segunda-feira, 29 de julho de 2013

FESTIVAL DAS SOPAS 2013

Dia 15 de Setembro de 2013,

FESTIVAL DAS SOPAS 2013

Eu vou!



E, se chover?

Se chover, vamos para o Salão Cultural Ataíjense, como fizemos em 2012:


Saiba mais sobre o Festival das Sopas 2013 e faça a sua inscrição em:

https://www.facebook.com/events/477175132366456/

Ou no Salão Cultural Ataijense

https://www.facebook.com/SalaoCulturalAtaijense?fref=ts

Pode, também, pesquisar neste blog por "Festival das Sopas", para ficar a saber mais sobre como foi o Festival das Sopas da Ataíja de Cima em 2010, 2011 e 2012.


quinta-feira, 25 de julho de 2013

O meu trisavô João Cláudio


Aos serões, a minha avó contava-me histórias.

Como a daquele seu avô que, integrado nos exércitos luso-britânicos, tinha combatido a 3ª Invasão Francesa, perseguindo Massena e as suas tropas até cerca dos Pirinéus.

Na verdade, a minha avó era analfabeta e não sabia se era ou não a 3ª Invasão Francesa, muito menos, quem foi Massena ou onde eram os Pirinéus. O que ela sabia, de ouvir contar e era isso que me contava, eram os terríveis sofrimentos que à Ataíja foram impostos pelas Invasões:
As talhas rompidas e o azeite correndo em rios pelas ruas. O vinho roubado e bebido sem medida, tornando ainda mais selvagens os invasores. O milho que havia de servir para fazer o pão e o trigo de pagar os foros, arrombadas as arcas e dado a comer aos cavalos. Tudo o que era de comer, destruído ou roubado. Violações. Assassinatos por motivos fúteis. Jovens donzelas tentando proteger a sua honra, mulheres feitas e homens de família escondidos nos matos como bichos tentando escapar à fúria francesa.

Talvez por isso, a memória do meu trisavô soldado pairava na velha casa e a sua coragem acompanhava-me e protegia-me nos pesadelos que, em longas noites de Inverno, me perseguiam mascarados de soldados franceses.

Contava a minha avó que o tal avô (tinha ela dois anos quando ele faleceu), sendo então muito velho, era vítima da chacota dos jovens e de indefinidas ameaças, às quais respondia com recordações dos tempos de juventude:
- “Diz-lhe, homem, que eu fui atrás dos franceses até Montevideu”.
Com o que ganhou a estranha alcunha de “Diz-lhe homem!”.

Nas minhas lembranças daqueles serões, a frase exacta do velho soldado era essa: "Diz-lhe homem! Que eu fui atrás dos franceses até Montevideu”. Era com tal frase que o meu trisavô invectivava garotos e outros malandros e, nessas lembranças, chamava-se esse meu antepassado João Pereira Cláudio, nome que julgo ter ouvido centenas de vezes, por diariamente ser invocado na lista de beneficiários das orações da noite.

Mas, talvez (quase de certeza) a memória me traia.

Aliás, na minha vida, não me lembro de jamais ter conhecido alguém que usasse o apelido Cláudio. Apenas, me lembro de que a minha avó e algumas outras pessoas do seu tempo, se referiam a António Agostinho, (que foi conhecido pela alcunha de Russo), chamando-lhe António Cláudio.
Nas minhas buscas não encontrei documento que falasse num João Pereira Cláudio mas, já tinha encontrado um António Maria Cláudio e, agora, encontrei um João Maria Cláudio, um João Maria de Souza Cláudio e um João de Souza que julgo serem uma única e a mesma pessoa.

Parece-me bem que este João Maria de Souza Cláudio é o tal antepassado, o “Diz-lhe homem!”

De facto, tendo falecido em 10 de Novembro de 1884, com a bonita idade de 95 anos, significa isso que terá nascido em 1789 (o ano em que se iniciou a Revolução Francesa e teve lugar a Tomada da Bastilha) e, portanto, tinha 18 anos quando D. João VI mudou a Corte para o Brasil, deixando o caminho aberto para a 1ª Invasão Francesa (Junot) e 23 ou 24 anos quando, na contra-ofensiva que se seguiu à 3ª Invasão, perseguiu os exércitos franceses através de Espanha.
Acresce que, como consta do assento de óbito, tinha essa extraordinária profissão (ao menos para ataijense) de soldado reformado.

