sexta-feira, 31 de maio de 2013

Antero - O último dos expostos criados na Ataíja de Cima



A consulta às fichas que constituem o Registo de Amas por Concelho (1851-1935), da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), a que já antes nos referimos (VER AQUI), dá-nos conta de uma criança que em 1879 foi entregue a uma ama ataíjense e foi, ao que parece, o último dos enjeitados a ser criado na Ataíja de Cima.

Consultando o respectivo Livro de Matrícula (Livro de Matrícula de Varões, n.º 148, fls 111, Anno 1879, Nº 45) ficamos a saber que:
Uma criança do sexo masculino, entrou na SCML em 23 de Outubro de 1879, foi baptizado com o nome de Antero, e no dia seguinte, 24, foi entregue a Maria Custódia, casada com Manuel Joaquim, moradora no lugar de Ataíja de Cima, freguesia de São Vicente de Aljubarrota, concelho de Alcobaça a quem, nesse dia, foi arbitrado o vencimento de 1$800 réis mensais, pelo período de 12 meses e, ainda, a quantia de 2$000 réis, a título de auxílio para as despesas da jornada.

A ama terá desempenhado o seu encargo a contento, pelo que, decorrido o 1º ano, lhe foi renovado por mais 24 meses, agora com o vencimento de 1$000 réis por mês.
E, a contar de 24 de Outubro de 1882, por mais 36 meses, agora a $800 réis mensais.
Em 24 de Outubro de 1886, a criança tem seis anos de idade e, de novo, o contrato entre a ama e a SCML é renovado, agora por 48 meses, à razão de $500 réis por mês.

Lº 22 V fls107v

É esta a última anotação de matrícula do Antero.

A criança tem agora dez anos, é suposto ser autossustentável pelo seu trabalho e, como de costume, vão cessar os pagamentos à ama.
Mas, por ser menor, continua a carecer de tutela e, por isso, a SCML entregá-la-á a quem se encarregar de a vestir, alimentar e educar.
O termo de entrega é lavrado num livro próprio, o chamado Livro de Vestir, onde se registam “os expostos dados a servir sem soldada”, como se diz em alguns termos de abertura desses livros.

Vamos, então, ao Livro de Vestir, n.º 22 e, a folhas 107 verso, lá encontramos o auto pelo qual, a 21 de Janeiro de 1890, o Exposto Antero foi entregue a Maria Custódia, mulher de Manuel Joaquim, moradora no lugar de Ataíja de Cima, …… pelo tempo de 5 anos.

Até agora, o Antero teve sorte.
Chegado aos dez anos de idade, criado sempre pela mesma família, há-de sentir-se membro dela e o mesmo pensarão a ama, o seu marido e os seus filhos já que quiseram continuar com ele.

Aos quinze anos, de novo, haverá lugar a decisão sobre o destino do enjeitado.
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domingo, 26 de maio de 2013

A Debulhadeira do Pirata - II

As Fotos

Não há certezas sobre a data exacta das fotografias que se seguem. Talvez sejam de 1993, ou de um ano antes, ou depois.
Certo é que por estes anos se deu uma segunda, efémera e última ( ao menos até agora), época de cultura do trigo na Ataíja.
O fim da actividade da debulhadeira do Pirata foi, também, o fim da cultura do trigo na nossa terra.

Que o mundo estava a mudar vê-se bem do facto de não existirem animais em nenhuma das fotos seguintes.
Agora, ao contrário do que aconteceu durante séculos, já não há juntas de vacas com os seus carros a transportar o trigo e tudo é feito com tractores e seus respectivos reboques.
Essa é, seguramente, a mudança mais importante. Não o facto de se ter deixado de cultivar o trigo, já que as terras ataijenses nunca tiveram grande aptidão para o cereal que, tradicionalmente, era cultivado para pagar foros, destinando-se o sobrante – se sobrava – a fazer pão que se comia em raros dias de festas. Nos restantes dias, apenas se comia pão de milho.



