terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Gente da Ataíja de Cima - Joaquina Ribeiro Vigário


Nesta rubrica - Gente da Ataíja de Cima -, temos trazido aqui histórias de pessoas extraordinárias, incomuns, pessoas que, por alguma razão, fosse a sua inteligência, as suas acções ou os acasos da vida, se tornaram diferentes dos demais mortais que as rodeavam.

Nessa galeria, de pessoas singulares, cabe bem Joaquina Ribeiro Vigário, nascida em 1947, filha de Luísa Ribeiro e de José Vigário, então titulares de uma das casas mais abastadas da aldeia.

O infortúnio que havia de marcar a sua vida manifestou-se cedo, ainda antes do nascimento, já que o pai faleceu quando ela ainda se encontrava na barriga de sua mãe.

A orfandade não era, no entanto, ao menos em termos materiais, um problema.
Na abastada casa de sua mãe havia sempre criados, abegão e, nas épocas próprias, ranchos de gente a garantir os diversos trabalhos agrícolas.
O pão, o vinho e o azeite eram em grandes quantidades, com largos excedentes para venda.
Do azeite, nos melhores anos de safra da sua criancice e adolescência, entre produção dos olivais próprios e maquias do lagar, chegaram a juntar-se mais de vinte pipas[i].
O dinheiro guardava-se numa burra.

A pequena Joaquina ia crescendo, rodeada dos cuidados da mãe, dos dois irmãos mais velhos, do padrasto e dos criados da casa e, numa sociedade ainda absolutamente rural, a filha da Viúva[ii] parecia destinada a ter uma vida muito melhor do que a generalidade dos seus conterrâneos, a fazer-se mulher consciente da sua posição social e, era certo, a casar bem, quer dizer, a casar com alguém de posses equivalentes.
Num mundo aparentemente imóvel, como aparentam ser todos os mundos rurais, ninguém ousaria prever coisa diferente.

Mas, a má-fortuna resolveu atravessar-se, mais uma vez, na vida da criança.
Com cerca de sete anos de idade, aquela que parecia ter todas as condições para vir a ser a jovem mais requestada da aldeia, sofreu um estúpido acidente, uma marrada de carneiro que havia de lhe fracturar a espinha, condenando-a ao nanismo e à dependência.

Faleceu em 7-2012.




[i] 10.000 litros. Note-se que, na campanha de 1951, uma mulher a apanhar azeitona ganhou 15$00 por dia e um homem 27$00. O almude de 20 litros de azeite bom (3 graus) vendeu-se a 270$00.
[ii] Apesar de ter casado, em 2ªs núpcias, com José “Maneta”, Luísa Ribeiro foi conhecida, sempre, por a Viúva.
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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

14º Almoço do Salão Cultural Ataíjense


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Apesar do temporal que na véspera assolou a região e o país, apesar da chuva, do frio e do vento e da falta ou intermitência da electricidade (colmatada pelo empréstimo de um gerador), apesar da crise que a todos afecta, realizou-se no passado domingo, dia 20, como estava previsto, o 14º Almoço Anual do Salão Cultural Ataíjense.

A ementa constou de sopa da pedra e canja, bacalhau à salão e carne de porco à alentejana. Nas entradas, havia orelha de porco, croquetes, rissóis, azeitonas e morcela e, para a sobremesa, uma grande variedade de frutas e doces, estes, oferecidos pelos participantes. Para quem pode ficar para a noite houve, ainda, grelhados.
Por mim, abusei de uma excelente sopa de pedra pelo que, quando cheguei ao bacalhau, me fiquei por uma posta pequena e, a carne de porco à alentejana e o arroz-doce já só foram provados para aqui poder atestar que estava tudo muito bom

Reflexo dos tempos que correm, a afluência foi menor do que o habitual e, desta vez, eram pouco mais de duzentos os almoçantes. 
Mas, os ataijenses têm razões para se sentir orgulhosos: afinal, quantas são as associações que, para mais em aldeias pequenas como a nossa, são capazes de reunir tanta gente num almoço?

