terça-feira, 29 de junho de 2010

A origem do nome ATAÍJA – Outra hipótese

Em 17-11-2009, publicámos aqui o post “A origem do nome ATAÍJA”, no qual, refutámos a ideia de M. Vieira Natividade, segundo a qual tal nome derivaria de um antigo vocábulo atà-hij, significando: até ahi (até aí chegava olival dos frades), e subscrevemos a tese da origem árabe do nome ataíja, 



com o significado de coroada, tal como já em 1789, Frei João de Sousa defendeu na sua obra Vestigios da lingua arabica em Portugal ou Lexicon ethymologico de palavras e nomes portuguezes que teem origem arábica.
Naquele texto alertámos, também, para o facto de que muitas vezes os nomes dos sítios se mantém, independentemente da mudança do domínio que sobre eles se exerce e demos vários exemplos.
Obviamente, não sustentamos que tivessem sido os mouros (os povos de religião muçulmana que ocuparam a Península Ibérica não eram árabes mas, sim norte-africanos, berberes) a inventar o nome Ataíja, porquanto bem e comprovadamente se sabe que a região foi ocupada anteriormente, desde logo por povos do neolítico que deixaram abundantes vestígios da sua passagem, designadamente nas grutas do Carvalhal exploradas por M. V. Natividade.
Que tais povos e, ou, os outros que lhes sucederam, tenham nominado os locais onde viviam, nada é mais natural. E, para que essa nominação tenha chegado aos nossos dias, teria bastado que a ocupação humana tivesse sido contínua, transmitindo-se, assim, os nomes de geração em geração.

Pode, assim, admitir-se que o nome Ataíja seja de origem anterior à ocupação moura sendo certo que sobre esses tempos muito pouco se sabe, fruto de uma cultura que sempre tendeu a desvalorizar e, por vezes, a ocultar todo o passado que não respeitasse à herança greco-latina e árabe.

Moisés Espírito Santo, natural da Batalha, etnólogo e sociólogo, professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa, é dos raros investigadores que tem dedicado atenção a essas civilizações desaparecidas, procurando ir para além do paradigma latino-árabe, na linha de Paul Deschamps que já em 1939, em “L’Histoire Sociale du Portugal”, defendia que “A influência árabe, em Portugal, foi menos importante do que se julga. Certas palavras têm uma falsa etimologia árabe ou uma origem mista, outros têm sido falsamente atribuídas aos Árabes com o pretexto de que estes são semitas. Nós sabemos que essas palavras vêm dos Fenícios, e que outras são simplesmente hebraicas.”
(citado a partir de: http://www.netsaber.com.%20br//biografias/verbiografiac3545.html)

É assim que, no seu livro “Cinco Mil Anos de Cultura a Oeste – etno-história da religião popular numa região da Estremadura”, Assírio &Alvim, Lisboa, 2004, Moisés Espírito Santo avança, com larga argumentação, a teoria de que o topónimo Ataíja se referiu ao título de uma divindade que podia ser a fenícia e púnica Istar, Anat ou Anta ou a egípcia e greco-romana Ísis.

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Nota: Os assírios, foram um povo marinheiro, originário da região onde hoje se situam Israel, o Líbano e a Síria. Fundaram, com base em Cartago, junto a Tunis, actual capital da Tunísia, um império que, nos Séc. III e II antes de Cristo, dominou o Norte de África, o comércio e as maiores ilhas do mar mediterrâneo e o sul da Península Ibérica. O Império Cartaginês foi derrotado pela República Romana durante as chamadas Guerras Púnicas.

domingo, 20 de junho de 2010

Citernas

Durante toda a existência secular da Ataíja, a falta de nascentes de água constituiu um fortíssimo condicionante das condições de vida.


A água para beber e cozinhar recolhia-se nos poços e cisternas, para lavar a roupa e para dar de beber aos animais recorria-se à Lagoa Ruiva.

Quando eu era menino, as portas das casas ficavam apenas na tranqueta mas a citerna era fechada à chave e, quando, como era normal, mais de uma família se abastecia na mesma citerna, o número de cântaros que se podiam retirar dela eram rigorosamente controlados.

Para manter a água limpa de matéria orgânica, era costume recolher alguns peixes no Rio de Chiqueda e lançá-los dentro da cisterna.


O surgimento, em 1992 ou 1993, não me recordo bem, do abastecimento público de água, modificou drasticamente a relação dos ataíjenses com a água e levou ao desaparecimento da Lagoa Ruiva e de muitos poços e cisternas e ao abandono de outros tantos.

A cisterna a que, na linguagem ataíjense, chamamos citerna, é um reservatório estanque de águas, de paredes em pedra argamassada, rebocada e caiada que recebe as águas da chuva exclusivamente através de recolha em superfícies impermeáveis: eiras de pedra, telhados das casas e cobertura da própria cisterna.