Ah! E, claro, era exposto da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.






quinta-feira, 18 de julho de 2013

Padres e casamentos na Ataíja de Cima, há duzentos anos


Os meus bisavós, os meus avós e os meus pais, casaram-se na Igreja Paroquial de São Vicente de Aljubarrota e, assim, fazia toda a gente, pelo menos até aos anos sessenta do séc. passado, quando se tornou moda fazerem-se os casamentos na Capela de Nossa Senhora da Graça.
Assim foi com as minhas irmãs, o meu primo João Sapatada (como já AQUI referimos) e muitos outros.
Mas, essa moda terá durado pouco mais de vinte anos e, agora, os casamentos fazem-se nos mais diversos lugares, ao gosto dos noivos e da localização da “quinta” onde terá lugar a festa.

Foi, assim, uma grande e agradável surpresa descobrir que, também há cerca de duzentos anos, foi moda os ataijenses casarem-se na sua capela e, (uma surpresa nunca vem só), algumas vezes em casamento celebrado por um padre “da dita Ataíja”.

Eis um casamento celebrado em 29 de Janeiro de 1803:


Ataija de
Sima =
Luis Maxado
Com
Luiza Coelha
Gomes
Aos vinte enove dias domêz de Janeiro de mil outo centos e três anos, por despaxo do Senhor Doutor Provizor deste Bispado, na Capella da Senhora da Graça da Ataija de Sima desta Freguezia de S. Vicente de Aljubarrota de minha Licença dada in scriptis o Rdº Pe João Gomes da dita Ataija ajuntou ao Sacramento do Matrimónio a Luis Maxado filho de Manoel Maxado e de sua mulher Maria Vicente naturais e moradores na dita Ataija, com Luiza Coelha Gomes filha de Christovão Francisco e de sua mulher Umbelina Gomes naturais e moradores todos na dita Ataija de Sima, onde estes contrahentes ficão moradores, forão testemunhas deste Matrimónio Joze Bernardino e o Pe Coadjutor Joze Joaquim Leitão desta dita Villa eoutras mais Pessoas que prezentes estavão de que fiz este assento, que assinei com as ditas testemunhas dia e era ut supra
O Cura Thomaz de Aquino da Costa
Joze Joaquim Leitão
Joze Bernardino

É certo que o mais divertido, nestas buscas pelo passado ataijense, é encontrar coisas que não procurávamos, nem podíamos procurar, pois nem sequer sonhávamos que pudessem existir.
Mas, quem seria este Reverendo João Gomes?

O mistério é tanto maior quanto, nas buscas que fizemos dos casamentos realizados na freguesia entre 1803 e 1826, o nome não voltou a aparecer-nos.
Em contrapartida, em cerca de uma dúzia de casamentos celebrados, nesse período, na Capela de Nossa Senhora da Graça surge-nos, em pelo menos sete casos, um padre Joaquim de Souza “da dita Ataíja de Sima” que, em 29.10.1820 é dado como Cura da freguesia de Santo António do Arrimal.

Este Padre Joaquim de Souza, celebrou, no dia 4 de Fevereiro de 1815, os casamentos de António Cordeiro com Anna Coelha e o de Joaquim Heitor com Francisca Coelha.

Dois casamentos no mesmo dia, na Capela de Nossa Senhora da Graça da Ataíja de Cima e realizados por um padre ataijense?.

Parece-me bem que nunca mais voltou a acontecer.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Compadres



Analisando os registos paroquiais do final do Séc. XIX e inícios do Séc. XX (entre 1881 e 1910), verificámos que, de 160 nascimentos ocorridos na Ataíja de Cima, em 48 deles, (30%), um dos progenitores era natural de fora da aldeia.
Significa isto, a nosso ver que, apesar do isolamento a que toda a borda da serra estava sujeito, existia uma mobilidade bastante significativa que, aliás, deu origem a consórcios matrimoniais com pessoas oriundas dos mais desvairados lugares. Lisboa, claro, mas isso é absolutamente razoável já que, sendo Lisboa um local óbvio de emigração, é normal que daí tenham resultado relações amorosas. Mas, também, por exemplo, Moita dos Ferreiros, no concelho da Lourinhã ou, Asseiceira, Tomar.

