Aguarela do pintor e cenógrafo alcobacense Augusto Pina,
originalmente
publicada na Revista Quinzenal ilustrada. Ano I, n.º 1, de 1 de Junho de
1917
Cumpriram-se ontem cem anos sobre a desastrosa batalha de La
Lys[i]
na qual o Corpo Expedicionário Português foi desbaratado por um poderoso exército
alemão que, empenhando na ofensiva cerca de 55.000 homens bem armados, não teve
dificuldade em vencer um cansado exército de cerca de 15.000 combatentes
portugueses, na maioria, pobres camponeses analfabetos que não compreendiam as
razões por que combatiam.
Não é aqui o lugar para discutir a, ainda hoje, controversa
participação portuguesa na 1ª Guerra Mundial, mas apenas para homenagear os soldados
naturais de Aljubarrota (freguesias de S. Vicente e de Nossa Senhora dos
Prazeres) que nela participaram e abaixo se identificam por nome, estado civil,
posto, naturalidade (indica-se a naturalidade tal como consta da respectiva ficha)[ii]
e filiação.
Foram eles:
António Alberto, solteiro,
soldado, S. Vicente
António Bernardo,
solteiro, soldado, Casal do Rei
António Carreira,
solteiro, soldado, Casais de Santa Teresa
António Carvalho, casado, soldado, Casais,
(na morada da mulher - parente mais próximo - escreve-se Casais seguido de
"da Fonte", rasurado).
António da Costa, casado, soldado, Prazeres
(casado, mas indica como parente mais próximo um irmão residente na Maiorga)
António da Silva,
1º cabo, Aljubarrota
António Ferreira,
2º cabo, Molianos
António Gomes, solteiro,
soldado, Prazeres, filho de Francisco Gomes Froes e de Joaquina de Souza
António João, solteiro,
soldado, Casais de Santa Teresa, filho de João António e África de Jesus
António Joaquim dos Santos, solteiro, soldado,
Chequeda, filho de Joaquim dos Santos e Agripina Joaquina
Bernardino Coelho, solteiro, soldado, Casais
de Santa Teresa, filho natural de Joaquina Coelha. Foi ferido em combate.
Punido, por duas vezes, com prisão disciplinar (25 + 4 dias)
Domingos Plácido, solteiro, soldado, Chequeda,
filho de Plácido dos Santos e Maria Luiza. Ferido em combate, veio a falecer
três dias depois, em 23 de Outubro de 1917, sendo sepultado no cemitério de
Merville, coval B.24 (a cerca de 10 km do Cemitério Português de Richebourg)
Elias Gomes, solteiro,
soldado, Ataíja de Baixo, filho de Manuel Gomes e
de Maria Rita
Ernesto da Silva,
solteiro, soldado, Boavista, filho de Francisco da Silva e Maria da Encarnação
Francisco de Oliveira, solteiro, soldado,
Boavista, filho de Luis de Oliveira e de Maria Roza (no índice consta como
Francisco Silveira). Ferido por gases em 7-8-1917
João de Oliveira, solteiro, soldado, Boavista
de Baixo, filho de José de Oliveira e Gertrudes Dionízio. Ferido em combate em
4-2-1918. Louvado. Condenado em múltiplas penas de prisão e de detenção
João de Sousa, casado, soldado, Cadoiço,
filho de Francisco de Sousa e Maria Luisa (a ficha diz que é natural de
Prazeres, sendo a mulher residente no Cadoiço). Ferido em combate, em 3-4-1917.
João Natalino, solteiro, soldado, S.
Vicente, filho de José Natalino e de Teresa André. Punido com 5 dias detenção por
conduzir a galope o carro de que era condutor. Punido com 8 dias detenção por
castigar com brutalidade uma das muares que lhe estava distribuída.
João Nogueira, solteiro,
soldado, Aljubarrota, filho de Manuel Nogueira e Roza de Almeida
João Ribeiro, casado, soldado, Chãos, filho
de João Ribeiro e de Idalina dos Santos, casado com Palmira de Oliveira. Punido
com 15 dias de detenção por desrespeito a um sargento.
João Vicente, solteiro
soldado, S. Vicente, filho de Vicente dos Santos e de Maria Josefa.
Joaquim Alexandre, solteiro, 1º cabo, Chãos,
filho de António Alexandre e de Maria José. Ferido em combate em 3-7-1917.
Faleceu na 1ª linha em virtude de ferimentos recebidos em combate em
20-10-1917. Sepultado no cemitério de Pont du Hem, coval n.º 18 (há-de, como os
demais portugueses aí inumados, ter sido trasladado para o Cemitério Português
de Richebourg-l'Avoué).
Joaquim Bernardo,
solteiro, soldado, Prazeres, filho de José Bernardo e Gertrudes Veríssima
Joaquim Carlos, solteiro, soldado, Ataíja
de Cima, filho de José Carlos e de Rosa Coelho. Ferido por gases em 7-8-1917.
