A agora chamada Rua de Nossa Senhora da Graça vai, a breve
prazo, sofrer uma alteração profunda e duradoura com a construção do Centro
Paroquial e Casa Mortuária, que vão ocupar a totalidade do espaço dos edifícios que foram propriedade de Sabino Vigário e, ainda, o que sobra do que foi a Rua da Penicheira, chegando à Rua de Traz.
É, por isso, adequado deixar aqui uma memória de como era, em meados
do Séc. XX, aquela foi uma das principais ruas da aldeia e, naquele tempo, já
tinha algumas peculiaridades.
Desde logo, o nome que nunca soube ou que, de
todo, me não lembra. E, no entanto, os homens precisam de dar nomes às coisas,
pelo que é certo que aquela rua há-de ter tido um outro nome, antes de há cerca
de vinte anos ter recebido o actual.
Depois, porque a rua era em alguns pontos mais estreita, por ter um
piso mais acidentado, incluindo uma espécie de degrau, em frente da porta da
escola, e uma enorme lage que a estrangulava em frente da casa de Manuel Branco (esta casa não tinha alicerces e assentava sobre a dita lage), ou por não haver nela qualquer portão de pátio, (salvo o pequeno portão
que se vê na foto junta), o certo é que a rua era, na prática, pedonal.
Começando lá por baixo, pelo largo do Fundo da Igreja:
Do lado direito, a norte, havia um lagar. O edifício ainda lá está e
funciona agora como garagem do Diamantino Pereira. Tratava-se, certamente e
vistas as suas dimensões, de um lagar de vinho. As virgens onde articulava a
vara ainda são bem visíveis na parede que, precisamente, confina com a nossa
rua. Há sessenta anos, essa parede não era rebocada e as virgens eram visíveis
do exterior, embutidas na parede, no que me parecia, quando ainda não conhecia
o interior, uma antiga e estreita porta emparedada.
Do lado sul, a capela. Sem a sacristia que, naquele tempo
era do outro lado, provocando um estrangulamento da estrada que só foi
eliminado na segunda metade dos anos de 1970, aquando do alcatroamento e da construção da sacristia actual.
Ao lagar seguia-se a casa de Maria Serafina ou Maria
Constantina (era filha de Serafina dos Santos e de Constantino dos Santos,
ambos enjeitados) que aí vivia viúva e só, estando a filha Delfina já casada na
Rua dos Arneiros.
Logo, adossada, a casa de Manuel Maurício e da sua mulher
Silvina. Esta era natural do Lorvão e foi a parteira que ajudou a nascer muitos
ataíjenses. Naquele tempo, ainda ali viviam alguns dos filhos que foram, ao que
julgo, quatro. Um Manuel, uma Zaida, uma Isaura e o António (da Silvina) que já
estava casado, nas Pedras Brancas, num casal que fora da bisavó da sua mulher,
e tem um poço, O Poço do Moura, de que já falamos neste blog.
Estas duas casas, as da Silvina e as da Maria Serafina são
hoje propriedade de João Salgueiro, foram objecto de obras profundas e estão
unidas em uma única residência.
Segue-se uma antiga casa de habitação que naquele tempo já era um palheiro de José Ribeiro, hoje do neto
Vitor que a utiliza ou utilizou, como garagem e a casa que era da viúva Maria “da Serra” que foi casada com António Agostinho,
meu tio-avô. Tiverem três filhos. O António Agostinho, a Joaquina “da Serra”
que foi casada com Francisco Salgueiro e a Maria “da Serra” que foi casada com
José Veríssimo. Esta casa foi, posteriormente, adquirida por José “Rebolão” e
até há pouco tempo aí viveu a sua viúva, falecida em 1.1.2018.
Segue-se uma pequena travessa que liga à Rua de Trás e
ligava, também, à desaparecida A Rua da Penicheira.
Seguem-se uns palheiros que hoje são do José Constantino (Zé
Gordo) e, depois, o lugar onde eram as casas que foram de Sabino Vigário e onde
este vivia com a sua esposa Joaquina Baptista e os filhos, António “Sabino” e
Arnaldo, ainda solteiros, enquanto o mais velho, José, estava “lá para Lisboa”.
Seguiam-se mais duas casas do mesmo dono. Uma, pequena, que sempre conheci sem
telhado e, entre esta e a de residência, havia uma outra casa onde ele fazia
biscates de sapateiro e, por isso, a família chamava de casa do ofício, mas
outros chamavam de A Casa do Couto, por a certa altura ter sido propriedade de um
comerciante alcobacense desse nome.
Do lado sul, à igreja segue-se o adro que, naquele tempo,
era bastante mais pequeno pois lá faltam a A Escola e o palheiro ou casa do Mira.
Segue-se adega que foi de José Ribeiro e hoje é do neto
Rafael mas que não tem acesso senão pela Estrada do Lagar dos Frades. Segue-se a casa onde, naquele tempo, vivia, ainda solteiro, José Henriques, Também conhecido por José Neto e, vulgarmente, por Zé Diabo, primo de um outro José Henriques, também José Neto, conhecido por José Carago. Esta casa foi depois vendida e aí viveu a Badalhoiça com o seu filho Francisco “Casalinho”.
