domingo, 30 de janeiro de 2011

A casa do médico

Em 7 de Agosto de 1878 foi celebrada no escritório de F. Eliseu Ribeiro, tabelião em Alcobaça, uma escritura do seguinte teor:

“Saibam quantos esta escriptura de compra e venda virem que no anno do nascimento de nosso senhor Jesus Christo de mil oito centos setenta e oito, aos sete dias do mês de Agosto, n’esta Villa d’Alcobaça, no meu escriptório, compareceram d’uma parte como vendedores Lourenço Quitério, trabalhador e sua mulher Simpliciana Maria, moradores na Ataija de cima, freguesia de Sam Vicente d’Aljubarrota, deste concelho d’Alcobaça e da outra parte como comprador o Doutor José Sanches de Figueiredo Barreto Perdigão, casado, médico-cirúrgico e proprietário, morador n’esta Villa, todos pessoas do meu conhecimento pelo que dou fé serem os próprios … pelos dois primeiros outhorgantes foi dito: Que por herança que houveram de seu pai e sogro Joaquim Quitério, morador que foi na mesma Ataíja, são senhores e possuidores d’uma morada de casas baixas, sitas na sobredita Ataíja de cima, a partirem do norte e do sul com caminhos públicos, de nascente com João de Sousa e poente com José António de Castro. Que da mesma forma que as possuem, livres e dezembaraçadas, as vendem de hoje para sempre ao terceiro outhorgante, pelo preço de trinta e sete mil e oito centos réis, metal, valor que n'este acto receberam da mão do comprador em moedas de ouro e prata legais…”

Pela descrição das confrontações, percebe-se que as casas se encontravam no “coração do “lugar” pois só aí havia ruas paralelas correndo no sentido leste-oeste.

O comprador veio a possuir as referidas casas durante vinte e um anos, até ao dia 28 de Outubro de 1899, quando as vendeu a Sabino dos Santos, da Ataíja, pela quantia de trinta e três mil setecentos e cinquenta réis, conforme se vê de um recibo por si manuscrito, em meia folha de papel branco, contendo um carimbo a óleo com os dizeres “J S F Barreto Perdigão / Médico-Cirúrgico / em Alcobaça” e assinado sobre um selo fiscal de 20 Réis.

Estes documentos têm duas curiosidades que importa realçar:

Por um lado, permitiram-me identificar alguns possíveis antepassados. Por outro, deixam-me uma grande interrogação.

Já sabíamos que, naquela época, os burgueses de Alcobaça eram importantes proprietários rurais na Ataíja. Mas não sabíamos que também tinham sido proprietários, ainda que episódicos, de prédios urbanos.

O Dr. Barreto, como ficou conhecido, nasceu em Alcobaça em 1849 e aí faleceu em 1933. Tinha, pois, vinte e nove anos quando fez a compra, seis anos depois de, em 1872, se ter formado na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Era um jovem médico. A compra das casas que tinham sido de Joaquim Quitério não seria o investimento mais óbvio (se era investimento foi mau, porque vinte e um anos depois as vendeu com prejuízo) e também não tenho notícia de que aí tenha montado consultório.

A dúvida é: Porquê e para quê um médico de Alcobaça quereria, em 1878 (há cento e trinta e três anos), uma casa na Ataíja de Cima?


Notas:

O Dr. José Sanches de Figueiredo Barreto Perdigão foi o primeiro presidente da Câmara de Alcobaça após a implantação da República, tendo tomado posse do cargo no dia 8 de Outubro de 1910 e permanecido em funções até 1 de Janeiro de 1914.
Mais elementos biográficos do Dr. Barreto podem ver-se em “Figuras de Alcobaça e sua Região”, Volume I, por Bernardo Villa Nova, Alcobaça, 1959”, (reedição, Rebate, Alcobaça, 2002).

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O Olival do Barão

O olival do Barão de Porto de Mós



A generalidade dos muitos olivais que ocupavam toda a borda da serra eram no Séc. XIX e como já dito em posts anteriores, propriedade de “pessoas de fora”, burgueses ou pequenos fidalgos.

Um desses olivais, ou o que resta dele, é, ainda hoje, conhecido por “O Olival do Barão”.

Quem era este Barão?

A resposta encontrámo-la num documento particular, celebrado na Batalha em 22 de Fevereiro de 1890 (já lá vão 120 anos!), pelo qual Fernando Joaquim da Silva e mulher, Carlota Maria de Sousa, moradores na Batalha, vendem a João Coelho, casado, proprietário, da Ataíja de Cima, “… dois bocados de olival, no Citio da Ataija, ou cova do velho, próximo da Sacheira, limite da Ataija, que parte do Norte com António Domingues da Lameira, Sul com Francisco Vrissimo, da Ataija de Cima, Nascente com os Herdeiros do Barão de Porto de Moz, e Poente com António Coelho da Ataija de Cima, pela quantia de vinte mil reis …”.