Em 1-1-1919 punido com 30 dias de prisão correcional (a ficha não indica o
motivo).
Joaquim Clemente, solteiro, 1º cabo, Ataija
de Baixo, filho de José Clemente e Respícia dos Santos
Joaquim da Horta, casado, soldado, Aljubarrota,
filho de Luís da Horta e de Guilhermina Martins, casado com Teresa Ribeiro. Foi
dado por incapaz para todo o serviço e evacuado para Portugal chegando a Lisboa
em 1-10-1917.
Joaquim de Carvalho, solteiro, soldado,
Chãos, filho de José Rito de Carvalho e de Francisca Teresa
Joaquim Machado, solteiro, soldado, Carvalhal,
filho de António Machado e de Gertrudes Luísa. Ferido em combate, por
estilhaços de granada, em 13-3-1918.
Joaquim Manuel, 1º
cabo, Prazeres
Joaquim Marques da Silva, solteiro, soldado,
Prazeres, filho de Teodoro Marques da Silva e de Ana Pedro dos Anjos. Condecorado
com a medalha comemorativa da expedição a França.
Joaquim Martins, soldado,
S. Vicente
José António dos
Santos, solteiro, soldado, Prazeres, filho de António dos Santos e de Maria
da Piedade.
José Baltazar, solteiro,
soldado, Aljubarrota, filho de António Baltazar e de Maria Rita
José Branco, solteiro, soldado, Lameira,
filho de José Francisco Branco e de Josefina de Jesus. Feito prisioneiro na
Batalha de La Lys ou Batalha D'Armentières em 9-4-1918.
José Clemente, solteiro, soldado, Ataíja
de Baixo, filho de José Clemente e de Respícia dos Santos. Por razões de saúde
que a ficha não indica, foi internado pelo menos 5 vezes no hospital, tendo
sido expatriado em Fevereiro de 1919. Era irmão do Joaquim Clemente atrás
listado.
José Coelho, solteiro,
soldado, Cumeira de Baixo, filho de João Coelho e de Mariana Almeida
José Constantino, solteiro, soldado, Ataíja
de Cima, filho de Constantino dos Santos e de Serafina dos Santos. Embarcou em
10-10-1917 em Lisboa com destino a França. De regresso embarcou com a 12ª
Bateria de Artilharia Pesada, em 11-5-1919, no "Pedro Nunes" e desembarcou
em Lisboa em 14-5-1919. Por razões que a ficha não menciona, em 12-4-1918
embarcou para Inglaterra onde chegou no dia seguinte e, 7 meses depois, voltou
a França onde desembarcou a 14-11-1918. Em 7-2-1919, foi punido com 10 dias de
detenção "porque estando o Sargento de dia à Bateria perguntando a outra
praça a razão por que não descascava batata, aquele sem que o Sargento de dia a
ele se dirigisse, declarou que "se fosse com ele não a descascava".
Uma vez que a sua ida para Inglaterra se deu 3 dias depois do desastre deLa Lys, é de presumir que há relação entre os dois factos.
Uma vez que a sua ida para Inglaterra se deu 3 dias depois do desastre deLa Lys, é de presumir que há relação entre os dois factos.
José da Silva, solteiro, soldado-corneteiro,
Molianos, filho de Joaquim da Silva e de Maria Joaquina. Embarcou em Lisboa em
20-1-1917. Ferido em combate em 28-7-1917. Julgado incapaz para todo o serviço
e de angariar meios de subsistência. Repatriado, desembarcou em Lisboa em
12-11-1917.
José Dias, solteiro, 1º cabo, Quinta do
Mogo, filho de António dos Santos e de Joaquina Dias. Promovido a 1º cabo do
quadro permanente em 26-2-1918
José Joaquim, solteiro, soldado, Ataíja
de Baixo, filho de Maria Quitéria. Ferido em combate em 18-3-1918. Em 23-9-1918
foi punido com 10 dias de detenção por ter faltado à revista sem motivo
justificado. (em PT AHM-DIV-1-35A-2-02-00591, as imagens m0004.jpg e seguintes
são de documentos que se não referem a este soldado).
José Ribeiro, casado, soldado, Aljubarrota,
filho de Ermelinda de Jesus. Casado com Maria Nazária. Louvado pela forma como
desempenhou os trabalhos de reparação de uma trincheira. Punido com 20 dias de
prisão disciplinar por ser encontrado numa casa abandonada, abrindo armários e
com algumas garrafas nas mãos. Punido com 5 dias de detenção por ter faltado
aos trabalhos nas trincheiras.
José Rodrigues
Correia, soldado, Aljubarrota
Luís Dias, casado, 1º cabo, Ataíja de
Cima, filho de António Dias e Maria Lourenço. Casado com Ana Dionísio.
