terça-feira, 31 de dezembro de 2019

A Rua das Seixeiras em Meados do Século XX



A Rua das Seixeiras que prolonga, a partir do Outeiro, a Rua dos Arneiros seguindo em direcção aos Casais de Santa Teresa é parte, como já referi mais de uma vez, da Estrada Municipal que ligava os Casais de Santa Teresa à Lameira, pelas Ataija de Cima e de Baixo e Carvalhal e foi classificada como estrada municipal de 2ª classe pelo Decreto de 28 de Julho de 1894, durante o governo de Hintze Ribeiro.
Em verdade, pelo menos na parte entre ambas as ataíjas, parece-me bem que tal estrada nunca saiu do papel pois, ainda há menos de setenta anos tudo era uma estrumeira pegada que ia, com poucos intervalos, desde o Outeiro à Senhora dos Enfermos. Um caminho estreito, onde apenas cabia um carro de bois entre paredes de pedra solta, que não obedecia aos requisitos técnico-legais mínimos, designadamente a largura de livre trânsito de 4 metros, exigida no Decreto de 31 de Dezembro de 1864.
Em meados do Século XX, as mulheres e as crianças andavam na sua maioria descalças (poucos homens também) e quando as estrumeiras eram novas, frequentemente com carrascos  e outras plantas de folhas espinhosas, alagavam-se algumas pedras das paredes para criar um passadiço (na verdade, para avisar o dono da estrumeira que, invariavelmente era o da parede, a ter um pouco de cuidado e atenção aos seus vizinhos). Podemos ter uma noção do que eram essas estrumeiras se soubermos que, alguns anos antes, em meados da década de 1940, quando José Vigário ainda fazia estrumeira no Adro da Capela resolveu, em vésperas de festa, colocar aí uma estrumeira nova e para que as gentes pudessem circular sobre ela, contratou um rancho – onde estava a minha mãe – para a malhar a mangual, amaciando assim as suas partes mais agrestes.




Há setenta anos a Rua das Seixeira distinguia-se por melhor razão. 
Nos anos de 1930 um comerciante alcobacense, Diamantino dos Santos Vazão, investiu fortemente num lagar de azeite que se situava entre a Ataija e os Casais de Santa Teresa, perto da estrada de D. Maria Pia. Uma parte do(s) edifício(s) ainda lá estão, logo a norte do IC9 e, há alguns anos, aí funcionava (não sei se ainda funciona) uma oficina de torneiro.
Para garantir um bom acesso ao lagar, o Diamantino mandou reparar e calçar a pedra e seixos toda a Rua das Seixeiras e a vereda que, a partir do pinhal do Vigário para a direita, passou a ser conhecida por Estrada do Diamantino.


Em meados do Século XX, a primeira casa da Rua das Seixeiras, pelo poente, era a de João Luís e Rosalía de Carvalho que aí viviam com a filha solteira Maria Rosalía, a “enfermeira” da terra. 
Logo, separada por um estreito beco, uma casa antiga, de alpendre, onde vivia Maria Catarina que sempre conheci velha e só. 

A Maria Catrina tinha um medo pânico de qualquer espécie de bestas e veículos, fosse um carro de vacas ou de burro, uma bicicleta ou um raro automóvel, chegando a derrubar paredes na ânsia de deles fugir, o que fazia dela alvo de impiedosa chacota.

Do outro lado da rua, também só, vivia a Benedita. Era viúva e tinha uma filha, mas a essa não me lembro de jamais ter visto. O marido, ao que parece, tinha morrido (ou veio a morrer) na América, onde andava emigrado e terá ganho os dólares que justificaram o pequeno luxo que são as cantarias de verga arredondada, como ainda hoje se vê no que agora são arrumos do António Sabino.


Seguia-se a casa e taberna do Petinga, onde este vivia com a mulher e sem filhos e agora está a de uma sua sobrinha e, do outro lado da rua, uma pequena casa recuada onde viveu Francisca Félix, viúva de Matias Ângelo e onde o neto Manuel Félix teve oficina de sapateiro. Seguia-se a casa mais recente construída para o casamento da filha Maria Matias ou Maria Félix, que aí viveu com o marido Francisco dos Casais e onde criaram os dez filhos.

(falamos, até agora de seis casas e, curiosamente, em cada uma delas havia uma pessoa que não era natural da aldeia. Mas, isso é assunto para quando tratarmos de fluxos migratórios).


Seguia-se a casa onde viviam a minha tia Angélica com o marido e a filha. Desta casa já falei no post  Ataijenses na(s) América(s) 


No sítio onde agora está a casa do Zé Frade e antes esteve o moinho de que falei no post O Moleiro, estava então a casa do pai do Zé, João Frade.

Junto ao caminho, a casa, hoje muito degradada, de Manuel Luís e Maria da Graça, pais do João e de mais oito filhos (os que sobreviveram de doze partos), entre eles o Quim Velho e o Luis da Graça
Entre ambas as casas, a bela cisterna a que me referi no post A Cisterna.

Seguia-se a casa de que hoje só restam ruínas, onde António Maria da Silva, o Orelha e Joaquina Porfíria criaram, pelo menos, sete filhos.

Do outro lado da rua, as casas de duas filhas do Manuel Luís. Primeiro, a de Luísa da Graça, casada com Joaquim Minderico, um Constantino que herdou a alcunha do avô materno. Depois, construída em 1941, a de Rosalía casada, em segundas núpcias dele, com José António Maurício de alcunha o Zé Alemão, o qual tinha ficado viúvo de uma irmã dela, Conceição, tragicamente desaparecida.


E, só nos Casais de Santa Teresa voltávamos a ver casas.

Tudo visto, em 1950, havia na Rua das Seixeiras 12 casas e cerca de 40 moradores.


De onde vem o nome da Rua das Seixeiras



segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

A Rua de Traz em meados do Século XX



  
Cerca de 1950 estava a construir-se entre o Outeiro e o Lugar, em aterro, o troço da actual Estrada do Lagar dos Frades que havia de substituir a velha calçada, situada uns metros mais a norte, junto ao então quintal da Benedita, (agora de António Sabino), como ainda se vê, mas interrompido no final pelo monumento aos Combatentes.
Em frente, onde agora é o supermercado, estava a casa da Calçada, uma casa antiga e pequena para onde se subia através de três ou quatro degraus de pedra. Aí, de porta sempre aberta para aproveitar a luz exterior, o Pirisca exercia o seu ofício de sapateiro.
Para a direita acedia-se à estrada e à Rua de Nossa Senhora da Graça. Pela esquerda, era a Rua de Traz.

