quarta-feira, 4 de maio de 2022

Artistas Ataijenses – Mélia (2)

 


A Mélia, Maria Amélia Faustino Ribeiro Cordeiro, é uma pintora e escultora a quem já nos referimos neste blog por mais de uma vez. Merecidamente, diga-se.

Nascida em 1941, filha da maior casa agrícola da Ataíja de Cima e a mais nova de seis irmãos, a Amélia foi a primeira mulher da aldeia a estudar[i].

Precisamente porque nunca uma mulher ataijense tinha estudado, a decisão familiar não foi fácil e a Amélia já tinha 14 anos quando o pai finalmente concordou em deixá-la ir estudar e fez o exame de admissão ao liceu.

Tendo feito o curso de enfermagem na Escola de Enfermagem Dr. Ângelo da Fonseca, a Amélia exerceu a sua profissão de enfermeira, durante toda a sua vida activa, primeiro em Lisboa e depois em Alcobaça.

Reformada, vem-se dedicando com mérito às artes, quer modelando o barro quer pintando e, ultimamente, com algumas experiências que envolvem o uso de materiais diversos, quer, ainda, à escrita, poesia e prosa, essencialmente de carácter memorialista.

Actualmente tem patente na Casa da Janela Manuelina, em Aljubarrota, uma interessante exposição que mostra trabalhos de várias épocas, desde há mais de 20 anos até ao presente, sendo que o corrente ano de 2022 tem sido claramente prolífico.

Presépios, santos, figuras históricas, tipos populares e monstros, são os motivos das peças modeladas em barro que remetem para as vivências pessoais e as memórias de infância e onde se nota um enorme gosto pela invenção.

Na pintura as peças expostas permitem verificar uma clara evolução quer nas técnicas quer nos motivos, notando-se nas peças mais recentes a experimentação de novos materiais e, sobretudo, um maior interesse em resultados meramente estéticos.

 Uma exposição muito interessante cuja visita recomendo vivamente.

 

Seguem algumas fotos que fiz na Exposição, ontem, dia 03-05-2022:

Tipos populares sobre díptico em fundo que mostra aspectos da Ataíja de Cima


Santos



Um trabalho recente: Acrílico sobre madeira e colagem (cortiça)


A Artista




[i] À excepção do Padre Manuel Tomás de Sousa nenhum ataijense do século XX tinha estudado para além da 4ª classe e seria necessário esperar até 1981 pelo primeiro licenciado natural da aldeia.