Como me dizia pela altura da sobremesa, alguém que não nasceu nem nunca viveu na Ataíja, mas raramente falha um evento na terra da sua mãe, os ataijenses demonstram uma capacidade de união e de iniciativa como raramente se vê e foi, mais uma vez, o caso.

Aos muitos voluntários que colaboraram para o sucesso de mais um almoço.
À direcção que em breve vai terminar um mandato de intensa actividade e tem em curso novas obras de ampliação das instalações que vão dotar o Salão de novas áreas, para armazenamento de materiais e equipamentos, novas instalações sanitárias, forno para cozer pão, grelhadores e fumeiro.
Às mulheres que cozinharam e lavaram louça e fizeram os doces e, como disse o José Bernardino, são o elo mais forte desta equipa.
A todos, muito obrigado!






Até para o ano.

Dia 19 de Janeiro de 2014

15º Almoço Anual do Salão Cultural Ataíjense

O terceiro Domingo de Janeiro é
sempre,
Dia de Almoço no Salão
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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Registos Paroquiais e Registo Cvil


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Durante séculos, o Estado não realizava qualquer registo relativo aos principais factos da vida das pessoas (nascimento, casamento e morte).
A Igreja Católica que, assinala cada um dos referidos passos (e, ainda, a confissão) através de Sacramentos já vinha, no entanto e, pelo menos desde o Séc XVI, a manter registos sistemáticos de tais factos da vida.
Chegada a Revolução Liberal do Séc. XIX, desde logo se colocou o problema de que, deixando de haver uma religião obrigatória, os não católicos estavam inibidos de beneficiar daqueles registos e, consequentemente, de beneficiar das respectivas consequências civis.
Por isso, logo em 1832, foram publicadas as primeiras leis tendentes a criar o registo civil (registo de nascimento, casamento e morte) dos não católicos.
Com a implantação da República, em 1910, a lei veio tornar obrigatório o registo civil de todas as pessoas, independentemente da sua religião, retirando valor civil aos registos paroquiais.
Não é aqui o lugar para falar sobre as reacções que tal decisão gerou mas, apenas, lembrar que quem quiser saber algo sobre as pessoas que nasceram, se casaram ou faleceram antes de 1911, não pode deixar de consultar os Registos Paroquiais que, no caso da Paróquia de São Vicente de Aljubarrota, se encontram, também digitalizados, no Arquivo Distrital de Leiria.

No que à Ataíja de Cima diz respeito, os últimos registos constantes do Livro dos Baptismos de 1910, dão-nos conta de um acontecimento excepcional em aldeia tão pequena: o nascimento de três crianças num mesmo mês, o mês de Outubro desse ano.
As primeiras crianças a nascer na nossa aldeia após a implantação da República:

- Em 10-10-1910, nasceu Joaquina, filha de Thomé dos Santos, exposto de Lisboa e de Joaquina Carvalha e neta materna de Joaquim Thomaz e Delphina Machada;
- Em 23 do mesmo mês, nasceu António (o meu tio António “Sapatada”), filho de Joaquim Coelho Quitério e de Maria Lourença, neto paterno de António Coelho e Maria Quitéria e materno de Joaquim da Graça e Maria Lourença;
- Finalmente, a 29, nasceu José, filho de Bento dos Santos, exposto e de Ana Cordeira, neto materno de José Dias e Francisca Cordeira.
De assinalar que o padrinho, José de Sousa, assinou o registo.

Todos os baptizados foram celebrados pelo pároco de São Vicente, Pe. José António de Campos Júnior e, em todos os casos, houve lugar à dispensa do pagamento do imposto de selo (que era no valor de 100 réis), por serem pobres.



Nota: No final do assento de baptismo, a expressão latina “Era ut supra” antes da(s) assinatura(s), significa, “na data acima referida”. (clique na foto para ampliar)
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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Subsídios para a História do Salão Cultural Ataíjense


V – O ano de 1991

 (Emblema do Salão Cultural Ataíjense,
inspirado no brazão existente na Casa do Monge Lagareiro
– pintura de Carlos Sousa, 2001)

As contas revelam que, neste ano de 1991, continuou o abrandamento do ritmo da actividade que já se notara no ano anterior.
De facto, as receitas contabilizadas somaram, apenas, o montante de 585.000$00 correspondentes ao saldo líquido do 4.º Cortejo de Oferendas e festejos associados.
As despesas, essas foram no montante de 292.957$00, do que resultou a existência de um saldo líquido negativo a transitar para o ano de 1992, no valor de 553.304$00.

