sábado, 15 de outubro de 2022

XII Festival das Sopas da Ataíja de Cima

 

Com muito atraso, tentamos hoje dar uma breve nota do que foi o XII Festival das Sopas da Ataíja de Cima, realizado no passado dia 25 de Setembro.

Depois de dois anos de interregno forçado e debelada a pandemia, era grande a vontade de todos de regressar aos convívios e, por isso, com o esforço de muitas dezenas de pessoas sob a direcção do Salão Cultural Ataíjense foi possível pôr de pé uma grande festa que bateu todos os records de afluência – foram mais de novecentas e cinquenta as pessoas sentadas - e consolidou o Festival das Sopas como o maior evento gastronómico da nossa região.

Vinte e cinco sopas diferentes, carnes grelhadas, bebidas e sobremesas, estas vendidas pela associação de pais da Escola e Jardim de Infância,  foram o pretexto para um animado convívio que juntou ataijenses, e amigos num dia muito bem passado, de que todos já tínhamos saudades.

As crianças puderam desfrutar de um insuflável e à tarde houve animação musical que começou com Pedro Nobre, continuou com o Grupo de Cavaquinhos “Cogumelo”, da Marinha Grande, onde também toca uma ataijense, grande entusiasta do Festival das Sopas e, por fim, a Escola de Concertina Aldeias de Alcobaça.

Houve justificadas razões para que neste ano o festival se tivesse realizado em data mais tardia. Como sempre, o São Pedro foi nosso amigo e o dia esteve soalheiro embora um pouco ventoso e, a partir do meio da tarde, algo frio como é próprio da época. Para o ano, havemos de voltar ao 2º fim-de-semana de Setembro e, se assim for e tiver saúde, hei-de ter o gosto de aí comemorar o meu 75º aniversário.










Obrigado a todos os que trabalharam para que este dia fosse possível. Bem Hajam,


sábado, 2 de julho de 2022

Indústria ataíjense no Museu dos Coches

 

O programa Primeira Pedra (2016 – 2022) dinamizado pela ASSIMAGRA – Associação Portuguesa da Indústria dos Recursos Minerais, é um programa internacional de pesquisa experimental que explora o potencial da pedra portuguesa, centrado nas características físico-mecânicas e estéticas dos vários tipos de pedra, juntando a produção ao design através do desenvolvimento de utilizações inovadoras deste material singular, com o objectivo de revelar as possibilidades da sua utilização.

Desde 2016, Primeira Pedra concretizou vários grandes projectos de investigação e desenvolvimento que se materializaram através de exposições e apresentações em Veneza, Milão, Weil am Rhein, São Paulo, Londres e Nova Iorque.
Agora, em 2022, no Museu Nacional dos Coches, em Lisboa, inaugurou-se no passado dia 23 de Junho, e manter-se-á em exibição até 25 de Setembro, uma exposição retrospectiva, onde se expõem todas as peças desenvolvidas no âmbito do programa até à data.

Na materialização do programa, tal como é refletido na exposição, a pedra e a indústria alcobacense e, em particular, a pedra e a indústria ataíjense, surgem em grande destaque, quer nos tipos de pedra utilizado quer nos fornecedores da matéria-prima como nos produtores das peças em exibição.

Note-se que, tratando-se também de demonstrar as possibilidade estéticas dos materiais, as peças apresentam uma grande variedade de acabamentos que vão do natural e do serrado ao amaciado e ao polido, ao areado, ao escovado e ao bujardado

Várias são as peças que foram executadas por empresas da Ataíja ou usam pedra da Ataíja e outras da região como o Vidraço Moleanos e o Azul Cadoiço e várias das empresas envolvidas é do concelho de Alcobaça. É o caso da MVC – Mármores de Alcobaça, Lda e da Airelimestones, Lda, da Ataíja de Cima, da Solancis – Sociedade Exploradora de Pedreiras, S.A. e da Julipedra – Indústria de Transformação de Mármores, Lda, da freguesia da Benedita. Ainda da nossa região, mas já no concelho de Porto de Mós, a LSI Stone, Lda, das Pedreiras e a Marfilpe – Mármores e Granitos, S.A., no concelho da Batalha.


