sábado, 30 de junho de 2018

Ainda sobre o nome Ataíja




(Ataíja e Atalaia, em Vestígios da Língua Arábica em Portugal)


Quando andava à procura de coisa absolutamente diferente, tropecei no 3º volume do curioso livro intitulado TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA ou Investigação da Etymologia ou Proveniencia dos Nomes das Nossas Povoações, por Pedro Augusto Ferreira, bacharel formado em Teologia, continuador do Portugal Antigo e Moderno e Abade de Miragaya aposentado, Terceiro Volume, Porto, Typographia Mendonça (a vapor), Rua da Picaria 30, 1915.

Só o longo título é todo um programa pelo que não resisti a dar uma vista de olhos e, a páginas 64, deparei com uma, para mim, nova explicação para a origem do nome Ataíja, a qual não resisto a partilhar com os leitores do blog.

Atalaia é, diz o nosso abade aposentado, vigia, torres maiores ou menores que se faziam outrora em sítios altos e algo distantes das praças de guerra, como vedetas[i], sentinelas ou guardas avançadas para vigiar o movimento dos invasores e evitar surpresas. Aproveitavam-se mesmo algumas vezes penhascos nativos, próximos das praças e com vistas largas, para suprir as atalaias.[ii]

Quanto à origem da palavra, cita Cândido de Figueiredo que ”no seu Novo Dicionário da Língua Portugueza diz que atalaia vem do árabe at-talia” mas, contrapõe, Viterbo diz que dos árabes nos ficou esta palavra que eles pronunciavam atalaia, vinda do verbo tália que na oitava conjugação significa vigiar” e, acrescenta o nosso autor em nota que, nos Vestígios da Língua Arábica em Portugal[iii] lê-se Atalaia, Attallaâ. Vila da Província da Estremadura, Patriarcado de Lisboa. Significa lugar alto. Torre de onde as vigias descobrem o campo. Lugar eminente. Deriva-se do verbo tálea, subir, e na VIII conjugação é vigiar, olhar ao longe, descobrir com a vista. Também se chamam atalaias os homens que vigiam os campos, fortalezas, praças e presídios.

Delas (as atalaias) tomaram o nome talvez mais de cem povoações nossas, mencionadas na Chorographia Moderna.[iv] Taes são: Atalaia, Atalaias, Atalainha, Ataia, por Atalaia, ; Ataija por Ataya, o mesmo que Ataia ; Taias por Ataias ; Taijas por Ataijas ; Talaeiros por Atalaeiros ; Talaia por Atalaia ; e Tayão, aferese do Atalaião, augmentativo de Atalaia.[v]


E, aqui está como o nome Ataíja pode provir da palavra árabe attllaâ, atalaia, com o significado de vigiar, olhar ao longe, descobrir com a vista e, também, os homens que vigiavam os campos, ou os lugares altos donde o faziam.

É com o mesmo significado que a palavra subsiste, até hoje, na língua portuguesa. Veja-se o Priberam:
a-ta-lai-a (árabe atalai’a, plural de talaaiâ, lugar alto para vigilância, sentinela) substantivo feminino 
1. Torre, guarita ou lugar alto donde se vigia. substantivo de dois géneros 2. Pessoa que está de vigia. = SENTINELA
(Estar de) atalaia • De vigia a ou à espera de algo ou alguém. Numa posição ou postura que permite estar a espreitar ou alerta para algo.[vi]


Ora, em toda esta região não há melhor atalaia que a serra dos candeeiros. De facto, dela se alcança o mar e, por muitos quilómetros em redor, uma vastíssima extensão de território.

É, pois, bem plausível que o nome Ataíja venha daí, como é igualmente plausível que provenha, como sustentou Frei João de Sousa[vii],[viii], de uma outra palavra árabe, como já dissemos no post A Origem do Nome Ataíja, aqui publicado em 17de Novembro de 2009.

Em qualquer caso, será à serra que a Ataíja vai buscar o seu nome.