Onde hoje é propriedade do José Luís e a casa do Abílio era a taberna, a casa e os demais cómodos de um outro José Luís, avô daquele e pai do Abílio, felizmente ainda vivo, do Petinga que seguindo as pisadas paternas também foi taberneiro, do Padre Tomás de quem já falei mais de uma vez, designadamente no post Gente da Ataíja de Cima - O Padre Tomás e de duas raparigas, uma Maria, que ficou solteira e acompanhou o irmão Padre, e uma Luísa, que casou no Cadoiço com Joaquim Vitorino.
A dita taberna foi, como contei no post Gente da Ataíja de Cima - Joaquim Rôzo,  a sala de aula onde o meu pai, o Padre Tomás e outros rapazes do seu tempo, aprenderam a ler e escrever.

De seguida, a rua faz uma curva apertada, a noventa graus para a direita. Do lado norte, o pátio, a casa nova e uma velhíssima casa de alpendre, eram os cómodos de Luísa Ribeiro que, em 1947, ficara viúva com 2 filhos e grávida da terceira, a Joaquina a quem dediquei o post Gente da Ataíja de Cima - Joaquina Ribeiro Vigário. Apesar de ter casado, em 2as núpcias, pouco tempo depois, com José Maneta, a Luísa Ribeiro ficou para sempre conhecida como A Viúva.
O pátio e as casas ainda lá estão. O Pátio onde agora se criam ervas, ainda rodeado dos numerosos palheiros, estábulos e arrecadações de toda a espécie, a maioria deles já sem telhado e a caminho da ruína, testemunhas de um tempo e de um modo de exploração da terra que não voltam. A casa velha, está mais velha. A casa nova, construída para as 1ªs núpcias da viúva, está agora desprovida do patim que lhe permitia um minúsculo jardim e, sobretudo, a protegia de bestas, carros e carradas.
O seu único habitante é um cidadão ucraniano, há muitos anos emigrado em Portugal, operário numa oficina de pedra.

Do outro lado da rua era a casa, já desaparecida, do meu tio-avô João da Graça, dito o João Redondo, que aí vivia com a sua mulher Emília, natural de Aljubarrota. Não tiveram filhos.
Ele era sapateiro e deslocava-se a casa dos clientes, onde ficava a trabalhar por vários dias, consertando todo o calçado da família e, por vezes, fazendo obra nova. Assim me lembro de o ver, exercendo o seu ofício, no alpendre da casa de José Ribeiro.

Seguia-se uma antiga casa de habitação que naquele tempo também era propriedade da Luísa Ribeiro que a usava como armazém de azeite. Por isso há, ainda, quem a recorde como a Casa das Pias.
Logo, pegada, uma antiquíssima casa que ainda resiste e onde vivia Maria (da) Serafina, a Maria Pequena para se distinguir de uma irmã mais velha, também Maria. Naquele tempo era casada em 2ªs núpcias, com Eleutério dos Santos, mas julgo que já não viviam juntos. Lá em casa moravam, pelo menos, duas filhas e um neto mas ele morava numa casa pequenina que havia no quintal da Rosalia, na Rua das Covas.
Este Eleutério dos Santos terá sido o último enjeitado que houve na Ataíja de Cima mas dele, no entanto, não encontrei, até agora, rasto no Arquivo Histórico da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (diga-se, aliás, que nem todos os enjeitados passaram pela SCML).

Voltando ao lado norte da rua, às casas de Luísa Ribeiro segue-se o portão de um pátio, ao fundo do qual, numa pequena casa de que agora só restam ruínas, vivia a família de José Constantino que aí criou, pelo menos, sete filhos, entre eles, a Perna Torta.

Logo depois a casa, hoje também em ruínas, onde viviam os irmãos, meus tios-avós, Maria Marreca a Manuel Mariola, tal como o João Redondo, meios irmãos da minha avó paterna. A alcunha de Marreca devia-a ela a uma grande corcunda, resultado de uma grave fractura da coluna sofrida quando bébé, uma vez que o irmão Manuel, também uma criança, a pegou ao colo e a deixou cair da janela da casa para a rua.
Terá sido este mesmo episódio que lhe valeu a ele a alcunha de Mariola.

Seguia-se uma estreita casa, com um pequeno alpendre, onde então ainda vivia o velho Porfírio dos Santos, oriundo da zona da Nazaré mas vivente na Ataíja desde criança, onde chegou na condição de enjeitado ou criado de servir, o que não era muito diferente.
E, logo, a casa recente (construída em 1946) da sua neta Joaquina Méla. Esta casa ostenta uma curiosa Pedra da Era, com a representação de um machado e um serrote, instrumentos da profissão do marido, Manuel Sarrador.

Seguia-se a casa de Manuel Casal que então aí vivia com a sua mulher Luisa Vigário, a Pisa Flores, por vezes também dita A Farricha e o filho António. A casa já não existe e no seu lugar o bisneto Joel está a construir uma nova.

Em frente abre-se um largo por onde se estabelece ligação à Rua de Nossa Senhora da Graça, à antiga Rua da Penicheira e ao Beco onde está a casa de José Luís, no lugar onde naquele tempo havia a casa do Padrinho Fialho, então já falecido.
Aí havia também umas antigas casas que a Luísa Ribeiro usava como palheiros e para aí davam as traseiras da casa do João Redondo, uma arribana, lugar do ofício quando o trabalho era em casa e o portão do pátio da casa do meu avô Quitério, da minha casa de infância.
E, ainda, de costas para a taberna do Manuel Luís, a casa da viúva Felismina, a parteira da aldeia que também sabia de rezas e curas. 
Não sei se foi ela que me ajudou a vir ao mundo (poderá ter sido a outra parteira, a Silvina) mas sei que, aquando de umas aquando de umas febres que me atacaram, durante a epidemia da gripe asiática, ela me esfregou o peito e a barriga com azeite da candeia, enquanto entoava umas ininteligíveis rezas. (Os curiosos podem saber mais sobre a gripe asiática lendo o seguinte texto:
 (https://www.dgs.pt/documentos-e-publicacoes/gripe-em-lisboa-1957-e-2008-pdf.aspx) 
Com a Felismina, aí viviam o seu filho José Quépão e a mulher e os filhos destes, meus primos.

Tudo era um lagedo (o Lugar está construído sobre uma imensa pedreira), nesse beco, usava formar-se uma pequena lagoa quando chovia e, nós os pequenos, conhecedores do chão que pisávamos, íamos com gravetos, arames e pregos, limpar um pequeno buraco que havia numa das pedras e, quando o conseguíamos desobstruir, a água desaparecia em vórtice.

Retornando à Rua de Traz e continuando pelo norte, à casa de Manuel Casal seguia-se uma estreita e antiga casa, que aliás naquele tempo já não era uma casa, mas ainda existe, disfarçada atrás de uma parede de pedra sem reboco (que oculta uma minúscula divisão, talvez uma antiga corte do porco) e de um pequeno alpendre ou arribana. Era propriedade do meu avô José Agostinho da Graça que a usava como palheiro e estábulo do burro. O burro era preso ao pau de fuste que suportava o cachorro da chaminé e a lareira era a mangedoura. A porta da casa tinha um postigo e, como há ainda quem se lembre, às vezes via-se o burro, cabeça enfiada no postigo, observando o movimento da rua.