A localização aproximada dos terrenos em causa é fácil de encontrar: A Cova do Velho é um sítio entre a Rua das Seixeiras e a Rua das Hortas, sensivelmente onde se encontra a Pia da Senhora, local onde, segundo a tradição, foi extraída a pedra de que é feita a imagem da Nossa Senhora da Graça que está na Capela da Ataíja de Cima. O Olival do Barão desenvolvia-se daí para Nascente, para o lado da serra dos Candeeiros.

Este Barão de Porto de Mós, de seu nome Venâncio Pinto do Rego Ceia Trigueiros, obteve o título de D. Maria II, por proposta de Costa Cabral de quem era correlegionário.

Natural de Porto de Mós, onde nasceu em 1801, filho do capitão Honorato da Cunha Pinto do Rego Ceia Trigueiros e de Jacinta Rosa da Conceição, foi grande proprietário rural, senhor dos morgados da Canoeira e da Ribeira da Azóia, junto a Leiria, e do morgado do Esporão, junto a Reguengos de Monsaraz e exerceu diversos e importantes cargos, entre outros os de vereador da Câmara de Porto de Mós, deputado, conselheiro e presidente do Tribunal de Contas.

Casou com uma rica viúva, trinta anos mais velha e morreu sem filhos, com 66 anos de idade, em 1867, assassinado a mando de inimigos políticos (o mandante do crime terá sido o seu cunhado Filisberto Pinto do Rego, escrivão e tabelião do juizo de direito da comarca de Porto de Mós). O seu herdeiro universal foi, por testamento, o seu amigo e correligionário político Dr. Francisco Tavares de Almeida Proença, também ele importante figura política do Cartismo (chegou a Ministro) e grande proprietário rural na região de Castelo Branco.



Para saber mais sobre o Barão de Porto de Mós:
A Câmara Municipal de Porto de Mós editou, em 2005 a biografia “O Barão de Porto de Mós”, da autoria de António Borges Cunha e, muito recentemente, em Setembro de 2010, o CEPAE – Centro de Património da Estremadura e a Folheto Edições & Design, editaram o livro “A Morte do Barão de Porto de Mós” de Ricardo Charters d’Azevedo.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

12º Almoço Anual do Salão Cultural Ataíjense


Como sempre, o 3.º domingo de Janeiro foi dia grande na Ataíja de Cima, com a realização do 12.º Almoço anual do Salão que mais uma vez reuniu uma grande parte da população, mais de 300 almoçantes, uma dezena de convidados (Camara Municipal de Alcobaça e Junta de Freguesia de São Vicente de Aljubarrota) e muitos voluntários que asseguraram o serviço.
O número de presenças foi ligeiramente inferior ao de anos anteriores e a isso não será alheio o abrandamento da actividade económica que terá levado alguns a faltar desta vez.


Apesar disso, mais uma vez o Almoço do Salão se confirmou como o grande evento anual da Ataíja de Cima, onde os participantes poderam usufruir de uma excelente e farta refeição (uma sopa de pedra de grande qualidade, um óptimo bacalhau e uma carne recheada de muito bom aspecto mas que a capacidade limitada do meu estômago já me não permitiu apreciar devidamente). A tarde foi preenchida com um espectáculo de dança, baile e convívio que se prolongou pela noite.


Obrigado a todos os que trabalharam para garantir o êxito do dia.

Até para o ano que vem.
Até ao dia 15 de Janeiro de 2012.

O TERCEIRO DOMINGO DE JANEIRO É, SEMPRE, DIA DE ALMOÇO NO SALÃO!

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Os primeiros veículos motorizados na Ataíja de Cima

(2ª reedição de um texto publicado originalmente neste blog em 25-09-2010 e, com alguns acrescentos, em 15-12-2010)

Foi preciso esperar até aos meados do Séc. XX para que os veiculos motorizados passassem a percorrer com alguma regularidade os caminhos da Ataíja de Cima.
A primeira camioneta, sobre  a qual não possuo qualquer informação relativa a marca, modelo e características técnicas, era propriedade de uma sociedade informal que tinha por sócios o ataíjense João Veríssimo e José Damião, natural de Aljubarrota, tio da antiga Deputada e Euro-deputada, Elisa Damião e genro de José Ribeiro, da Ataíja de Cima.
Esta camioneta já existia em 1949, como se vê de uma carta já referida neste blog (aqui) e, em Agosto desse ano, fez transporte de resmo para as obras de construção da Estrada do Lagar dos Frades e, segundo me disse o próprio João Veríssimo, foi adquirida em segunda mão e durou pouco tempo, tendo ficado destruída num acidente que sofreu perto de Leiria o que, aliás, acarretou para o pai do João Veríssimo que tinha sido o financiador da aquisição, um prejuízo de 40 contos. (1)
Tratava-se de uma camioneta relativamente pequena, como se deduz de uma história que sempre me lembra de ouvir e segundo a qual, tendo-se a dita camioneta avariado lá para a borda da serra, foi ela rebocada pela junta de bois de José Ribeiro.