O que não encontramos foi relações conjugais entre a aldeia e a vila de Alcobaça.

Isso parece confirmar que as relações entre a pequena burguesia alcobacense e os camponeses do leste do concelho, (a quem aqueles, depreciativamente, chamavam serranos), raramente ultrapassavam os aspectos formais inerentes às necessárias trocas comerciais ou ao cumprimento de alguma burocracia.

Ainda era assim há poucas dezenas de anos

Excepções encontrei, até agora, duas. De facto, em pelo menos dois casos, elementos da burguesia alcobacense associaram-se, por compadrio, a famílias ataijenses.

Temos, assim que em 1902, Alfredo, um dos filhos do ataíjense Matias Ângelo teve por padrinho o Tabelião (notário) Alfredo Augusto Jacobety.
Mas, Matias Ângelo não era um ataíjense qualquer. Era o mais rico de todos e, alguns anos depois, viria mesmo a adquirir a um ilustre membro da burguesia alcobacense de então (Olímpio Trindade Jorge,) o Olival do Santíssimo.

Desconhecidas, para mim, são as razões que terão levado António Lúcio Taveira Pinto, merceeiro em Alcobaça a aceitar ser, em 3 de Agosto de 1881, o padrinho de Maria, filha do casal de proprietários ataíjenses João Coelho e Maria de Sousa (ela natural dos Casais de Santa Teresa).

Este António Lúcio Taveira Pinto era um homem rico e, mais do que isso, com ambições sociais, como se deduz do facto de ter enviado o seu filho Aquiles a estudar em Coimbra.

É o que se vê do “Annuario da Universidade de Coimbra / Anno Lectivo de 1891-1892 / Coimbra / Imprensa da Universidade / 1892”, onde se pode confirmar que, naquele ano, eram os seguintes os únicos cinco estudantes de Alcobaça em Coimbra:

- António do Prado de Sousa Lacerda, filho de Duarte de Sousa Lacerda Prado, natural de Aljubarrota.
- José da Silveira Brandão Freire Themudo, filho de José Fortunato da Silveira Freire Themudo de Vera, natural de Alcobaça.
- António de Sousa Neves, filho de Francisco de Sousa Neves, natural de Alcobaça.
- Joaquim Mathias Silvério, filho de Mathias Silvério, natural da Praia da Nazareth (que, então, ainda não era concelho, fazia parte do concelho de Alcobaça).
- Achiles Taveira Pinto, filho de António Lúcio Taveira Pinto, natural de Alcobaça

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Nossa Senhora da Graça

Em ponto de cruz



Rendas, bordados e outros trabalhos de agulha, os chamados lavores são, tradicionalmente uma das mais vulgares formas de ocupação dos tempos livres femininos.
No ensino de antes do 25 de Abril era ministrado exclusivamente às meninas, pelo que (dano colateral da revolução), a luta pela igualdade de direitos entre os sexos retirou as agulhas e os têxteis da escola.
(sobre este assunto veja-se Pomar, Rosa, lavores femininos, A Ervilha Cor-de-Rosa, http://aervilhacorderosa.com/2012/04/lavores-femininos/, consultado em 4-7-2013)

Apesar disso, muitas jovens aprenderam, com outras mulheres da família, a costurar, a fazer rendas ou a bordar.

É o caso da Anabela Matias que sabendo e gostando de bordar em ponto de cruz, se decidiu a bordar o belíssimo quadro que acima se reproduz e representa uma cópia fiel da imagem de Nossa Senhora da Graça, padroeira da Ataíja de Cima.


O quadro tem as dimensões aproximadas de 40x60cm e demorou mais de 300 horas a bordar.
É baseado numa foto da imagem existente na capela, tirada já com o propósito de ser enviada a um editor especializado para a ampliar, criar o gráfico e definir as cores, de modo a poder ser reproduzida em ponto de cruz.