Nesta primeira foto vê-se a correia que, a partir da tomada de força do tractor, acciona todo o sistema e quatro dos homens necessários ao funcionamento da debulhadora:
Sobre a debulhadora, o homem de camisa negra tem por função cortar o atilho do molho do trigo.
O segundo homem sobre a máquina é o aumentador. A sua função é “enfiar” o trigo na tremonha, garantindo um regular e adequado abastecimento do sistema de debulha.
À direita da imagem, o homem que suporta um molho de trigo numa forquilha sobre a cabeça, para o colocar na debulhadora, não faz parte da equipa de debulha. É o proprietário do trigo a debulhar ou um seu familiar. É ao dono do trigo que compete colocá-lo sobre a debulhadora.
Finalmente, sob a correia motora, vê-se o saqueiro. É a ele que compete medir, ou pesar e ensacar o trigo debulhado e, consequentemente, apurar a maquia que cabe ao proprietário da debulhadora. Desempenha, por isso, um papel de grande importância e é, geralmente, o encarregado, responsável por todo o sistema: 



Enquanto o trigo limpo sai por um dos lado da debulhadora, pelo lado oposto sai a palha que, elevada pelo tapete rolante, vai cair junto do homem que vemos sobre uma plataforma anexa à enfardadeira. É o aumentador da enfardadeira, cujo trabalho é o de encaminhar, nas quantidades e com a regularidade certas, a palha para a tremonha, de onde cairá no leito onde vai ser feito o fardo: 



Aproveitando os primeiros fardos fabricados, constrói-se ao redor da enfardadeira uma espécie de tenda, onde os arameiros podem fazer o seu trabalho protegidos do sol.
A enfardadeira é como um molde que enforma e onde se vai comprimindo a palha, separando-se os fardos uns dos outros por aquelas peças de madeira (como se chamam, alguém sabe?) que se veem à esquerda da foto e que, entre cada uma das tábuas, possuem ranhuras por onde o arameiro faz passar o arame que ata enquanto o fardo está comprimido: 



Uma paisagem inteiramente mecânica: As juntas de vacas foram substituídas por tractores e seus reboques e carrinhas de caixa aberta:



domingo, 19 de maio de 2013

A debulhadeira do Pirata - I




Em Novembro de 2009, publicamos um post relativo à debulha do trigo que, em meados dos anos setenta (as fotos então publicadas são de 1976), era feita pela debulhadora do Leonídio e tinha lugar na eira que se fazia no Quintal da Rosalia ((VER AQUI).

Entretanto, nos anos seguintes, o desenvolvimento das indústrias locais, quer a da faiança decorativa quer a da extração do vidraço de Ataíja, que absorviam a totalidade da mão-de-obra disponível, levou a uma rápida e acentuada quebra nas quantidades de cereal semeado e, como uma coisa leva a outra, ao desinteresse pela sementeira somou-se o desinteresse do Leonídio pela debulha.
Em resultado do que a debulhadora ficou “encostada” e a falta dela mais desmotivou os eventuais agricultores e a cultura do trigo quase desapareceu, então, da nossa aldeia.

No início dos anos de 1990, o Zé Pirata, comprou ao Leonídio a tal debulhadora que já há vários anos não trabalhava ou, melhor, comprou, por pouco mais de seiscentos contos, todo o sistema de debulha: Debulhadora, enfardadeira, tractor, a bancada para “fazer” os arames que haviam de atar os fardos da palha e todos os demais acessórios necessários ao funcionamento do sistema.

No primeiro ano, o trabalho foi pouco que na época da sementeira os produtores, ou alguns deles, ainda não sabiam que iria haver, de novo, debulhadeira.
Mas, no segundo ano parecia que toda a gente quiz semear trigo e, por isso, houve quem tivesse de esperar mais de cinco dias para ver chegar a sua vez de debulhar.
A partir daí, a quantidade de cereal que chegava à debulhadora começou a diminuir rapidamente, o Pirata resolveu cessar a actividade e a debulhadora foi, de novo e definitivamente, “encostada”.

O Pirata teve alguma dificuldade em livrar-se do que agora, para ele, era apenas sucata. Sucata com muita madeira, demasiada madeira, e um volume enorme. Nenhum sucateiro a queria, senão desmontada ou reduzida a pedaços manuseáveis e transportáveis e liberta da madeira.
  
A solução foi queimá-la no quintal, num dia nevoento de inverno. Com bons resultados, diga-se de passagem:, os sucateiros, finalmente, lá se interessaram pelo ferro que sobrou do fogo e, tudo junto, com a enfardadeira que, essa sim, era quase tudo ferro, ainda rendeu “uma boa maquia”, como por aqui se diz.
O tractor, um velho NUFFIELD de 1967, esse, foi vendido para os lados do Valado, com vista ao aproveitamento do seu motor para mover uma bomba de água.