Neste ano foi celebrado, com a EDP, o contrato de fornecimento de energia eléctrica ao Salão.

Ou seja, depois dos anos de grande esforço, durantes os quais se logrou pôr o edifício de pé, dotando-o dos requisitos mínimos de funcionamento, designadamente as instalações sanitárias e a iluminação, agora era o tempo de consolidar contas, reduzir a dívida e descansar um pouco de um esforço prolongado que, durante os últimos cinco anos, tinha envolvido toda a população e de que, aliás, os dados financeiros disponíveis dão, apenas, uma pálida ideia, já que não refletem nem os materiais doados, nem os equipamentos disponibilizados para a construção, nem a mão-de-obra envolvida.

Apesar de tudo isso, houve ainda forças para, nos dias 14 e 15 de Setembro, levar a cabo o 4.º Cortejo de Oferendas, e festejos associados:

Dia 14, Sábado:
- 09H00 – Música gravada;
- 21H00 – Baile com “ZÉ CAFÉ E GUIDA”.

Dia 15, Domingo:
- 09H00 – Abertura do arraial com quermesse, divertimentos e música gravada;
- 13H00 – Início do Cortejo de Oferendas, acompanhado pelo Grupo de Zés Pereiras “OS TEIMOSOS”;
- 14H30 – Abertura do leilão de ofertas;
- 20H00 – Baile com o “Conjunto FERNANDO BARÃO”.

Durante os festejos funcionaram serviços de bar e restaurante e, certamente, terá sido impresso o costumado cartaz mas não o encontrámos na documentação consultada.

O evento foi patrocinado pelas seguintes empresas:
- Vigário & Machado, Lda;
- Café Centro, de Maria Lúcia Coelho Matias de Sousa;
- José Constantino Júnior (Zé Pirata);
- Alberto Fróis (Zé da Fisga);
- José da Horta Luís, serração de madeiras;
- Maria Lúcia Carvalho Gomes;
- José Lourenço de Sousa (Zé da Ilda);
- José Gomes de Sousa (Zé Frade);
- Rui & Santana, Serralharia, Lda;
- Matias, Gomes & Maurício, Lda.

Exposição ATAÍJA DE OUTROS TEMPOS
Um lugar à parte na descrição das actividades do Salão, no ano de 1991, merece a exposição ATAÍJA DE OUTROS TEMPOS que, nos dias 14 e 15 de Dezembro esteve aberta ao público.

Trabalho e iniciativa de um grupo de jovens, impulsionado e coordenado por Américo de Sousa Sabino, tratou-se, a meu ver, do mais importante evento cultural de que, até hoje, a Ataíja de Cima foi palco, uma notável mostra etnográfica, de grande valia estética e documental que a todos encantou.
Foi como se, por momentos, todos tivéssemos regressado a um passado que, apesar de relativamente próximo no tempo, se mostrava já muito distante pois, entretanto, a Ataíja tinha perdido muito das suas características rurais, por ter passado de uma economia agrícola de subsistência, a uma economia industrial.

No rés-do-chão do edifício ficaram os objectos relativos à vida no exterior: o carro de bois e as solas, a charrua e a grade, o trilho e demais instrumentos da eira. Testemunhos de vidas insólitas de ataijenses, como uma lanterna de mineiro ou um ovo de avestruz. As ferramentas das profissões: pedreiro, carpinteiro, sapateiro, lagareiro. E os ceirões e os alforges, poceiros e poceiras e todas as medidas que se usavam nos lagares de azeite e de vinho e na taberna. Os cornos (búzios), com que se chamavam os servos para a panha da azeitona e todos os objectos que, secularmente, permitiram arrancar de uma terra difícil, o sustento diário.
Tudo aquele grupo de jovens tinha desencantado, indo de casa em casa a pedir, de empréstimo, objectos para a exposição.

