quarta-feira, 17 de abril de 2019

Évora nas Memórias Paroquiais de 1758



Quando comecei estas pesquisas o meu propósito era investigar, apenas, o passado Ataíjense. Mas, rapidamente percebi que tinha de alargar as buscas a toda a freguesia de São Vicente (e, agora, não há desculpa para não abranger a freguesia de Prazeres) e, por vezes, é absolutamente necessário ir até às freguesias vizinhas, como é o caso de Évora, Évora de Alcobaça que, aliás, sempre partilhou com as freguesias de Aljubarrota a povoação dos Molianos, ou da Pedreira como, durante séculos, foi chamada.
É por isso que, depois de ler e reler as respostas que o Coadjutor Luis Ferreira Fragoso deu ao inquérito pombalino de 1958[i], acabei por transcrever[ii] as ditas respostas e aqui as partilho com os eventuais interessados

(S. Tiago Maior - Baixo relevo na fachada lateral da sua Igreja em Évora de Alcobaça)

Évora de Alcobaça nas Memórias Paroquiais (1758)

Esta vila de Évora pertence à província da Estremadura do Patriarcado de Lisboa, Comarca de Leiria termo da mesma vila e freguesia.
Sam donatários dela os religiosos do Real Mosteiro de Santa Maria da Vila de Alcobaça
Compreende em si o número de trezentos e oitenta vizinhos tem pessoas de salvamento mil e vinte e menores duzentas e dez
Está situada em Monte donde se descobrem a Villa de Alcobaça, que dista meya légoa, o lugar da Vestearia que dista huma legoa, e a Villa da Cella, que também dista huma legoa
Tem termo seu o qual comprehende nove casais, o Casal da Ortiga que consta de cento e trinta e duas pessoas o Casal do Pereira que tem cinquenta e duas pessoas o Casal de Mendalvo que tem sessenta e nove pessoas, o Casal do Abegão que tem quarenta e oito, o Casal do Pinheiro que consta de cinquenta e três, o Casal dos Fragosos e Acipreste que tem cento e vinte e nove, o Casal do Arieiro que consta de cento e quarenta e uma pessoas,
O lugar da Pedreira e Portela tem cinquenta e quatro pessoas
A sua Parochia esta situada dentro da Villa.
O seu Orago e o Apostolo Sam Tiago Mayor, tem sinco altares, o Altar do Sacramento; hum de Nossa Senhora do Rosario; outro de Sam Sebastiam; outro da Santa Ana; e outro de Santo Andre; tem duas naves a Igreja; e tem quatro confrarias; huma do Santíssimo; outra da Senhora do Rosario; outra de Sam Sebastiam; e outra das Almas.
O Parocho da sua Igreja he Vigario, cuja apresentaçam he do Dom Abbade Geral do Mosteiro de Alcobaça; e tem de Renda duzentos mil Reis pouco mais ou menos.
Nam tem beneficiados.
Nesta Freguesia há hum Convento de Religiosos Arrabidos, de quem sam padroeiros os Religiosos de Sam Bernardo de Alcobaça.
Tem hospital esta villa do qual he Administradora a Santa Casa da Misericórdia, nam tem mais que quarenta alqueires de trigo e sete centos e sincoenta em dinheiro.
A dita Santa Casa da Misericordia nam há noticia da sua origem, por ser antigua, e tem de Renda sento e cinquenta mil Reis, e nenhuma das Referidas Casas tem cousa notável para referir.
Tem duas Ermidas ambas situadas fora desta villa, a saber huma de Sam Vicente outra de Santa Marta, pertencem, esta aos Relegiosos de Sam Bernardo, aquela aos moradores desta villa.
Nam concorre nellas gente de romagem antes por arruinadas, nem nellas estam os sanctos há alguns anos.
 A terra tem suficiente abundancia de todo o género de ...(?)… ainda que a mayor seja de frutas, azeite e trigo
He governada por dois juízes ordinários e pela Câmara da mesma villa
Nam he couto nem cabeça
Nam há memoria de que houvessem homens insignes em armas, letras e so de opinada (?) virtude Frei Joseph da Esperança Relegioso Arrabido
Nam festas nesta villa mais do que huma que (?) na feira no dia do orago da freguesia, a qual dura poucas horas e se cobra somente portagem
Nam tem correyo, e se serve do de Alcobaça, que dista desta Villa meya legoa.
Dista dezouto legoas da cidade de Lisboa, capital do Patriarcado, a que pertence esta villa.
Em si nam conserva previlegio, antiguidade, nem cousa digna de memoria.
Nam tem lagoa, nem fontes celebres, antes he falta de agoas, nas quais nam se tem examinado qualidades especiais.
De porto de mar esta distante duas legoas.
Nam he murada, praça de armas, nem em seu destrito há castelo nem torre antigua.
No terremoto de mil sete centos e cinquenta e sinco
Nam cahio casa alguma, e ainda que ficaram algumas paredes arruinadas, athe ao presente se nam tem feito nellas mais reparo, que alguns espeques que logo lhes puzeram.
No destrito desta freguesia e seu termo se nam comprehende de serra mais do que huma legoa, aonde tem dous pequenos lugares, e nella nam ha cousa alguma notável das referidas no Interrogatorio.
Nem tem rios de agoa nativa, mas tem dois que nam tem outra agoa, mays que a que recebem no tempo do Inverno.
O Coadjutor Luís Ferreira Fragoso



[i] O inquérito pombalino de 1758 tinha por objectivo averiguar dos prejuízos que o terramoto de 1755 tinha provocado por todo o país e, de caminho, recolhia-se um precioso conjunto de informações relativas a cada freguesia: se tinha rios, fontes, lagoas ou serras, castrelos, conventos ou outros edifícios notáveis, as pricipais produções agrícolas, as povoações que a constituíam e respectiva população, a que distância de situava das principais terras em redor, etc., etc.
Enviado, através dos Bispos diocesanos, a todos os párocos do Reino, as suas respostas foram reunidas num conjunto que ficou conhecido por Memórias Paroquiais, as quais constituem o maior acervo de dados que existe sobre o Portugal do Séc. XVIII e permitem construir um retrato bastante rigoroso do país naquela época.
As Memórias Paroquiais encontram-se digitalizadas e são de acesso livre no site da Torre do Tombo.
[ii] Eventuais erros ou deficiências da transcrição são, assim, da minha inteira responsabilidade.