Por esse tempo (em 1995), também a Metalúrgica Duarte Ferreira, a construtora destas máquinas agrícolas da marca TRAMAGAL (que aliás, há muito tempo – 30 anos - tinha virado as costas à agricultura), chegava ao fim

Foi também por estes anos que chegou ao fim a época das debulhadoras e enfardadeiras fixas.

A debulhadora que havia sido do Leonídio e agora era do Pirata, em plena laboração, na 1ª metade dos anos de 1990. 
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quinta-feira, 16 de maio de 2013

Pequenos cantores




Através do blog uniralcobaça.blogspot.pt, onde o vereador Rogério Raimundo vai dando conta (é o único que o faz) do que se passa nas reuniões da Cãmara Municipal de Alcobaça, tomei conhecimento de que a EB1 da Ataíja de Cima venceu a sua eliminatória no 6º Concurso de Canções do 1º Ciclo do Ensino Básico do Concelho de Alcobaça:

"via Academia de Música de Alcobaça 
Já são conhecidos os primeiros finalistas do 6º Concurso de Canções do 1.º Ciclo do Ensino Básico do Concelho de Alcobaça que arrancou hoje no Cine-Teatro de Alcobaça – João d'Oliva Monteiro: em 1º lugar ficou a EB 1 de Ataíja de Cima, seguida no pódio da EB 1 de Maiorga, enquanto que na 3ª posição ficaram em ex-aequo a EB 1 de Carvalhal de Aljubarrota e a EB1 de Casais de Santa Teresa. Foi este o resultado da eliminatória relativa ao Agrupamento de Escolas de Cister (Alcobaça) que decorreu durante esta manhã com muita alegria e entusiasmo de todas as crianças. Parabéns aos finalistas e a todos os participantes!"

E, como nunca tinha ouvido falar de tal concurso, fui procurar a descobri que:

"A Academia de Música de Alcobaça (AMA) organiza, mais uma vez em parceria com o Município de Alcobaça (numa colaboração que recua até ao ano letivo de 2007/2008), o Concurso de Canções do 1.º Ciclo do Ensino Básico do Concelho de Alcobaça, atividade ambiciosa onde habitualmente participam todos os alunos inscritos nas Atividades de Enriquecimento Curricular de Música e Expressão Musical do 1.º Ciclo dos três Agrupamentos de Escolas (mais de 2000 alunos).

Caminhando para a sua 6ª edição, e sob o tema “Mitos e Lendas”, o Concurso de Canções apresenta na atual edição uma nova imagem e logótipo que reafirma a identidade deste projeto e a promoção dos seus valores de performance musical em palco. As primeiras eliminatórias desta iniciativa iniciam-se no próximo dia 15 de maio, quarta-feira, pelas 10h00, no Cine-Teatro de Alcobaça – João d'Oliva Monteiro, e terminam a 23 de maio no Salão do Quartel dos Bombeiros Voluntários de São Martinho do Porto, pretendendo, mais uma vez, dar a conhecer o trabalho desenvolvido pela AMA no seu dia-a-dia nas áreas da música.

..." 

https://www.facebook.com/events/160214560815301/


Que os pequenos cantores ataíjenses se divirtam e aprendam, são os nossos votos.E, se cantarem bem e ganharem o prémio, tanto melhor!

terça-feira, 14 de maio de 2013

28º Aniversário do Salão Cultural Ataíjense

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A pretexto da passagem do seu 28º aniversário, o salão Cultural Ataíjense realiza no próximo domingo, dia 19 de Maio de 2013, uma  festa que, como tradicionalmente, começará com um peditório pelas ruas da aldeia, seguindo-se, à tarde, a actuação do Rancho Folclórico dos Casais de Santa Teresa.
O serviço de restaurante abre às 19 horas e, das 21H00 até às 24H00 actuarão os RITMO CALIENTE.



quinta-feira, 9 de maio de 2013

Satirião - Menor

Esta semana estava destinada a não ter post.
Uma última vista de olhos a alguns textos a aguardar publicação deu em nada. Precisam, todos esses textos, de mais algum trabalho. Foi por isso que decidi que esta semana não haveria post.
Mas, isso, foi anteontem. Porque ontem, quando caminhava no meu quintal, na Ataíja de Cima, deparei-me com uma flor que não me lembro de ter visto antes.