Eis algumas das peças expostas:

Autor – Vladimir Djurovic
Vidraço Ataíja Mix
Fornecimento da pedra e execução – Solancis

 

Autor – Amanda Levete
Vidraço Moleanos Azul
Fornecimento da Pedra - Airelimestones, Marfilpe e MVC
Execução – Marfilpe

  



Autor – Julião Sarmento
Calcário Azul Cadoiço (com 3 diferentes acabamentos)
Fornecimento da pedra e execução - Airelimestones



Autor – Amanda Levete
Mármore Pele de Tigre
Fornecimento da Pedra e execução – Airelimestones e MVC


Autor – Studio MK 27
Moca Creme e Semi-Rijo do Codaçal
Fornecimento da pedra e execução – MVC

 

No Museu Nacional dos Coches, Lisboa, até 25 de setembro de 2022

As peças de grande dimensão estão expostas no exterior e são de visita aberta, as restantes estão no interior, em diálogo com os coches.

MNCoches - Exposição Primeira Pedra 2016 I 2022 (museudoscoches.gov.pt)

 Nota: O texto é parcialmente adaptado de Primeira Pedra


quarta-feira, 15 de junho de 2022

Inauguração do Centro Pastoral e Casa Mortuária

 

Só hoje me é possível dar aqui a notícia da inauguração formal do Centro Pastoral e Casa Mortuária, que teve lugar no passado sábado, dia 11 de Junho de 2022.

Porque a vida e a morte não esperam, a Casa Mortuária cumpriu pela primeira vez o fim para que foi construída, em Outubro do ano passado, ainda mal estava acabada e não mobilada.
Começámos por aí velar, com poucos dias de intervalo, a dois grandes ataíjenses e outros se seguiram, nove até agora, cujos nomes aqui ficam para memória futura:

Luís da Graça de Sousa

António Baptista Vigário

António Carlos Cordeiro

Manuel Coelho Matias

Joaquim Lourenço Machado

Abílio Tomás de Sousa

José Gonçalo de Figueiredo Pais

Daniel Tomás de Sousa

José Tomás Coelho

A casa mortuária era uma necessidade há muito sentida, uma vez que a cave da igreja só muito deficientemente podia desempenhar tal função.
Temos agora um espaço amplo e digno onde velar os nossos mortos, o que só foi possível, desde logo, porque os irmãos Rogério e Luís Vigário decidiram adquirir todo o edificado que foi a casa e cómodos de seu avô, colocando-o à disposição da comunidade e permitindo assim a construção da Casa Mortuária e do Centro Pastoral, este dispondo de salas para catequese e outras actividades, casas de banho, incluindo para pessoas com mobilidade reduzida e cozinha equipada.

O projecto, um excelente projecto, diga-se, foi desenvolvido pelo Sr. Arqº Carlos Laureano do atelier CSLaureano Arquitectos, Lda e ocupa sensivelmente a mesma implantação e volumetria do antecedente, mantendo, agora como pátio, o espaço que pertenceu à antiga Rua da Penicheira e guarda a memória da antiguidade das construções que existiam no local, preservando uma padieira de porta com a inscrição da data de 1795, bem como a fachada da casa que foi de Sabino Vigário e Joaquina Baptista através da sua integração no alçado principal e contempla, ainda, um belíssimo terraço de onde se alcança uma imponente vista sobre a serra dos Candeeiros.

Foi ainda possível preservar, na execução do projecto, uma antiga prensa de lagar de vinho e um peso de lagar de varas, ambos integrados nos arranjos exteriores do lado da Rua de Trás (Rua de Santo António) e,

Mais importante, foi possível preservar integrando-o na cabeceira da Casa Mortuária, o nicho original de Nossa Senhora da Graça, o qual guardou a imagem da padroeira durante cerca de 300 anos e se encontrava no adro desde que foi substituído aquando das obras na Capela no ano de 2003.