Seguia-se uma outra antiga casa, naquele tempo usada pelo José Ribeiro como palheiro e que mais tarde foi recuperada por um neto e, agora, é propriedade de um casal de cidadãos canadianos que aí vivem.
Segue-se a casa do meu avô Agostinho e da minha avó Carlota. Aí vivem agora a Celeste Rebolão e o marido.

Do lado sul, desde o largo atrás referido, eram antigas casas, com entrada pela Rua da Penicheira, onde já não vivia ninguém e funcionavam como palheiros e adega de Sabino Vigário. Seguia-se outra que tinha entrada pela Rua de Traz e era, creio propriedade de José Ribeiro, também usada como palheiro. Foi há uns anos remodelada e esteve habitada. Agora, todas esses telhados estão em vias de ser demolidos, para no seu lugar surgir o novo grande objectivo da comunidade, a construção do Centro Paroquial e Casa Mortuária.

Seguia-se, e ainda segue, uma pequena construção onde o meu avô Agostinho fazia adega, e abria-se uma travessa que ligava à Rua da Penicheira, à Rua de Nossa Senhora da Graça e ao Adro da Capela. A Travessa ainda lá está, mas o acesso à Rua da Penicheira foi cortado na segunda metade dos anos de 1970 quando a população decidiu autorizar o José Rebolão a construir aí, por troca com um espaço do outro lado da rua.
Pelo lado sul, o último quarteirão da Rua de Traz, entre a dita Travessa e o Fundo da Igreja, eram traseiras das casas de Maria da Serra (depois, de José Rebolão), de Manuel Maurício e sua mulher Silvina e da viúva Maria Constantino ou Maria Serafina e, ainda, de uma antiga casa, onde naquele tempo ainda se via a chaminé e uma divisória em tabique, que José Ribeiro usava como palheiro ou arrumos e o neto agora usa ou usou como garagem. 
Fecha o quarteirão, já com entrada pelo Fundo da Igreja, um antigo lagar, que depois disso já foi palheiro de vacas e agora é garagem.
Pelo Norte, à de meu avô seguia-se a casa de Manuel Morgado, dito o Manuel Lérias, carpinteiro, natural de Boieira, mas filho de uma ataijense e de sua mulher Maria Machada que aí viviam com os 4 filhos. Já no Fundo da Igreja, a casa dos Machado a que já me referi no post A Rua das Hortas em Meados do Século XX e onde viviam a minha tia Papoila, o marido e os três filhos.


Em meados do Século XX, a Rua de Traz tinha 14 casas habitadas nas quais moravam de mais de 50 pessoas.

Hoje, as casas habitadas são seis e residentes contei nove (um terço deles, estrangeiros).

Estado actual (15-12-2019) das casas de Luísa Ribeiro


Nota para os mais distraídos:
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sexta-feira, 29 de novembro de 2019

A Rua das Hortas em Meados do Século XX



A Rua das Hortas parte do Fundo da Igreja para o lado norte, numa curva apertada entre o muro do pátio da casa que foi do Pote Serrano e onde, em 1952, o João Pereira começou a fazer barbearia e a casa do Machado, antiga e bela casa de alpendre, semelhante à casa de José Ribeiro, situada em frente, do outro lado do largo e, talvez, contemporânea dela.
Quando tratarmos da Rua de Traz havemos de voltar a falar desta casa do Machado onde, naquele tempo vivia, de empréstimo, a minha tia Papoila, irmã mais velha do meu pai, com o seu marido João Coelho, dito João Felismino e os três filhos. Gente pobre. Também de juízo.
Em pleno fundo da Igreja e ao lado da casa do Pote Serrano havia de, pouco depois (a pedra da era indica 1952 como data de construção) ser construída a casa da sua neta, casada com o dito João Pereira, ele vindo da Ataíja de Baixo, filho de Francisca Crispa, de quem me lembro por ser a proprietária do único porco barrasco que havia por estas bandas.
Quando a porca aluava lá iam, o animal e duas pessoas, pela Rua dos Arneiros, até à Figueira Pedral e ao Casal de Ordem, tomando o caminho da Lagoa Cova e virando depois à direita até à casa da Francisca Crispa.
À frente do animal ia um adulto ou adolescente com uma saca de milho que agitava a espaços, chamando a porca. Tiá! Tiá! Qnina!
A fechar o cortejo, um adulto com uma verdasca providenciava que o animal não voltasse para trás, não saísse do caminho, ou não se esquecesse de andar.
Se tudo corresse bem, a porca havia de emprenhar e parir uma bela ninhada que, criada até aos dois meses e vendida, havia de ser um excelente complemento do rendimento familiar.
Voltando à Rua das Hortas, à casa do Pote Serrano seguia-se e segue-se e ainda é habitada, a casa dos Veríssimo, onde então moravam a viúva Maria Ribeiro e os filhos Joaquina e João.
Trata-se de uma rara casa de dois pisos que vem do Século XVIII, mas que sucessivas intervenções descaracterizaram por completo, não existindo hoje sinais evidentes da sua antiguidade.
Seguia-se a casa de João Salgueiro, onde agora está a de uma neta e, logo, a Azinhaga do Jogo, então uma mera serventia agrícola, no início da qual Francisco Salgueiro tinha erguido, em 1939, a casa onde vivia com a mulher Joaquina “da Serra” e os três filhos.
Esta Azinhaga, hoje Rua do Jogo, chama-se assim por, contava-me a minha avó, no Século XIX aí haver um baldio onde aos domingos, jogavam a péla.
Voltando. Um pouco à frente, do lado poente e ostentando ainda a pedra da Era que nos indica que foi construída, ou reconstruída, nos anos de 1940, a casa de José Gomes Machado, que foi conhecido por José Faxia e, de seguida, o que naquele tempo já eram arrumos de José Bernardo, e foram pertença de uns Almeida, gente de fora que por aqui foram proprietários de olivais. Aqui funcionou antes um lagar de azeite, o lagar do José de Horta.
Em frente, a casa que foi de José Bernardo que aí viveu com a sua mulher e filhos. A casa está hoje recuperada com gosto e nela habita a família de um neto.
Seguia-se a casa, também construída ou reconstruída nos anos de 1940, onde viveram Francisco Rosa, a mulher Umbelina e os filhos e hoje se encontra fechada e sem uso e, logo, do outro lado do caminho, a casa, dentro de um pátio, onde José Dias, recentemente falecido e irmão mais velho do Francisco, viveu com a sua mulher Joaquina Cordeiro Ribeiro, que todos conhecemos por Joaquina Maurício e, em frente, a casa, também erguida na década de 1940, do irmão dela, António Maurício que foi casado com uma Maria da Conceição que foi de todos conhecida pela curiosa alcunha de Quites.
Voltando ao lado poente da rua, outra casa resguardada dentro de um pátio, casa ainda hoje habitada, onde vivia a viúva Maria Branca e a sua filha Joaquina casada com Joaquim Henriques, conhecido por Joaquim Neto. Virada à Rua, ainda lá está uma notável e hoje rara parede de pedra seca, ou pedra insonsa como também lhe chamam, quer dizer, tecida sem uso de qualquer argamassa. Disse-me um dia a ti’ Joaquina Branca que tinha sido mandava fazer por seu pai, a uns pedreiros que vieram de “traz da serra”.
Por último, uma casa alta que nunca o chegou a ser e então era, apenas, paredes sem telhado e vãos vazios.
Foi construída por um José Lourenço a quem chamavam o Combasteiro, o qual saiu da aldeia e nunca a acabou. Agora, vi-o há dias, tem telhado e os vãos emparedados.
Quem continuar para norte pode encontrar, à esquerda, a Pia da Senhora e, ao chegar perto do IC9 que agora corta o caminho, virar à direita e chegar à Rua de Traz do Muro, ou virar à esquerda e, caminhando pela Estrada do Diamantino, agora irreconhecível, chegar à Rua das Seixeiras e ao viaduto que liga aos Casais de Santa Teresa.

