era pequeno, dele já só sobrava a coluna, entretanto desaparecida.

O cruzeiro da serra - foto de 5-2-2011

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