No 1º andar era a casa.
Feitas as divisões com andaimes de construção revestidos de mantas de trapo, lá estavam a casa-de-fora, a cozinha e o quarto, todos impecavelmente reconstituídos com móveis, roupas, loiças, talheres e adornos originais, roupas que se não usavam há décadas, peças de enxoval de noivas agora velhas ou, mesmo, das suas mães e avós há muito falecidas, mas que haviam sido carinhosamente guardadas no fundo da arca.
Estes foram dias de beleza e emoção, de espanto dos novos e de comoção dos velhos.

A Foto Pinto, de Aljubarrota, fez uma ampla reportagem da exposição, em fotografia e vídeo e O ALCOA publicou desenvolvida notícia.

Os objectos, esses voltaram à posse dos seus donos e, espero, continuam a ser tratados com o mesmo carinho e estarão disponíveis, na sua grande maioria, para uma reedição actualizada da exposição que bem se justificava, agora que estão passados mais de vinte anos.
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sábado, 5 de janeiro de 2013

Subsídios para a História do Salão Cultural Ataíjense


IV – O ano de 1990

(Emblema do Salão Cultural Ataíjense,
inspirado no brazão existente na Casa do Monge Lagareiro
- pintura de Carlos Sousa, 2001)

No ano de 1990 prosseguiram algumas obras no edifício do Salão. No entanto, os dados financeiros disponíveis revelam um claro abrandamento do ritmo da actividade que, para além dos normais apoios às festividades de Nossa Senhora da Graça e de Santo António, tiveram o seu ponto alto em mais um cortejo de oferendas.

As receitas do ano somaram a quantia de 716.080$00, dos quais 400.000$00 foram doação da Comissão da Capela e as despesas atingiram os 614.086$00.

Atento o saldo negativo transitado do ano anterior, o saldo, igualmente negativo, transitado para o ano de 1991 foi no valor de 855.347$00.

O 3.º Cortejo de Oferendas em benefício do Salão e os festejos associados tiveram lugar 22 e 23 de Setembro, com o seguinte programa:

Dia 22, Sábado:
- 09H00 – Música gravada;
- 21H00 – Baile, com os organista, vocalista e guitarrista JOSÉ VALA E IRMÃO, de porto de Mós;

Dia 23, Domingo:
- 09H00 – Abertura do arraial com quermesse, divertimentos e música gravada;
- 11H00 – Início do Cortejo de Oferendas, acompanhado pelo conjunto “OS TRIUNFANTES”;
- 14H30 – Abertura do leilão das ofertas;
- 20H00 – Baile com o conjunto FERNANDO BARÃO, de Torres Vedras;
- 23H00 – Sorteio das rifas

Durante os festejos funcionaram serviços de Bar e Restaurante.

Para divulgação da Festa foi impresso um cartaz.

Patrocinaram ou apoiaram o evento as seguintes empresas:
- Rádio Cister;
- Vigário & Machado, Lda. – fornecedor de mármores, campas, cantaria e fogões de sala;
- José Constantino Júnior (Zé Pirata) – trabalhos com equipamentos agrícolas;
- Elísio Martins Pimenta – mármores e campas;
- Joaquim Salazar da Silva Martinho – mediador de seguros;
- José Lourenço de Sousa (Zé da Ilda) – fornecedor de materiais de construção;
- Casa dos Pneus dos Molianos;
- Café Centro - de Maria Lúcia Coelho Matias de Sousa;
- Automecânica Rodrigues - de José Martins Rodrigues;
- António Branco Gregório - fornecedor de materiais de construção civil;
- Manuel Cordeiro Catarino – fornecedor de lenhas e cavacas;
- Café Restaurante “ O APEADEIRO” – de Francisco Salgueiro;
- Alumínios Santa Teresa, Lda.
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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

14º Almoço Anual do Salão Cultural Ataíjense

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3.º domingo de Janeiro

20-01-2013

14º Almoço Anual
do
Salão Cultural Ataíjense

Inscrições até à próxima terça-feira, dia 8 de Janeiro

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