Há-as de vários tipos: de abóbada semi-esférica, de telhado de uma ou duas águas, de cobertura plana feita com grandes lages ou, as mais recentes, com cobertura plana em cimento armado ou com estrutura de pré-esforçado.






Cisterna de data de construção desconhecida mas, seguramente, do Séc. XIX ou anterior, no pátio da casa que foi de António do Casal, (foto de 2006)


A mesma cisterna, vendo-se o sistema que permite a recolha das águas da cobertura, (foto de 2006)


Cisterna no quintal de Manuel Luís de Sousa. construída nos anos 20 do Séx. XX, (foto de 2010)


Cisterna com cobertura plana, de lages, junto à casa do Olival do Sá, construída nos inícios do Séc. XX (foto de 2007)


Cisterna construída cerca de 1977, integrada no interior dos anexos de uma casa, (foto de 2007)



sexta-feira, 11 de junho de 2010

Estudos sobre a Ataíja de Cima

Em 1993, no âmbito do plano “Primavera Cultural 93” da ADEPA e sob o decisivo impulso e dinamização do nosso conterrâneo Américo Sabino, um grupo de jovens ataíjenses, constituído por:

Elisabete Coelho;
Sílvia Moura;
Tânia de Sousa;
Paulo Jorge;
Luís Constantino;
António Veríssimo;
Helder Catarino;
José Luís;
Mário Cordeiro;
Carla Maurício;
Paula Coelho;
Luís Vigário;
Arménio Coelho;
Aníbal Tomé; e
João Ricardo,
fez um levantamento etnográfico que, organizado pelo Américo de Sousa Sabino e pelo então jovem investigador alcobacense, o hoje Doutor António Valério Maduro, foi publicado sob o título “ A ARQUITECTURA POPULAR TRADICIONAL DA SERRA DOS CANDEEIROS”.

Trata-se de um pequeno opúsculo, de 32 páginas, que analisa a estrutura da casa tradicional ataijense, com capítulos dedicados a cada um dos seus principais elementos: caracterização exterior, a casa de fora, os quartos, a cozinha e a despensa e os anexos.

Na mesma época, foi distribuído um pequeno estudo policopiado de minha autoria, de apenas 9 págs. A4, intitulado “Uma casa em Ataíja de Cima” onde, em pequenos capítulos se abordam, brevemente, os seguintes temas: Topónimo, Economia, A Quinta, População, Propriedade, A Casa, Planta Básica da Casa Ataíjense (esquema) e Planta de Uma Casa Ataíjense (esquema), analisando-se, neste último, uma casa concreta.

Estes são os únicos trabalhos exclusivamente dedicados à Ataíja de Cima que, até agora e que eu tenha conhecimento, foram publicados.


capa do opúsculo A ARQUITECTURA POPULAR TRADICIONAL DA SERRA DOS CANDEEIROS, ilustrada com um belo desenho da Casa Alta do Outeiro, da autoria de Henrique Aranda

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Exposição de Inês Neves


Está aberta, desde o passado Sábado, dia 5 e até ao dia 27 de corrente mês de Junho, no Salão Nobre da Adega Cooperativa de Alcobaça (na estrada para Leiria, entre o LIDL e o Museu Nacional do Vinho) a exposição dos trabalhos da artista ataíjense Inês Neves.
O núcleo central da exposição é, como já referimos em post anterior, constituído por oitenta e oito aguarelas que retratam a totalidade dos edifícios religiosos do concelho de Alcobaça, desde os Mosteiros de Alcobaça e de Cós, às Igrejas Paroquiais e a todas as capelas, até à mais simples e modesta ermida.
Para além da valia técnica e artística das pinturas expostas, o conjunto da exposição tem, assim, um interesse iconográfico acrescido, uma vez que retrata exaustivamente todo o património religioso edificado do concelho.
Além das aguarelas, estão ainda patentes alguns quadros a óleo e um grande e muito interessante painel de azulejos retratando o Mosteiro de Alcobaça.
A artista apresenta, ainda, interessantes estatuetas de duas figuras míticas ligadas a Aljubarrota: O Condestável, São Nuno Alvares Pereira e a famosa Padeira, além de outros trabalhos como caixas pintadas para diversas utilizações.

Para aguçar o interesse do leitor e lhe mostrar que vale bem a pena uma deslocação até à Adega Cooperativa de Alcobaça, aqui ficam reproduções fotográficas de alguns dos trabalhos expostos.



Aguarela representando a Capela de Nossa Senhora da Graça da Ataíja de Cima, tal como era nos anos setenta do Séc. XX, logo após o alcatroamento da Estrada do Lagar dos Frades



Estatueta pintada, representando Brites de Almeida, a Padeira de Aljubarrota



Úteis e bonitas caixas decoradas




Visite a exposição e o site http://www.artederecordaravida.blogspot.com/.