Seria necessário esperar cerca de 10 anos até que um pouco antes de 1960 (2), Luísa Ribeiro comprou, nova, a primeira camioneta inteiramente propriedade de um ataíjense. Esta camioneta circulou durante décadas tendo, após o falecimento de Luísa Ribeiro, ficado na posse do seu viúvo. Este, devido a um defeito numa das mãos, era conhecido por José Maneta, pelo que a camioneta era, igualmente, de todos conhecida como a camioneta do Maneta.

Tratava-se de um pequeno veículo, com um peso bruto de cerca de 3.000Kg, uma pick-up de marca Opel que se vê na fotografia seguinte:


(junto à camioneta do Maneta vai a passar António Matias Júnior, conduzindo a sua junta de vacas que transportam sobre o carro um bidão de àgua que foram buscar à Lagoa Ruiva. Em segundo plano vê-se o barracão que o Maneta estava, então, a construir. Ao fundo, as casas que foram de Alfredo Ângelo da Silva e onde agora existe o estabelecimento de mercearia, utilidades, tecidos e confecções de Maria Lúcia Carvalho Gomes. Não sei a data da fotografia mas é, certamente, posterior a 1969, uma vez que ao fundo se vê, também, um poste de electricidade.)

Ainda em meados da década de cinquenta, surgiu na Ataíja de Cima a primeira mota. Era de marca Norton


mas desconheço o modelo e outras características. Foi propriedade de António Faustino Ribeiro, O Mosca, que com ela teve um acidente, em 1956, quando transportava, à pendura, o seu amigo António Baptista Vigário, conhecido por António Sabino o qual, na queda, sofreu fracturas cujas sequelas o incapacitaram para o trabalho agrícola e ditaram o seu futuro de comerciante e industrial.

Entretanto, em 1950 ou 1951, também chegou à Ataíja de Cima o primeiro automóvel ligeiro de passageiros. Era um Opel, propriedade do António Sabino acima referido o qual, por à época ter apenas 18 anos de idade (a maioridade atingia-se aos vinte e um anos), teve de ser emancipado para poder tirar a carta de condução.
Durante anos não houve outro automóvel na Ataíja de Cima e, ainda quando a estrada do Lagar dos Frades foi alcatroada, em 1976 se não me engano, os dedos de uma mão sobravam para contar os que havia.
Um desses raros automóveis foi um velho Studebaker que foi propriedade de Horacio Gomes de Carvalho e um dia, aí por 1970, em resultado da forte rivalidade que naquele tempo ainda havia entre a Ataíja de Cima e os Casais de Santa Tereza, provocada, quase sempre, por questões de namoros, veio de lá, dos Casais de Santa Teresa, com uma machada cravada no capot.



Agradecimento:
Na versão inicial deste post tinha eu deixado um apelo: " Aos leitores ataijenses:  Neste post, como noutros, são evidentes algumas lacunas de informação. O que aqui fica é aquilo de que eu tenho conhecimento ou de que me lembro. O que importava que ficasse era o que, de facto, aconteceu.
Fica, pois, o pedido para que me façam chegar os comentários, os esclarecimentos e as correcções que forem pertinentes".
O apelo surtiu efeito.
Obrigado a todos os que, com a sua colaboração, (António, Fernanda, Isabel e Anabela Matias, João Veríssimo, Sousa & Catarino, Lda e António Baptista Vigário) permitiram a melhoria do texto e do seu rigor histórico.

No entanto, este texto não está ainda fechado, faltando referir, designadamente, as motorizadas.
Quem poderá ajudar-me a completar a história dos primeiros veículos motorizados na Ataíja de Cima?