Encostada, ainda lá está uma pequena casa que pertenceu aos pais do dito José Diabo. Casa antiga onde foi criado o enjeitado Tomé dos Santos, avô de Francisco Rosa Tomé e de Manuel Carlos Tomé que aí estão, vivos, felizmente e de, pelo menos, três raparigas, já falecidas.
Vem, depois, a casa onde viviam o “Cuco”, a sua mulher Teresa Neto, falecida de Tétano, e três filhos. Encostada a esta última estava a casa da “Viana” ou da “Biana”, que o meu tio Porfírio Coelho usava como arrecadação.
Estas duas casas estão hoje recuperadas e unidas e nelas reside o Paulo Carreira, “o Rodinhas”.
Encostada, ainda lá está uma pequena casa que pertenceu aos pais do dito José Diabo. Casa antiga onde foi criado o enjeitado Tomé dos Santos, avô de Francisco Rosa Tomé e de Manuel Carlos Tomé que aí estão, vivos, felizmente e de, pelo menos, três raparigas, já falecidas.
Vem, depois, a casa onde viviam o “Cuco”, a sua mulher Teresa Neto, falecida de Tétano, e três filhos. Encostada a esta última estava a casa da “Viana” ou da “Biana”, que o meu tio Porfírio Coelho usava como arrecadação.
Estas duas casas estão hoje recuperadas e unidas e nelas reside o Paulo Carreira, “o Rodinhas”.
Seguia-se (segue-se) um espaço onde antes houve casas, mas
que nos anos cinquenta já era local de depósito de lenhas e, depois, uma
pequena construção que agora tem dois pisos mas, naquele tempo, era apenas o
palheiro onde vivia o burro do ti Manuel Branco.
Voltando ao lado norte da rua, aos cómodos de Sabino Vigário
segue-se a casa que foi do meu tio Porfírio Coelho que então aí vivia com a sua
segunda mulher, a minha tia Luísa e cinco filhos e no pátio da qual foi,
posteriormente, construída a casa onde hoje vive a viúva do meu primo João
“Porfírio”.
A seguir, uma travessa que liga ao largo que se forma na Rua de Trás e para onde dão o que resta da Rua da Penicheira e um beco onde havia a casa de O Padrinho Fialho , então já falecido, aquela onde vivia a minha tia Ana como o marido, dois filhos e a sogra viúva e o alpendre das traseiras da casa do ti João Redondo, hoje, tudo, propriedade do José Luís.
A seguir, uma travessa que liga ao largo que se forma na Rua de Trás e para onde dão o que resta da Rua da Penicheira e um beco onde havia a casa de O Padrinho Fialho , então já falecido, aquela onde vivia a minha tia Ana como o marido, dois filhos e a sogra viúva e o alpendre das traseiras da casa do ti João Redondo, hoje, tudo, propriedade do José Luís.
Voltando à Rua de Nossa Senhora da Graça, a seguir à dita
travessa vem a casa, que ainda lá está, de António Daniel, o ti António Seabra,
que aí vivia, julgo que já viúvo, com as três filhas e um filho, todos ainda
solteiros.
Agora que a filha Maria, que a habitou nas últimas décadas, está internada num
lar de idosos, o destino da casa está, talvez, traçado. O que é pena porque se
trata como se vê a um simples olhar, de construção antiquíssima, uma das mais
antigas, das poucas antigas que se mantém de pé na Ataíja de Cima. Ora, nesta
coisa de conservar edifícios antigos, os mais fáceis de conservar são os mais
ricos. A evidente modéstia da casa do Seabra fará, talvez, com que espíritos
práticos achem que não merece ser conservada. É pena.
Seguiam-se a casa de Manuel Branco e Maria Custódia que
sempre conheci sozinhos. Conheci-lhes, pelo menos, um filho. Um Manuel “Custódio” que
morava para os Covões ou Lagoa do Cão, se me não falha a memória. A casa era
minúscula e possuía um pequeno pátio nas traseiras. Não havendo outra serventia, tudo entrava e saía do pátio pela porta da casa.
No dito pátio viveu uma porca que, um dia, comeu o braço de uma criança filha do casal.
No dito pátio viveu uma porca que, um dia, comeu o braço de uma criança filha do casal.
Encostada, estava a casa dos meus avós paternos, onde vivi
entre os meus três e dez anos de idade e, depois disso passei muitas vezes, as
férias grandes. Mas, isso, são contas de outro rosário.
Esta casa já estava no pequeno largo formado pelo entroncamento
com a Estrada do Lagar dos Frades, mas sendo esta muito mais recente, temos de
considerar que a nossa rua seguia até onde está o supermercado da Lúcia “do
Serrano”, onde, naquele tempo, eram as casas de Alfredo Ângelo da Silva. Antes
dela, a casa, que agora é de Manuel Tomé e Francelina e, nos anos de mil
novecentos e cinquenta, era de Maria “Caseira” e de seu marido Manuel “Barra”,
no que eram as segundas núpcias dela, que tinha perdido o primeiro marido nas
trágicas circunstâncias que descrevo no post Tétano, já acima mencionado.
Tudo visto, moram actualmente nesta rua umas oito pessoas.
Há sessenta anos moravam aí mais de quarenta
Vista actual (8-9-2019), da casa que foi de António Daniel,
O Seabra