[i] Vedeta, diz-nos o dicionário online Priberam, é italiano e significa lugar elevado onde se colocava uma sentinela mas, também, em terminologia militar antiga, sentinela a cavalo.
[ii] Pág. 61.
[iii] Vestígios da Língua Arábica em Portugal, ou Lexicon Etymologico das palavras e nomes portuguezes que tem origem arábica, por Fr. João de Sousa, Lisboa, na oficina da Academia Real das Sciências, anno MDCCLXXXIX. Edição (fac-smille) de A. Farinha de Carvalho, 1981.
[iv] Chorographia Moderna do Reino de Portugal, por João Maria Baptista, Coronel de Artilharia Reformado, Coadjuvado por seu filho João Justino Baptista de Oliveira, Volume I, Lisboa, Typographia da Academia Real das Sciencias. Obra em vários volumes, o primeiro saído em 1864 e o quarto, que contém a Província da Estremadura, em 1876.
[v] Pág. 64.
[vi] "atalaia", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/atalaia [consultado em 14-06-2018]
[vii] Op.Cit. na Nota iii
[viii] Ver (ler) imagem acima.

terça-feira, 19 de junho de 2018

5º Aniversário da Escola de Concertinas Aldeias de Alcobaça




A Escola de Concertinas Aldeias de Alcobaça nascida da curiosidade do Zé da Ilda que, passados já os sessenta anos, quis realizar o desejo de aprender a tocar concertina, tornou-se um projecto sério que cresceu de um modo que os seus iniciadores nunca terão previsto e, passados apenas cinco anos, mantém essa vertente de escola de música,  agora mais viva do que nunca e despertando mais interesse do que nunca e, por outro lado, é um grupo de concertinistas capaz de se apresentar em publico com êxito e agrado geral, o  que vem acontecendo cada vez mais amiúde e em diferentes palcos.

Este pessoal das concertinas, digamos assim, é gente que gosta de se divertir e de conviver e, por isso, o convívio entre grupos de concertinistas é uma vertente importante da actividade.

É assim que, para comemorar o 5º aniversário da Escola, foi possível reunir no passado domingo, dia 17 de Junho de 2018, no Largo do Cabouqueiro, na Ataíja de Cima, um grande número de muitas dezenas de concertinistas, pertencentes a 14 grupos diferentes, que abaixo listamos como forma de agradecimento pela excelente tarde que lograram propiciar às centenas de pessoas que acorreram a assistir ao espectáculo.

Escola de Concertinas aldeias de Alcobaça
Grupo de Concertinas de Machio (Pampilhosa da Serra)
Grupo de Concertinas da Barrenta
Grupo de Concertinas de Santa Maria da Feira
Grupo de Concertinas Sons da Serra (Oliveira do Hospital)
Grupo de Concertinas da Casa do Benfica da Charneca da Caparica
Concertinas João Tomás
Grupo de Concertinas de Dornes (Ferreira do Zêzere)
Grupo de Concertinas Michel Neves, de Vila Facaia (Pedrógão Grande)
Grupo Verde Minho (Loures)
André Vieira (Pero Negro)
Escola de Concertinas Filipe Oliveira (Sintra)
Augusto e Filipe Martinho
Escola de Concertinas da Cabeça Veada

Há igualmente que agradecer todos os apoios e patrocínios, quer os institucionais, Câmara Municipal de Alcobaça e Junta de Freguesia de Aljubarrota, quer as muita pessoas da Ataíja que com o seu trabalho e esforço contribuíram para a realização do evento quer, ainda, às cerca de quarenta empresas sem cujo patrocínio tudo teria sido mais difícil.

Ficam algumas fotos que fizemos durante a festa.



 




segunda-feira, 4 de junho de 2018

Na Rua dos Arneiros



Regularmente me tenho queixado neste blog da escassez de fotografias capazes de documentar o quotidiano ataijense e a sua evolução.

Muito gostaria de poder publicar mais fotos mas para isso é necessária a colaboração dos leitores ataijenses que as possuam.

Todas têm interesse, quando mostrem pessoas ou situações do passado ataijense. Sobretudo, têm muito interesse para as gerações mais jovens que devem poder conhecer o passado porque, sem se conhecer o passado não é fácil perspectivar o futuro.

Não desisti, ainda, de aqui reunir um repositório, também fotográfico, do que foram, na nossa aldeia, as décadas mais recentes e todo o século XX.
Talvez, com a colaboração de todos, seja possível fazer sobre a Ataíja de Cima algo como está a ser feito para Turquel e pode ser visto em:  https://sites.google.com/site/turquelvelhinho/

Por hoje, ficamos com uma excelente fotografia da autoria do fotógrafo Rogério Coelho, da Maiorga, o qual em Agosto de 2013 fotografou na Rua dos Arneiros uma cena que não nos é desconhecida, mas que ele encenou com grande qualidade e apuro estético.

Ao Rogério Coelho os nossos agradecimentos por ter autorizado a reprodução no blog deste seu excelente trabalho.




De pé, três amigos franceses do fotógrafo Rogério Coelho. Sentados, da esquerda para a direita: Zé Delfino, Zé Maçarico, Avelino, Chico Nazaré [já falecido] Almerindo, João Pérídes e Diogo.