Tudo visto, em 1950 havia na Rua das Hortas (ou nas Hortas) nove casas habitadas e cerca de trinta moradores.



Parede de pedra seca


quarta-feira, 30 de outubro de 2019

A Estrada do Lagar dos Frades em Meados do Século XX




A ligação de Aljubarrota à Ataíja de Cima fez-se, secularmente, por um caminho que saía de São Vicente, descia às Marmeleiras e aos Fiais de Deus, passando ao lado do cabeço do Murtal até cruzar a Rigueira que agora chamam de Ribeira do Mogo e, vinda dos lados das Pedreiras, percorre todo o vale até ao Poço Suão e a Chequeda, para aí ganhar águas permanentes e se transformar no rio Alcoa.

Na leve descida que vai do Murtal à Rigueira, rebentavam olhos de água nos tempos de chuva. Carros e bestas passavam a rigueira a vau e os peões, por uma estreita ponte, feita de uma única laje. Aí, na parede do que era o olival da ponte, então de José Ribeiro, ainda se via, em meados do século passado, o fuste de um antigo cruzeiro das Almas, local de descanso dos cortejos fúnebres.

Atravessada a Rigueira, abria-se ao lado esquerdo, uma inclinada ladeira, coberta de lages, a Azinha da Cucanha, que subia à Charneca da Várzea e às Figueirinhas e por onde os habitantes dos Casais de Baixo iam à missa a São Vicente.

O caminho para a Ataíja era o que hoje chamamos Rua da Ponte e dali continuava subindo pelas Tibarôas e Rossanas, até desembocar no Outeiro.

Foi assim durante séculos.  Mas, em 1897, o Governo de Hintze Ribeiro, que já três anos antes tinha classificado como estrada municipal o caminho entre a Lameira e os Casais de Santa Teresa, por Carvalhal, Ataíja de Baixo e Ataíja de Cima, mandou adicionar ao número de estradas municipais de 2ª classe, a ligação entre a Ataíja de Cima, o Cadoiço e Aljubarrota.

Pouco a pouco, o novo caminho foi-se impondo e, em data que desconheço passou a ser a estrada municipal n.º 553, o que julgo ser ainda a sua designação oficial e, no final dos anos de 1940, sofreu um grande impulso com a macadamização. Macadame de má qualidade, diga-se, porque uns dez anos depois já estava muito deteriorado, sobretudo nos pontos mais críticos: A ladeira grande, a chegar a Aljubarrota, a ladeira pequena, onde agora está a fábrica da Marmalcoa, a ladeira do Faca e a dos Caramelos e o Fundo da Igreja, eram tudo sítios onde do macadame já só havia vestígios entre as velhas lages que, de novo, brilhavam ao sol.

Só após o 25 de abril, então com o piso ainda muito mais degradado, pelo tempo e, nos últimos anos, pelo trânsito dos camiões de transporte dos blocos de Vidraço da Ataíja que, entretanto, começara a ser explorado é que, por iniciativa da população, como relatado no post Oalcatroamento da Estrada do Lagar dos Frades,  se vieram a iniciar as diligências que resultaram no alcatroamento da estrada.


Em meados do século XX, para quem vinha de Aljubarrota, a povoação da Ataíja de Cima começava a meio do pequeno planalto que encima a ladeira dos Caramelos. Aí residiam o Ti’ José Tomé e a sua mulher Maria Rosa ou Maria Carlos, conhecida por Maria “Metina”, por ser filha de uma Emilitina. A arruinada casa ainda lá está.

Seguia-se a casa recém-construída de Manuel Branco e Maria Florinda e, já na esquina com a falada Rua da Ponte, a casa de Luís Gomes que foi conhecido por Luís Francelino. A casa também ainda lá está e já falamos dela neste blog, num post com o título O Pátio

Na Rua da Ponte havia uma única casa que também ainda lá está, envolta num emaranhado de vegetação que mal a deixa ver. Aí moravam uma Alice, filha de Alfredo Ângelo da Silva e o seu marido Joaquim “Minderico”, oriundo do Casal do Rei.
Nessa casa funcionou o primeiro telefone que houve na Ataíja de Cima.


Voltando à Estrada do Lagar dos Frades, seguiam-se, já na subida, as casas de Tomé Ribeiro e de sua mulher Maria Jorge (Jorza, como dizíamos), onde agora está a casa de uma sua bisneta.
Em frente, era a casa, que também ainda lá está, de António Bernardino (António do Casal) e de sua mulher Joaquina “Guilhermina”, que aí viveram com os seus dez filhos. No pátio existe ainda uma notável cisterna com cobertura de duas águas.

E, estávamos no Outeiro.
Aí dominava e domina a casa alta onde moravam os irmãos Joaquim e António Matias (são duas casas independentes) e antes tinham morado os seus pais António Matias e Joaquina Carvalha, ela natural dos Casais de Santa Teresa (Casais de Baixo), ainda viva em meados do século. Ele, faleceu aquando da Pneumónica, tal como a sua filha Delfina.
A casa, essa, corre actualmente riscos de ruína, o que é pena pois se trata de uma das casas mais antigas (século XVII) da Ataíja de Cima e tem evidente valor arquitectónico.


Do outro lado da rua a casa que José Sabino (José Coelho) tinha erguido, cerca de 1944 para o seu casamento com Joaquina Rosalia e hoje é propriedade de um dos seus filhos.