Fiquei ali, fascinado, a admirar. A flor é linda!


Feita a foto, lancei-me nas buscas para saber do que é que se tratava. Hoje é fácil porque, como diz um amigo meu, o que não está no Google não existe. Logo, aquela flor existia e, portanto, havia de estar no Google. E está.
Trata-se da  Anacamptis Pyramidalis, vulgarmente chamada Satirião-Menor.
Uma orquídea campestre, ao que parece vulgar em Portugal, na faixa costeira ocidental, na zona calcária entre o Sado e o Vouga e, também, no Algarve, cujas flores (dezenas de flores como minúsculas orquídeas) se juntam uma espécie de pinha que, no caso da fotografia, tem cerca de dez centímetros de altura.

Na verdade, sobre o Satirião - Menor, a única coisa que eu sei (e apenas desde ontem) é que a flor é linda. O mais, li agora na internet.
O leitor poderá fazer o mesmo consultando, entre outras, as seguintes páginas da web:

http://orquideasdeportugal.blogspot.pt/2006/01/ver-9-anacamptis-pyramidalis.html
http://insectosaflorir.blogspot.pt/2009/06/satiriao-menor.html
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Anacamptis_pyramidalis_%E2%80%94_Flora_Batava_%E2%80%94_Volume_v14.jpg
http://en.wikipedia.org/wiki/Anacamptis_pyramidalis

Acabo aqui. Acho que está um belo post para o dia da espiga que agora termina.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Uva-de-Cão


Tamus Communis L.

Tamus communis, ou Dioscorea communis, é uma planta cujo nome comum é arrebenta-boi, buganha, baganha, norça-preta, tamo ou uva-de-cão.

Julgo que na nossa região se lhe dá o nome de uva-de-cão.
É uma planta geófita, quer dizer, que permanece subterrânea durante a época desfavorável ao seu crescimento, sob a forma de tubérculo (no caso um tubérculo em forma de cabeça de nabo, de grandes dimensões, com 20cm ou mais de comprimento e de cor negra), renovando os seus caules anualmente.
Os caules são trepadores, herbáceos, retorcidos, chegando aos 4 m de comprimento, delicados e delgados, tenros e sem pelos, com estrias longitudinais, sendo por vezes ramificados.
As folhas são de cor verde-escuro, alternas, lustrosas, sustentadas por pecíolos delgados de 3 a 20 cm de comprimento. Embora, por vezes, tenham forma trilobada, com o lóbulo central lanceolado, as folhas são, em regra, oval-cordiformes (quer dizer, em forma de coração), terminadas em pontas agudas e direitas. O comprimento das folhas chega a 9 cm e a largura chega a 6 cm.
É uma planta dióica, quer dizer, pertence a uma espécie em que os sexos se encontram separados em indivíduos diferentes.
Diz a Wikipédia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Tamus_communis), que floresce de Março a Junho e frutifica no Outono. Os frutos são bagas esféricas (os especialistas preferem dizer globosas, em forma de globo), de cor vermelha, em cacho e são persistentes ao Inverno, após o envelhecimento das folhas.
Os frutos são venenosos, podendo ser mortais. A ingestão das bagas pode provocar intoxicações graves, com intensa irritação das mucosas, dor abdominal, diarreias e vómitos, acompanhados de abatimento, sonolência, calafrios, podendo ocorrer alterações respiratórias e coma.
O sumo das bagas provoca irritação da pele e dermatite de contacto.

Tamus Communis (Discoreaccae) Ilustração no livro, publicado em 1875 pelo Prof. Dr. Otto Wilhelm Thomé ''Flora von Deutschland, Österreich und der Schweiz'' (Flora da Alemanha, Áustria e Suiça).



Os frutos da Uva-de-Cão quase confundem o observador, como se fossem frutos da carrasqueira que a suporta. (foto de 28-04-2013, tomada junto à Ataíja de Cima, numa encosta exposta a ascente, na margem direita da Ribeira do Mogo).



Outra foto da mesma data e da mesma planta.

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