NOTAS:
(1) 40.000$00 (quarenta mil escudos), correspondentes a € 199,52 mas equivalentes, considerando-se a desvalorização da moeda e a correcção monetária, (ver Portaria 772/2009) a € 15.705,83, No entanto, se nos lembrarmos que, naquela época, um homem ganhava no campo não mais de 27$00, então temos a verdadeira importância daqueles quarenta contos: mais de 5 anos de trabalho  de um jornaleiro! (ou quase 7 anos se trabalhassem tantos dias como nós agora trabalhamos).
(2) A matrícula, visível na fotografia, é dos anos de 1957/58. (informação dísponível em http://www.anecra.pt/gabtec/p002.aspx, consultado em 17 de Setembro de 2014)

sábado, 1 de janeiro de 2011

Empresas na Ataíja de Cima

Na sequência de três artigos, recentemente publicados neste blog, sobre a economia ataíjense, subordinados aos títulos Vidraço de Ataíja, A Faiança na Ataíja de Cima e A Indústria e o Comércio na Ataíja de Cima, hoje, apresentamos agora o resultado de uma pesquisa sobre as empresas que têm sede, fábricas, oficinas, armazéns ou outras instalações na Ataíja de Cima.

A lista, de mais de quarenta empresas, que vai organizada por ordem alfabética de actividade, firma ou designação social, Email e Website, foi elaborada a partir de pesquisas na Internet e, por isso, terá algumas deficiências, erros ou lacunas. As empresas interessadas ou que não constem da lista, devem entrar em contacto connosco para se proceder às alterações que forem adequadas.


Automóveis (rent-a-car)
     Eurorent-Aluguer de Automóveis Lda.

Automóveis (reparação)
     Améliauto - Reparadora de Automóveis, Unipessoal Lda
     Vítor Manuel Vigário Ribeiro, Electricista Auto, Lda

Cafés e Restaurantes
     Café Aguarela
     Café Centro
     Restaurante Doces Sabores

Camiões (reparação)
     Reparafrota - Comércio e Indústria de Reparação Periódica de Frotas, Lda.
     Riotrailer

Cerâmica decorativa e utilitária (comércio)
     Cerearte - Cerâmica Artística, Lda
     Delta Faianças, Lda
     Terpal - Comércio e Indústria de Produtos Cerâmicos, Lda

Cerâmica decorativa e utilitária (fábricas)
     Destinos - Arte Cerâmica, SA
          geral@destinos-sa.com
          http://www.destinos-sa.com/
     Sousicer - Faianças Decorativas, Lda

Churrasqueiras (fabricação)
     Churrasqueiras Bernardino, Lda
          churrasqueirasbernardino@gmail.com
          http://www.churrasqueirasbernardino.com/

Equipamentos hoteleiros (manutenção)
     Filtrobaça - Manutenção de Equipamentos Hoteleiros, Lda

Funerária
     Funerária Ataíjense, Lda.

Mercearias, utilidades, tecidos e confecções (comércio)
     Maria Lúcia Carvalho Gomes

Rochas ornamentais (extracção, comércio, transformação)
     Airemarmores – Extracção de mármores, Lda.
          geral@airemarmores.pt
          http://www.airemarmores.pt/
     Arte e Fogo-Lareiras de Portugal Lda
          artef@arte-e-fogo.pt
          http://www.arte-e-fogo.pt/
     Levantina
          alcobaça@levantina.com
          http://www.levantina.com/
     Gaspares, Lda
          info@sousaecatarino.com
          http://www.sousaecatarino.com/
     Germano & Cordeiro, Lda.
     Granmalco - Comercial de Granitos, Lda.
     Grupo Ingemar - Comércio de Mármores e Granitos, Lda.
          alcobaca@ingemargroup.com
          http://www.ingemargroup.com/
     João Gomes de Sousa
     Lareiarte - Arte em Fabrico de Lareiras, Lda
          lareiarte@lareiarte.com
          http://www.lareiarte.com/
     Lareiras Sousa, Lda.
     Mármores Galrão, SA
          vendas@mocapor.com
          http://www.galrao.com/
     Mocapor - Comércio e Indústria de Mármores, Lda.
          mocapor@mocapor.com
          http://www.mocapor.com/
     MVC - Mármores de Alcobaça, Lda.
          geral@mvc.pt
          http://www.mvc.pt/
     Perpedra, Indústria de Mármores, Lda
          perpedra@sapo.pt
          http://www.perpedra.com/
     Ricarle Stone, Lda
          geral@ricarlestone.com
          http://www.ricarlestone.com/
     Ruipedra – Indústria de Extracção e Transformação de Pedra, Lda
          geral@ruipedra.pt
          http://www.ruipedra.pt/
     Sousa & Catarino, Lda
          info@sousaecatarino.com
          http://www.sousaecatarino.com/
     Vigário & Machado Lda

Saibro, areia e pedra britada (extracção)
     Vigarpedra, Lda

Serralharia Civil
     Artisolda, de Cláudio Lourenço Matias
     Soltage-Serralharia Lda.

Transportes rodoviários de mercadorias
     Brisa Ligeira - Transportes Lda
     Martaureltrans - Transportes, Lda
     Silvino Cordeiro de Sousa
     Transportes Moura Constantino Lda.
     Transtage - Transportes Ataija, Lda