Seguia-se uma extensão de cerca de 100 metros de terrenos agrícolas antes de entrarmos no núcleo central da aldeia, o “Lugar”.
Aí, tínhamos as casas de Alfredo Ângelo da Silva, onde está o supermercado e, em frente, uma casa baixa onde funcionava uma taberna que também tinha sido do Alfredo e, comprada pelo Sarrano (Manuel Rei de Carvalho, natural da Bezerra, também conhecido por Manuel Sarrano ou Manuel dos Ovos) foi objecto, logo no início dos anos cinquenta, de obras profundas que aumentaram a área de implantação e lhe acrescentaram um segundo piso, como, no essencial, ainda lá está.
Seguia-se a casa que agora é de Manuel Tomé (desta e da casa do Alfredo falei já no recente post A Rua de Nossa Senhora da Graça ) e, pelo norte e até ao Adro da Capela, tudo eram traseiras de casas da Rua de Nossa Senhora da Graça.

Pelo Sul seguia-se a casa, que ainda lá está, habitada, de Manuel Matias que aí vivia com a sua mulher Maria Cordeira, os filhos e a sogra, primitiva proprietária, uma Ana de alcunha a Riteira.
Pegada, a casa que a viúva Maria Coelho tinha acabado de construir ou reconstruir e agora está a ser objecto de obras que lhe hão-de propiciar uma nova vida.

Mais terreno agrícola e, no Adro, dentro de um pátio, a casa que ainda lá está e foi de João Cordeiro, de quem já falei várias vezes, por ter sido o doador do edifício onde, durante quarenta anos, funcionou a escola da aldeia e eu aprendi a ler e escrever.
Encostada, a casa construída por Joaquim d’Avó, onde ainda vive a sua viúva e, de seguida, a que foi do avô do Joaquim, o “Vigário Velho”, onde agora está a de sua bisneta Deolinda.
Encostada a esta, a casa de José Ribeiro, uma casa antiquíssima que vem pelo menos do século XVIII como o atesta uma inscrição na padieira. Uma casa felizmente ainda viva.

Seguia-se a casa alta, também de José Ribeiro, onde agora está a casa do seu neto Rafael. Mas, naquele tempo já não era propriamente uma casa. O rés-do- chão funcionava como palheiro e o primeiro andar só era usado no tempo da azeitona, servindo de quartel ao rancho que o José Ribeiro costumava contratar para o lado dos Montes. No telhado rodava o moinho de vento que produzia a electricidade para o funcionamento da primeira telefonia que houve na Ataíja de Cima e, julgo, a Amélia ainda conserva.

Colada, onde agora o Rafael tem a garagem, a pequeníssima casa onde António Dias, o Pato Marreco, por alguns também conhecido por Rabo-Loiro, morava com a sua mulher Antónia Rosa e uma extensa família.

Seguia-se, no sítio onde António Faustino Ribeiro, o Mosca, construiu a sua casa e ainda vive a sua viúva, uma casa que então já estava abandonada, a casa do Jorge.
Coisas da infância, lembro-me dela como se fosse hoje: a casa recuada, na sombra de uma arribana, de telha vã e chão de terra, que ocupava toda a frontaria. Ao centro, para ajudar a suportar o telhado, um pilar, um tronco de madeira junto ao qual havia um pequeno maroiço de pedras, onde despontavam silvas.

Vinha depois a casa de António Pereira, o Tita. Um personagem peculiar e um pouco louco que bebia demais, batia na mulher e nos filhos e passou algumas vezes pela prisão. A seguir à casa havia uma enorme figueira de onde ele lançava imprecações e gritos ameaçadores.
Eu tinha um medo terrível dele e dos seus gritos.
Na frente da casa havia um pequeno patim onde, às tantas, o Tita resolveu cravar um eucalipto para servir de mastro e, aos domingos, içava a bandeira nacional, a que prestava honras com um pau de vassoura a servir de espingarda, cerimónia  a que, algumas vezes, obrigou a mulher e os filhos a assistir perfilados. O Regedor quis pôr termo à cena, mas não se tendo provado qualquer desrespeito à bandeira, o juíz mandou o Tita em paz.

Em frente, estavam as casas, hoje a caminho da ruína, de José Salgueiro e Conceição Neto e, antes, uma mais antiga onde morava o irmão dela, José Henriques, também conhecido por José Neto e pela alcunha de O Carago e, então, ainda era solteiro.

De novo do lado sul, havia o pombal, como lhe chamava a minha avó.
Tratava-se da casa de dois pisos onde vivia a minha tia Pequena e que foi consumida por um incêndio. Era o pombal por ter sido construída, mas não acabada (tendo ficado de vãos vazios, como um pombal), por António da Graça, um meio irmão da minha avó que acabou por casar e ir viver nos Milagres e a quem, por isso, chamávamos o Ti’António dos Milagres.


Do outro lado da estrada, era a casa – que ainda está viva e habitada – de outro António Agostinho, também conhecido por António Cláudio e, mais vulgarmente, o Russo, que aí vivia com a sua mulher Delfina e uma extensa prole.
No pátio havia uma frondosa nogueira e na eira, que também ainda existe, estava um certo verão uma amoreia de cereal para ser debulhado.
O Padre, na missa, tinha anunciado que corria entre os coelhos uma doença infecciosa (era a mixomatose, vulgarmente chamada lepra dos coelhos) e que era preciso tomar medidas para evitar o alastramento da doença: Devia abrir-se uma cova no quintal, para enterrar os animais doentes que deviam ser mortos, regados com petróleo e queimados.
Um jovem José Russo quiz fazer tudo direitinho mas esqueceu-se de matar o coelho que, sentindo-se a arder, saltou da cova e foi a correr enfiar-se na amoreia que estava na eira, dando origem a um grande incêndio que foi debelado pela acção abnegada de quase toda a aldeia que, sem auxílio de bombeiros e com a escassa água a ser passada “à formiga”, em baldes, conseguiu confinar e controlar o fogo.


Finalmente, na Serrada, a casa que fora de Matias de Horta e Maria Botas, naquele tempo já desabitada e na posse de José Bernardo, por o Matias e a sua mulher terem, entretanto, sido internados no Asilo.

Tudo visto, por volta de 1950, moravam na Estrada do Lagar dos Frades mais de 100 pessoas.


A casa do Outeiro terá, actualmente, mais de trezentos anos

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

O Caminho do Forno e o Caminho do Barreirão



Um destes dias reparei numa placa, recentemente colocada no caminho que, a poente do campo de futebol, no início da Rua do Martins, segue para sul e ao qual a tal placa chama de Rua dos Barreiros.
Já há uns tempos que andava para falar desta rua porque, a 250 metros do seu início, quando atravessa o terreno que no meu tempo era conhecido por “Olival do Sá” ou “Olival do Couto”, se encontra o caminho “cortado”, numa distância de cerca de 50 metros, por um inusitado prolongamento do chão de uma oficina de transformação de pedra cujo pavimento se prolonga para poente criando um grande parque que ocupa o caminho e continua, de novo na propriedade privada da tal oficina, como se, tudo, propriedade privada fosse.