Promovido a 1º cabo miliciano em 20-8-1918. Conheci-o velho e alcoólico.
Faleceu um dia em que, vindo da taberna na noite escura, se terá enganado no
caminho para casa, tendo sido encontrado pela manhã, já morto. Sempre ouvi que
tinha sido gaseado mas a ficha não o refere. Também usava o nome de Luís Dias Vigário
e era conhecido por "Luís Barra". Quando eu era miúdo, era voz
corrente que o seu alcoolismo derivava do facto de ter sido “gaseado” na guerra
de França mas, a sua ficha não menciona que tenha sido gaseado.
Luís dos Reis, solteiro, soldado, Ataíja
de Baixo, filho de Izidro dos Reis e de Maria Joaquina. Ferido por desastre em
serviço, em 24-10-1918.
Luís dos Santos, solteiro,
soldado, Prazeres, filho de José dos Santos e de Maria Feverónia
Manuel Augusto Pereira, solteiro, soldado-ferrador,
Chequeda, filho de Augusto Joaquim e de Maria Fortunata Pereira. Punido com 4
dias de detenção por ter o arreio sujo. Punido com 4 dias de detenção por ter
saído do aquartelamento sem polainas, em péssimo estado de asseio. Punido com 4
dias de detenção por ter mais de uma manta e a não entregar quando houve ordem
para isso.
Manuel Carvalho, soldado, Chequeda,
filho de Joaquim Carvalho e de Narcisa de Jesus. Desaparecido desde 3 de Junho
de 1917, sendo feito prisioneiro, apareceu em 16-1-1919.
Manuel Faustino, solteiro, soldado, Molianos,
filho de Manuel Faustino e
de Adelina Santos. Em 14-2-1918 baixou ao hospital e em 18 seguinte foi
considerado incapaz para todo o serviço. Repatriado, desembarcou em Lisboa em
10 de Abril seguinte.
Manuel Norberto, solteiro,
soldado, S. Vicente, filho de António
Norberto e de Maria Benta
Manuel Rodrigues,
soldado, Prazeres
Manuel Teodoro de Sousa, casado, soldado,
S. Vicente, filho de José Teodoro de Sousa e
de Paulina dos Santos. Casado com Elísia Mónica. Julgado incapaz para todo o
serviço regressou a Portugal em Julho, a bordo do "Gil Eanes".
Matias dos Reis, solteiro, soldado, Ataíja
de Baixo, filho de Isidoro dos Reis e de Maria Branca. Ferido em combate em
3-7-1917. Hospitalizado diversas vezes num total de mais de 250 dias. Punido,
em 7-8-1918, com 8 dias de detenção por, tendo sido nomeado para a polícia do
QGB, ter faltado alegando ter adormecido.
Nicolau Duarte, solteiro,
soldado, Carvalhal, filho de António Duarte e de Maria Joaquina. Punido com 4
dias de detenção por pretender iludir para quem se destinava um pouco de fruta
verde que foi encontrada sobre um abrigo.
Silvério Augusto,
solteiro, soldado-clarim, S. Vicente, filho de Augusto dos Santos e de Mariana
Joaquina. Punido com 10 dias de prisão disciplinar por na noite de 5 para 6 de
Janeiro de 1919, ter num estabelecimento provocado distúrbios, ameaçando a dona
da casa com uma navalha e dizendo que lá voltaria e faria ir pelos ares. Punido
com 10 dias de prisão disciplinar por no dia 2-2-1919 ter ameaçado duas
francesas dentro do seu estament.
Silvestre Sousa, solteiro,
soldado, Molianos, filho de José de Sousa e de Maria José. Punido com 6 dias de
detenção por ter faltado à formatura para serviço nas trincheiras.
Esta lista está eventualmente incompleta.
Faltam, talvez e além de outros, militares que sendo naturais de outras freguesias, tinham residência nas de Aljubarrota. Eu próprio tenho notícias de um Bento, talvez nascido no concelho de Porto de Mós mas que seria então residente na Ataíja de Cima, o qual não é incluído nesta lista por falta de prova documental.
Faltam, talvez e além de outros, militares que sendo naturais de outras freguesias, tinham residência nas de Aljubarrota. Eu próprio tenho notícias de um Bento, talvez nascido no concelho de Porto de Mós mas que seria então residente na Ataíja de Cima, o qual não é incluído nesta lista por falta de prova documental.
Aos eventuais leitores que conheçam mais elementos relativos
ao objecto deste texto, agradecem-se todas as informações que possam contribuir
para o seu desenvolvimento e melhoramento
[i] La Lys,
o rio Lis, é um rio no Norte de França, na região hoje denominada Hauts-de-France
(Altos de França), na fronteira com a Bélgica.
[ii] Boletins
Individuais de Militares do CEP. Disponíveis online no site do Arquivo Histórico
Militar.