domingo, 14 de setembro de 2014

FESTIVAL DAS SOPAS 2014

Há menos de hora e meia, cerca das 20H30, quando de lá saí, ainda havia muitas dezenas de pessoas, das cerca de seis centenas que estiveram presentes ao almoço, a comer sopas que, entretanto, regressaram quentinhas, carnes acabadas de grelhar e, sobretudo, a desfrutar do convívio de amigos, de familiares e de conterrâneos e, a esta hora, ainda estão no recinto e no Salão Cultural Ataijense, algumas dezenas a trabalhar, lavar, limpar, transportar e arrumar todo o imenso mobiliário e demais utensílios e materiais sem os quais não teria sido possível realizar o Festival das Sopas.

A direcção do Salão Cultural Ataíjense arriscou, apesar das previsões meteorológicas, a realização do Festival no Largo do Cabouqueiro.
É certo que, durante a manhã, muitas nuvens negras ameaçaram desfazer-se em água e, cerca do meio-dia, houve uma chuva fraca que terá sido suficiente para afastar alguns inscritos mais timoratos que acabaram por não aparecer.
Como é certo que, durante o almoço, pelo menos duas vezes e por breves momentos, vários chapéus de chuva se abriram sobre as mesas. Mas foram raros pingos, não mais de dois ou três por pessoa.
Pode, mesmo, dizer-se que o São Pedro não nos pregou uma grande molha porque não quis, preferindo, ao invés, encharcar algumas vizinhanças. Só podemos estar gratos.

O risco assumido da realização da festa ao ar livre foi, assim, prodigamente premiado e o dia passou-se sem chuva e sem vento e com temperatura muito agradável, do que resultou uma grande tarde de convívio.

O êxito da função deve-se a muita gente. Na impossibilidade de aqui mencionar todos, deixamos as fotografias das cozinheiras:
 
 
 
 
 
 
 

 E, uma vista do recinto, às 14H06:

E, às 19H19:


Obrigado a todos os que contribuíram para este dia tão agradável.

domingo, 7 de setembro de 2014

Escravos em Aljubarrota


Sabemos que a escravatura foi uma instituição que durou milénios, que existiu na Grécia e em Roma, e que foram escravos os construtores das pirâmides egípcias.
Que a redução à escravatura dos inimigos vencidos foi prática comum, um pouco por todo o mundo.
Que portugueses escravizaram mouros e que mouros escravizaram portugueses.
Que na sequência da expansão marítima dos Séc. XV e XVI, se criaram novos e largos mercados de escravos, tendo por origem a África e como destino principal as Américas (para trabalhar nas monoculturas de café, cana-de-açúcar, algodão e outras).
Sabemos tudo isso e vimos na televisão a série Raízes, a saga de uma família americana descendente de um escravo e, alguns, até leram o livro em que se baseia, da autoria de Alex Haley.
Alguns lemos a História Social dos Escravos e Libertos Negros em Portugal,[i] e, por isso, sabemos que em Évora, no início do Séc. XVI, uma em cada sete pessoas era de raça negra, entre outras razões porque qualquer pedreiro ou outro oficial de ofício tinha, em vez de ajudante, o seu escravo.
E sabemos que o poeta Luís Vaz de Camões, no final da vida, pobre e doente, vivendo de esmolas, não precisava de pedir porque tinha Jau, um escravo, para pedir por ele.
E sabemos que, nos países ocidentais ditos civilizados, a escravatura só acabou ia o Séc. XIX bem andado.
E sabemos que, ainda no início do Séc. XX, J. Leite de Vasconcelos[ii] fotografou naturais, em Alcácer do Sal e em Coruche, com evidentes traços negroides, herdados dos seus antepassados escravos.
E sabemos que as marcas da escravização estão ainda muito presentes em muitos lugares e em muitas comunidades, como o demonstra o facto de, recentemente, termos sido confrontados com o rapto de centenas de jovens raparigas cristãs na Nigéria e a ameaça do chefe dos raptores de as vender como escravas.[iii]
e que os 15 países da Comunidade do Caribe, de que um dos líderes mais activos é o primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, o luso-descendente Ralph Gonsalves, se preparam para pedir a países europeus, Portugal incluído, indemnizações pelos prejuízos resultantes da escravatura no tempo colonial.


Embora sabendo tudo isso, foi para mim um choque descobrir que, em Aljubarrota, ainda no ano de 1801 havia, pelo menos, dois escravos:[iv]





[i] A. C. Saunders, História Social dos Escravos e Libertos Negros em Portugal, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa, 1994.
[ii] J. Leite de Vasconcelos (1858-1941) foi uma figura maior da cultura portuguesa, destacando-se como linguísta, filólogo, etnógrafo e arqueólogo.
[iii] É ainda hoje, aliás, desconhecido o destino da maioria delas.
[iv] A excelente caligrafia do Cura Tomás de Aquino da Costa, dispensa a transcrição do assento de óbito do escravo Sebastião de Oliveira Baena. Leia-se com atenção e veja-se a menção na margem esquerda: Preto.
O falecido era casado com Laureana Maria, escrava como ele.
O proprietário de ambos era um tal Francisco Viegas Machado.
O apelido do escravo falecido é prova da sua ligação ao Dr. Oliveira Baena que foi figura importante em Aljubarrota na segunda metade do Séc. XVIII.