Não está (ainda não está?) o caminho fechado pelo que se pode subir do nível mais baixo a que normalmente se desenvolve, atravessar o dito “parque” e descer de novo para o nível do caminho continuando, então, até à Ataíja de Baixo, como secularmente se pode fazer.

Vejo agora que os nossos autarcas e todos aqueles que têm por dever zelar pelo interesse público (e, somos todos) não contentes em ficarem impávidos e serenos perante o que acima se descreve, resolveram chamar o dito caminho de Rua dos Barreiros.

Já antes aconteceu, num caminho paralelo, uma situação idêntica: 
Às tantas, a ignorância autárquica resolveu chamar Rua do Lagar à rua que, do lado da serra, bordeja o campo de futebol e o Largo do Cabouqueiro.

É certo que, pelo menos desde os finais do século XIX, lá existe um lagar, onde o Pedro Vigário continua a fazer azeite como já ali o fizeram o seu pai, o seu avô e o seu bisavô.
É certo que encostado a este houve um outro lagar, de que ainda se vislumbram ruínas. Mas esse teve vida mais curta: nasceu de umas partilhas e de umas partilhas morreu.
Seja como for, o dito caminho nunca se chamou caminho do lagar, nem tinha, agora, que se chamar Rua do Lagar. Antes, sempre (ou, pelo menos, durante uns duzentos e cinquenta anos) se chamou caminho do Forno.

Caminho do Forno porque à sua beira, onde agora são as traseiras da fábrica da MVC – Mármores de Alcobaça, Lda, existia um forno de cal que foi, certamente, propriedade dos frades de Alcobaça e terá servido para fabricar a cal indispensável à grande obra de construção do lagar a cujas ruínas hoje chamamos Casa do Monge Lagareiro. Os mais velhos dos ataijenses ainda se lembrarão das ruínas desse forno que, aliás, só há algumas décadas desapareceram de vez.

Veja-se a escritura de compra e venda, celebrada em Alcobaça, no Cartório do Notário Próspero Eugénio Carreira, no dia 28 de Janeiro de 1944, sendo vendedores Raul Ferreira da Bernarda e mulher Mariana Coelho, de Alcobaça e comprador José Ribeiro, da Ataíja de Cima:

Um olival denominado Olival do Santíssimo, confronta a Norte com Basílio Pereira Clemente, herdeiros de José Pereira Clemente, Francisco Vigário, herdeiros de Francisco Malhó e outros, Sul com José Fonseca Júnior, Nascente com Serra e Poente com caminho da Ataíja e herdeiros de José Pereira da Conceição. É uma quarta parte do olival dos frades. Parte desanexada e vendida: sete desasseis avos (desta quarta parte). A parte vendida é olival e confronta a Norte com Basílio Pereira Clemente, Sul com José Fonseca Júnior, Nascente com Serra e Poente com caminho do Forno.

Quase paralelo ao caminho do Forno, desenvolve-se o tal caminho a que agora chamaram Rua dos Barreiros. 
Mais uma vez, falou o desconhecimento.
Este caminho sempre foi chamado de caminho do Barreirão e, portanto, o seu nome devia ser Rua do Barreirão.

E, porquê caminho do barreirão? Porque, um barreiro, dizem-nos os dicionários, é uma lagoa pequena, (mas quando eu era miúdo, qualquer poça era um barreiro). Barreirão era e é, naturalmente, um barreiro grande.
Numa terra onde a escassez de água sempre condicionou a vida, todas as formações, naturais ou não, capazes de reter, ainda que temporariamente, qualquer quantidade, por pequena que fosse, do precioso líquido eram conhecidas e reconhecidas. Daí, que haja pias e piões, covas e covões, barrocos e barrocões, barreiros e barreirões, lagoinhas e lagoas.

Ali, onde estão as ruinas da Casa do Monge Lagareiro e em toda uma extensão paralela ao actual IC2, onde se situam as cotas de nível mais baixas e, portanto, para onde todas as águas tendem a escorrer, situava-se a grande Lagoa Ruiva, a maior lagoa que havia muitos quilómetros em redor e, naturalmente, outras lagoas e vários barreirões. Percebe-se para quê vendo, por exemplo, o Mapa elaborado em finais do seculo XVIII para a construção da estrada de Rio Maior a Leiria[i], a chamada Estrada de D. Maria, cujo traçado é, no geral, ainda bastante reconhecível. No troço desse mapa relativo à zona da Ataíja são, para o lado dos Casais de Santa Teresa, identificadas três lagoas com os respectivos lagares e, entre a Lagoa Ruiva e a Venda da Laranja, (ficava entre os Covões e Nossa Senhora da Piedade), são referidos mais três lagares, cada um deles carecendo de ter por perto a sua lagoa ou o seu barreirão (como exemplo de barreirões junto a lagares de azeite veja-se o caso dos Molianos onde, junto ao Lagar do Barreirão que actualmente serve de sede ao Rancho Folclórico, a Junta de Freguesia de Évora acaba de requalificar a lagoa, ou barreirão).

Veja-se esta escritura celebrada em 30 de Outubro de 1939, em Alcobaça, no cartório da Notária Tetralda Botelho Teixeira de Lemos, pela qual o Capitão Silva Mendes, uma célebre figura regional de que já falamos neste blog, comprou a Manuel Ângelo da Silva (que tinha herdado do seu pai Matias Ângelo um quarto do olival dos frades):

1/8 do Olival dos Frades, nesta parte confrontando de norte com Basílio Pereira Clemente e herdeiros de José Pereira Clemente, Sul José da Fonseca, Nascente Serra e Poente caminho do Barreirão


Eis, assim, três coisas mal feitas.
Todas ainda têm emenda.





[i] V. Azevedo, Ricardo Charters, A ESTRADA de Rio Maior a Leiria em 1791, Textiverso, Leiria, 2011

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

A Rua de Nossa Senhora da Graça em Meados do Século XX




A agora chamada Rua de Nossa Senhora da Graça vai, a breve prazo, sofrer uma alteração profunda e duradoura com a construção do Centro Paroquial e Casa Mortuária, que vão ocupar a totalidade do espaço dos edifícios que foram propriedade de Sabino Vigário e, ainda, o que sobra do que foi a Rua da Penicheira, chegando à Rua de Traz.

É, por isso, adequado deixar aqui uma memória de como era, em meados do Séc. XX, aquela foi uma das principais ruas da aldeia e, naquele tempo, já tinha algumas peculiaridades. 
Desde logo, o nome que nunca soube ou que, de todo, me não lembra. E, no entanto, os homens precisam de dar nomes às coisas, pelo que é certo que aquela rua há-de ter tido um outro nome, antes de há cerca de vinte anos ter recebido o actual.
Depois, porque a rua era em alguns pontos mais estreita, por ter um piso mais acidentado, incluindo uma espécie de degrau, em frente da porta da escola, e uma enorme lage que a estrangulava em frente da casa de Manuel Branco (esta casa não tinha alicerces e assentava sobre a dita lage), ou por não haver nela qualquer portão de pátio, (salvo o pequeno portão que se vê na foto junta), o certo é que a rua era, na prática, pedonal.