À cerimónia da inauguração compareceram, além de muita população e do arquitecto autor do projecto, o Vereador da Câmara Municipal de Alcobaça, Sr. João Santos e o Presidente da Junta de Freguesia de Aljubarrota, Sr. José Lourenço em representação das autarquias que apoiaram a construção, a qual só foi possível através de muitos contributos da população e do esforço da comissão constituída por

Luís Santos

Rui Santos

Pedro Bernardino

Seguiu-se uma visita às instalações, que mereceram muitas manifestações de agrado e um lanche-convívio que se prolongou pela tarde fora e para mim foi especialmente saboroso porque me permitiu conversar largamente com muitos dos presentes, todos amigos, alguns com quem já há muito tempo me não encontrava.

 

                                                     A placa comemorativa da inauguração


Uma padieira que se encontrava sobre uma porta virada à Rua da Penicheira (actual pátio do Centro Pastoral) demonstrando a antiguidade das construções que existiram no local e como essa rua era, em finais do séc. XVIII, uma das principais da aldeia.


O nicho de Nossa Senhora da Graça integra agora a cabeceira da sala de velório

 

Vista tirada da Rua de Trás (Rua de Stº. António)

A imponente vista sobre a Serra dos Candeeiros que se alcança do terraço



quarta-feira, 4 de maio de 2022

Artistas Ataijenses – Mélia (2)

 


A Mélia, Maria Amélia Faustino Ribeiro Cordeiro, é uma pintora e escultora a quem já nos referimos neste blog por mais de uma vez. Merecidamente, diga-se.

Nascida em 1941, filha da maior casa agrícola da Ataíja de Cima e a mais nova de seis irmãos, a Amélia foi a primeira mulher da aldeia a estudar[i].

Precisamente porque nunca uma mulher ataijense tinha estudado, a decisão familiar não foi fácil e a Amélia já tinha 14 anos quando o pai finalmente concordou em deixá-la ir estudar e fez o exame de admissão ao liceu.

Tendo feito o curso de enfermagem na Escola de Enfermagem Dr. Ângelo da Fonseca, a Amélia exerceu a sua profissão de enfermeira, durante toda a sua vida activa, primeiro em Lisboa e depois em Alcobaça.

Reformada, vem-se dedicando com mérito às artes, quer modelando o barro quer pintando e, ultimamente, com algumas experiências que envolvem o uso de materiais diversos, quer, ainda, à escrita, poesia e prosa, essencialmente de carácter memorialista.

Actualmente tem patente na Casa da Janela Manuelina, em Aljubarrota, uma interessante exposição que mostra trabalhos de várias épocas, desde há mais de 20 anos até ao presente, sendo que o corrente ano de 2022 tem sido claramente prolífico.

Presépios, santos, figuras históricas, tipos populares e monstros, são os motivos das peças modeladas em barro que remetem para as vivências pessoais e as memórias de infância e onde se nota um enorme gosto pela invenção.

Na pintura as peças expostas permitem verificar uma clara evolução quer nas técnicas quer nos motivos, notando-se nas peças mais recentes a experimentação de novos materiais e, sobretudo, um maior interesse em resultados meramente estéticos.

 Uma exposição muito interessante cuja visita recomendo vivamente.

 

Seguem algumas fotos que fiz na Exposição, ontem, dia 03-05-2022:

Tipos populares sobre díptico em fundo que mostra aspectos da Ataíja de Cima


Santos



Um trabalho recente: Acrílico sobre madeira e colagem (cortiça)


A Artista




[i] À excepção do Padre Manuel Tomás de Sousa nenhum ataijense do século XX tinha estudado para além da 4ª classe e seria necessário esperar até 1981 pelo primeiro licenciado natural da aldeia.







domingo, 17 de abril de 2022

A descalçadeira

 

A descalçadeira é, dizem os dicionários, um utensílio para ajudar a descalçar as botas.

E, descalçar a bota é, por definição, uma tarefa difícil.

Daí a extrema utilidade da descalçadeira, instrumento que, no tempo das botas de elástico, era de uso obrigatório em todas as casas camponesas e ainda hoje é de enorme utilidade, desde logo para ajudar a descalçar botins.

O objecto em si é de uma simplicidade e eficiência espantosas: Uma simples tábua de madeira em cuja parte inferior se prega uma travessa destinada a elevar a parte dianteira onde um corte em V permite entalar o tacão da bota. Segura-se a tábua pisando-a com o outro pé e, é só puxar o pé que se quer descalçar que ele sairá facilmente de dentro da bota.

