terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Lagoa Ruiva, nome de azeite

 

O espaço fronteiro à quinta onde se insere a Casa do Monge Lagareiro e houve o Lagar dos Frades, espaço esse actualmente ocupado pelo campo de futebol e pelo Largo do Cabouqueiro, era o Rossio da Lagoa, espaço público (é esse o significado da palavra rossio) em cujo centro se desenvolvia a Lagoa Ruiva, a maior lagoa que havia em toda a região.

Os mais jovens já não conheceram a lagoa, entulhada no início dos anos de 1990 por, com a chegada do abastecimento de água ao domicílio, se ter então acreditado que era inútil.

No entanto, a lagoa foi, durante séculos, a única reserva de água que permitiu saciar animais e lavar roupas. Era assim por toda a falda da serra dos Candeeiros, no grande semi-planalto que a bordeja a oeste, numa extensão que vai das Pedreiras à Venda das Raparigas. A água para consumo humano, essa, era armazenada em cisternas que, no inverno, se alimentavam das beiras dos telhados ou das escorrências dos terrenos.

Porque a água é indispensável na fabricação do azeite, foi nas margens da Lagoa Ruiva que se instalaram os lagares. Primeiro, o Lagar dos frades Bernardos, construído na segunda metade do séc. XVIII e que se manteve em funcionamento até à década de 1920. Depois, o Lagar agora chamado Lagoa Ruiva, o único ainda em funcionamento, construído em data incerta, no séc. XIX mas, seguramente, antes de 1894, data desde a qual se tem mantido na mesma família. Adossado a este, o lagar que foi de José Ribeiro, construído nos inícios do séc. XX e do qual sobram escassas ruínas e, finalmente, o lagar do Guincho, construído já na década de 1920, por Matias Ângelo e por ele destinado ao processamento da azeitona do Olival dos Frades que, entretanto, tinha adquirido. Este lagar ainda laborou na posse do genro de Matias Ângelo, Francisco dos Casais, mas com a morte deste entrou em ruína, foi desmantelado e no seu lugar encontra-se, desde há anos, a serralharia Soltage.

Numa aldeia que nas últimas décadas deixou de estar sujeita à pobre agricultura de subsistência a que durante séculos esteve amarrada, o lagar do Vigário - o Lagar da Lagoa Ruiva - nunca deixou de laborar e tem conhecido nos últimos anos, pela mão do meu amigo Pedro Vigário, um sopro de renovação que, a par com um crescimento sustentado de novos olivais e consequente aumento da produção local de azeite, após a quebra verificada nos finais do séc. XX, lhe auguram um futuro longo a acrescentar ao muito passado que já carrega.