Começando lá por baixo, pelo largo do Fundo da Igreja:
Do lado direito, a norte, havia um lagar. O edifício ainda lá está e funciona agora como garagem do Diamantino Pereira. Tratava-se, certamente e vistas as suas dimensões, de um lagar de vinho. As virgens onde articulava a vara ainda são bem visíveis na parede que, precisamente, confina com a nossa rua. Há sessenta anos, essa parede não era rebocada e as virgens eram visíveis do exterior, embutidas na parede, no que me parecia, quando ainda não conhecia o interior, uma antiga e estreita porta emparedada.
Do lado sul, a capela. Sem a sacristia que, naquele tempo era do outro lado, provocando um estrangulamento da estrada que só foi eliminado na segunda metade dos anos de 1970, aquando do alcatroamento e da construção da sacristia actual.
Ao lagar seguia-se a casa de Maria Serafina ou Maria Constantina (era filha de Serafina dos Santos e de Constantino dos Santos, ambos enjeitados) que aí vivia viúva e só, estando a filha Delfina já casada na Rua dos Arneiros.
Logo, adossada, a casa de Manuel Maurício e da sua mulher Silvina. Esta era natural do Lorvão e foi a parteira que ajudou a nascer muitos ataíjenses. Naquele tempo, ainda ali viviam alguns dos filhos que foram, ao que julgo, quatro. Um Manuel, uma Zaida, uma Isaura e o António (da Silvina) que já estava casado, nas Pedras Brancas, num casal que fora da bisavó da sua mulher, e tem um poço, O Poço do Moura, de que já falamos neste blog.
Estas duas casas, as da Silvina e as da Maria Serafina são hoje propriedade de João Salgueiro, foram objecto de obras profundas e estão unidas em uma única residência.
Segue-se uma antiga casa de habitação que naquele tempo já era um palheiro de José Ribeiro, hoje do neto Vitor que a utiliza ou utilizou, como garagem e a casa que era da viúva Maria “da Serra” que foi casada com António Agostinho, meu tio-avô. Tiverem três filhos. O António Agostinho, a Joaquina “da Serra” que foi casada com Francisco Salgueiro e a Maria “da Serra” que foi casada com José Veríssimo. Esta casa foi, posteriormente, adquirida por José “Rebolão” e até há pouco tempo aí viveu a sua viúva, falecida em 1.1.2018.
Segue-se uma pequena travessa que liga à Rua de Trás e ligava, também, à desaparecida A Rua da Penicheira.

Seguem-se uns palheiros que hoje são do José Constantino (Zé Gordo) e, depois, o lugar onde eram as casas que foram de Sabino Vigário e onde este vivia com a sua esposa Joaquina Baptista e os filhos, António “Sabino” e Arnaldo, ainda solteiros, enquanto o mais velho, José, estava “lá para Lisboa”. Seguiam-se mais duas casas do mesmo dono. Uma, pequena, que sempre conheci sem telhado e, entre esta e a de residência, havia uma outra casa onde ele fazia biscates de sapateiro e, por isso, a família chamava de casa do ofício, mas outros chamavam de A Casa do Couto, por a certa altura ter sido propriedade de um comerciante alcobacense desse nome.

Do lado sul, à igreja segue-se o adro que, naquele tempo, era bastante mais pequeno pois lá faltam a  A Escola e o palheiro ou casa do Mira.
Segue-se adega que foi de José Ribeiro e hoje é do neto Rafael mas que não tem acesso senão pela Estrada do Lagar dos Frades. Segue-se a casa onde, naquele tempo, vivia, ainda solteiro, José Henriques, Também conhecido por José Neto e, vulgarmente, por Zé Diabo, primo de um outro José Henriques, também José Neto, conhecido por José Carago. Esta casa foi depois vendida e aí viveu a Badalhoiça com o seu filho Francisco “Casalinho”. 
Encostada, ainda lá está uma pequena casa que pertenceu aos pais do dito José Diabo. Casa antiga onde foi criado o enjeitado Tomé dos Santos, avô de Francisco Rosa Tomé e de Manuel Carlos Tomé que aí estão, vivos, felizmente e de, pelo menos, três raparigas, já falecidas.
Vem, depois, a casa onde viviam o “Cuco”, a sua mulher Teresa Neto, falecida de Tétano, e três filhos. Encostada a esta última estava a casa da “Viana” ou da “Biana”, que o meu tio Porfírio Coelho usava como arrecadação. 
Estas duas casas estão hoje recuperadas e unidas e nelas reside o Paulo Carreira, “o Rodinhas”.
Seguia-se (segue-se) um espaço onde antes houve casas, mas que nos anos cinquenta já era local de depósito de lenhas e, depois, uma pequena construção que agora tem dois pisos mas, naquele tempo, era apenas o palheiro onde vivia o burro do ti Manuel Branco.
Voltando ao lado norte da rua, aos cómodos de Sabino Vigário segue-se a casa que foi do meu tio Porfírio Coelho que então aí vivia com a sua segunda mulher, a minha tia Luísa e cinco filhos e no pátio da qual foi, posteriormente, construída a casa onde hoje vive a viúva do meu primo João “Porfírio”. 
A seguir, uma  travessa que liga ao largo que se forma na Rua de Trás e para onde dão o que resta da Rua da Penicheira e um beco onde havia a casa de O Padrinho Fialho , então já falecido, aquela onde vivia a minha tia Ana como o marido, dois filhos e a sogra viúva e o alpendre das traseiras da casa do ti João Redondo, hoje, tudo, propriedade do José Luís.
Voltando à Rua de Nossa Senhora da Graça, a seguir à dita travessa vem a casa, que ainda lá está, de António Daniel, o ti António Seabra, que aí vivia, julgo que já viúvo, com as três filhas e um filho, todos ainda solteiros.
Agora que a filha Maria, que a habitou nas últimas décadas, está internada num lar de idosos, o destino da casa está, talvez, traçado. O que é pena porque se trata como se vê a um simples olhar, de construção antiquíssima, uma das mais antigas, das poucas antigas que se mantém de pé na Ataíja de Cima. Ora, nesta coisa de conservar edifícios antigos, os mais fáceis de conservar são os mais ricos. A evidente modéstia da casa do Seabra fará, talvez, com que espíritos práticos achem que não merece ser conservada. É pena.
Seguiam-se a casa de Manuel Branco e Maria Custódia que sempre conheci sozinhos. Conheci-lhes, pelo menos, um filho. Um Manuel “Custódio” que morava para os Covões ou Lagoa do Cão, se me não falha a memória. A casa era minúscula e possuía um pequeno pátio nas traseiras. Não havendo outra serventia, tudo entrava e saía do pátio pela porta da casa.
No dito pátio viveu uma porca que, um dia, comeu o braço de uma criança filha do casal. 
Encostada, estava a casa dos meus avós paternos, onde vivi entre os meus três e dez anos de idade e, depois disso passei muitas vezes, as férias grandes. Mas, isso, são contas de outro rosário.
Esta casa já estava no pequeno largo formado pelo entroncamento com a Estrada do Lagar dos Frades, mas sendo esta muito mais recente, temos de considerar que a nossa rua seguia até onde está o supermercado da Lúcia “do Serrano”, onde, naquele tempo, eram as casas de Alfredo Ângelo da Silva. Antes dela, a casa, que agora é de Manuel Tomé e Francelina e, nos anos de mil novecentos e cinquenta, era de Maria “Caseira” e de seu marido Manuel “Barra”, no que eram as segundas núpcias dela, que tinha perdido o primeiro marido nas trágicas circunstâncias que descrevo no post Tétano, já acima mencionado.