Tenho uma que uso há uns vinte e cinco anos e foi construída num dia em que o meu pai andou a ajudar-me a plantar uma sebe de cedros e, acabado o trabalho, ao fim da tarde, me perguntou: Tens uma descalçadeira? Pois! Não tinha!

Sem se atrapalhar, procurou um pouco em redor, onde ainda havia restos de madeiras que tinham sido usadas nas obras de construção da casa. Pegou num serrote, um martelo e dois pregos e alguns minutos depois estava construída a descalçadeira que, logo ali, foi útil a ambos e amanhã, espero, hei-de voltar a utilizar.

No que de mim depender esta descalçadeira ainda vai durar muitos anos.

Gosto muito dela.

Porque quando a olho ou a uso me faz recordar o meu pai e porque é uma peça muito útil, extraordinariamente simples, funcional, eficaz e eficiente. Um aparelho sem defeito.




segunda-feira, 21 de março de 2022

Ataíjenses nas Américas (II)

 

No final do século XIX e nas primeiras décadas do séc. XX verificou-se um período de forte emigração, essencialmente com destino ao Brasil e aos Estados Unidos da América.

Entre 1900 e 1930 terão emigrado para o Brasil uns 750.000 portugueses, cerca de três quartos do total de emigrantes do período. Entre esses emigrantes para o Brasil encontravam-se, já o sabíamos, os ataíjenses António e Luís Ribeiro, de quem já falámos neste blog no texto Dois Ataijenses na Amazónia

Eis que agora, quando procurávamos vestígios de um outro ataíjense que andou emigrado na América, não encontrámos o que procurávamos, mas, em compensação, encontrámos quatro novos emigrantes ataíjenses e mais elementos sobre os irmãos Ribeiro. É o que justifica este terceiro texto dedicado à emigração ataíjense (depois do já referido Dois Ataíjenses na Amazónia e um outro texto, mais antigo, Ataíjenses na(s) América(s) escrito quando eu ainda não tinha identificado qualquer ataíjense como emigrante no Brasil.

Vejamos então os resultados de uma consulta aos Livros de Registo de Passaportes, do Arquivo Distrital de Leiria, relativos ao 2º semestre de 1911:

António Catarino,

Nascido em 10-11-1892, filho legítimo de José Catarino (dos Casais de Santa Teresa) e de Maria Carvalho, com a idade de 18 anos emigrou para Nova Iorque, tendo-lhe sido concedido passaporte em 24-08-1911.

Manuel Coelho,

nascido em 11-08-1885, também emigrou para Nova Iorque, com a idade de 26 anos e sendo já casado, tendo-lhe sido concedido passaporte em 24 de Agosto de 1911.

Era filho de Ângelo Coelho e de Luísa Maria, neto paterno de Joaquim Coelho e de Maria da Costa e materno de Tomás de Sousa e Maria Joaquina.
Não é o Manuel Coelho, nascido em 1879, filho de João Coelho e Maria Teresa ou Maria de Sousa, que também terá emigrado e foi casado com Felismina Maria.

António Ângelo,

Nascido em 17-02-1892, filho de Manuel Tomás e Cristina Santa, neto paterno de Tomás de Sousa e de Maria Joaquina e materno de Ângelo da Silva e Maria dos Santos, emigrou aos 19 anos para Nova Iorque, tendo-lhe sido concedido passaporte em 24 de Agosto de 1911.

Parece tratar-se do sogro da minha tia Angélica da Graça e pai de António Ângelo (o Rospiço), João Ângelo (o João Santo, marido da minha tia) e Manuel Ângelo, o Piquete

O António Ângelo e o Manuel Coelho eram primos, por serem netos de Tomás de Sousa e de Maria Joaquina e, por isso, parentes de Abílio Tomás de Sousa, recentemente falecido

 

Mais para o final desse ano de 1911, outros três ataíjenses haviam de emigrar, estes com destino a Manaus, na Amazónia Brasileira, que nesse tempo apresentava grande desenvolvimento devido à florescente actividade de extracção da borracha. Foram eles:

Manuel dos Santos,

Nascido em 16-05-1889, filho de António dos Santos e de Joaquina Dias, foi-lhe concedido passaporte em 30-10-1911, tinha 21 anos.

António Ribeiro,

Nascido em 22-08-1888 filho de José Ribeiro, pré-falecido, e de Maria de Jesus, foi-lhe concedido passaporte em 02-11-1911 quando tinha 23 anos. e veio a morrer, em data e circunstâncias que ainda não logrei apurar, mas, aparentemente, antes de 1920 ou 1921.

Luís Ribeiro,

Nascido em 01-05.1890 (e falecido em 12-05-1979, no Rio de Janeiro), irmão do anterior, foi-lhe concedido passaporte em 30-10-1911 quando tinha 21 anos.
Abandonou a Amazónia após a morte do irmão e instalou-se no Rio de Janeiro onde foi comerciante, constituiu família e mantém descendência.

 

Todos estes ataíjenses eram jornaleiros quer dizer, trabalhavam no campo, contratados ao dia, à jorna, e, naturalmente, apenas quando havia trabalho. Só um, o Manuel Coelho, era casado e, também, o mais velho, de 26 anos de idade. A idade dos demais, variava entre os 23 anos do António Ribeiro e os 18 do mais novo, o António Catarino. Os registos de passaporte contêm a indicação escreve/não escreve e metade deles não escreve.


O luxuoso Teatro Amazonas, em Manaus, inaugurado em 1896, símbolo das riquezas obtidas na extração da borracha

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Lagoa Ruiva, nome de azeite

 

O espaço fronteiro à quinta onde se insere a Casa do Monge Lagareiro e houve o Lagar dos Frades, espaço esse actualmente ocupado pelo campo de futebol e pelo Largo do Cabouqueiro, era o Rossio da Lagoa, espaço público (é esse o significado da palavra rossio) em cujo centro se desenvolvia a Lagoa Ruiva, a maior lagoa que havia em toda a região.

Os mais jovens já não conheceram a lagoa, entulhada no início dos anos de 1990 por, com a chegada do abastecimento de água ao domicílio, se ter então acreditado que era inútil.

No entanto, a lagoa foi, durante séculos, a única reserva de água que permitiu saciar animais e lavar roupas. Era assim por toda a falda da serra dos Candeeiros, no grande semi-planalto que a bordeja a oeste, numa extensão que vai das Pedreiras à Venda das Raparigas. A água para consumo humano, essa, era armazenada em cisternas que, no inverno, se alimentavam das beiras dos telhados ou das escorrências dos terrenos.

Porque a água é indispensável na fabricação do azeite, foi nas margens da Lagoa Ruiva que se instalaram os lagares. Primeiro, o Lagar dos frades Bernardos, construído na segunda metade do séc. XVIII e que se manteve em funcionamento até à década de 1920. Depois, o Lagar agora chamado Lagoa Ruiva, o único ainda em funcionamento, construído em data incerta, no séc. XIX mas, seguramente, antes de 1894, data desde a qual se tem mantido na mesma família. Adossado a este, o lagar que foi de José Ribeiro, construído nos inícios do séc. XX e do qual sobram escassas ruínas e, finalmente, o lagar do Guincho, construído já na década de 1920, por Matias Ângelo e por ele destinado ao processamento da azeitona do Olival dos Frades que, entretanto, tinha adquirido. Este lagar ainda laborou na posse do genro de Matias Ângelo, Francisco dos Casais, mas com a morte deste entrou em ruína, foi desmantelado e no seu lugar encontra-se, desde há anos, a serralharia Soltage.

Numa aldeia que nas últimas décadas deixou de estar sujeita à pobre agricultura de subsistência a que durante séculos esteve amarrada, o lagar do Vigário - o Lagar da Lagoa Ruiva - nunca deixou de laborar e tem conhecido nos últimos anos, pela mão do meu amigo Pedro Vigário, um sopro de renovação que, a par com um crescimento sustentado de novos olivais e consequente aumento da produção local de azeite, após a quebra verificada nos finais do séc. XX, lhe auguram um futuro longo a acrescentar ao muito passado que já carrega.