Tudo visto, moram actualmente nesta rua umas oito pessoas. 

Há sessenta anos moravam aí mais de quarenta 


Vista actual (8-9-2019), da casa que foi de António Daniel, O Seabra




segunda-feira, 22 de julho de 2019

Quando se jogava futebol na Ataíja de Cima




Na verdade, este post leva-nos a um tempo ocorrido um pouco antes de se jogar futebol a sério na Ataíja de Cima. Leva-nos aos tempos que precederam a constituição do Clube Desportivo e Recreativo Ataíjense que, como referimos em outros posts já publicados neste blog, teve o seu tempo de glória sob a direcção de Francisco da Silva Salgueiro, na segunda metade da década de 1990, quando disputou o campeonato da 1ª Divisão da Federação Distrital de Futebol de Leiria.

Quando esta foto foi tirada, o campo ainda era meio improvisado e de dimensões minúsculas, inferiores ao mínimo regulamentar e ainda convivia com a Lagoa Ruiva, ocupando a parte disponível do respectivo Rossio e assim permaneceu até ao entulhamento da lagoa e à inauguração, no mesmo local, do Estádio da Rã, o que ocorreu em 1 de Outubro de 1995, como se vê da placa que, julgo, ainda ali existe.

Não sei a data da fotografia (talvez algum dos retratados nos consiga esclarecer, com rigor). Muito provavelmente, terá sido tirada em 1979 ou 1980, já que um dos retratados, o Manuel "Pui", agora com 57 anos, diz que teria na data da foto, uns desassete anos de idade.
Certo, é ser a foto anterior a Junho de 1983, ano da morte prematura, por acidente, de Luís Torres (Luis de Sousa Sabino).



Tanto quanto pudemos apurar são os seguintes os jogadores retratados de quem, em alguns casos e para melhor identificação, se indica também a alcunha por que são conhecidos:

Em cima, da esquerda para a direita, Joaquim Maurício (Quim da ti’Maria Rosa), Manuel Agostinho (Manuel Russo), Leonel Maurício (Leonel da Quites), José Branco e Luís de Sousa Sabino (Luis Torres).
Em baixo, também da esquerda para a direita, Silvino Constantino, José Veríssimo, Francisco Tomé, Daniel de Sousa, Vitor Manuel Ribeiro Vigário (Manuel Pui) e Rogério Vigário



Obrigado à Amália pela cedência da fotografia.
Obrigado ao Hélder Matias pela ajuda na identificação dos jogadores.



quinta-feira, 4 de julho de 2019

sobre A Indústria da pedra e o PNSAC



No âmbito das comemorações do quadragésimo aniversário do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, teve lugar no passado dia 28 de Junho de 2019, nas instalações da empresa Solancis (http://www.solancis.com/pt/), na Benedita, um evento subordinado ao tema “Inovação tecnológica e economia circular na utilização de recursos geológicos”

Os cerca de cem participantes receberam as boas vindas do CEO da Solancis, Sr. Samuel Delgado que se congratulou com o facto de ser possível este evento que, disse, ficará na história do sector da pedra e deixa a Solancis muito orgulhosa, por juntar no mesmo propósito  a indústria, o PNSAC, e a escola representada pelo Instituto Politécnico de Leiria, constituindo uma recompensa por muitos anos de trabalho.
Víamos a PNSAC como um inimigo e agora vê-mo-lo como um parceiro. Disse.

O Engº Carlos Neves, professor no Instituto Politécnico de Leiria, proferiu uma palestra subordinada ao tema Fábricas do futuro: A relação connosco e com o cotidiano, na qual percorreu brevemente as caraterísticas distintivas das 1ª, 2ª e 3ª revoluções industriais e a 4ª revolução, que agora desperta e na qual a fábrica, a fábrica do futuro que agora começa, será bastante diferente das que conhecemos, cada vez mais automatizada e robotizada constituída por sistemas ciberfísicos, capazes de produzir produtos inteligentes e centrada no serviço.

Chamou a atenção para o facto de que esta 4ª revolução já começou embora, como aconteceu com as anteriores revoluções industriais, muitos disso se não apercebam.


Célia Marques, Diretora de qualidade, ambiente e território da ASSIMAGRA, falou sobre A sustentabilidade da indústria extrativa no PNSAC: Compatibilizar e cooperar para a exploração racional de massas minerais e a valorização do território, debruçando-se sobre os constrangimentos à actividade extractiva, designadamente a necessidade de assegurar a sustentabilidade ambiental das explorações na área do parque natural,  respeitando o rico património paisagístico, geomorfológico e paleontológico, bem como a sociedade, as populações e a economia tradicional que ainda subsiste em largas zonas e enunciou os problemas para as cerca de 350 pedreiras (de todos os tipos, apenas 98 de rochas ornamentais) que laboram na área e nas novas formas, nomeadamente através de comissões mistas, que vêm sendo encontradas para o diálogo entre o PNSAC, os municípios e a indústria extractiva.

A Dra. Maria de Jesus Fernandes, directora do Departamento Regional de Conservação da Natureza e Biodiversidade de Lisboa e Vale do Tejo, moderou um breve debate, durante o qual o sr. Samuel Delgado referiu a necessidade de breve aprovação do PDM (de Alcobaça) que está em revisão desde o ano 2000 e, do mesmo modo o Plano de Ordenamento do Parque que, igualmente, carece de revisão.

Engº Geólogo Marco Aniceto, da Solancis, falou sobre alguns dos aspectos da actividade da Solancis de cujas 12 pedreiras, 9 se situam na área do PNSAC, centrando-se na recuperação paisagística das pedreiras abandonadas (para cujo enchimento se aproveitam quer as escombreiras locais, quer desperdícios das pedreiras). Mencionou, a este propósito, números interessantes:

As pedreiras existentes do PNSAC ocupam uma área de  776 ha, correspondente a  1,94% da área total do parque que é de 40.000 ha.
As pedreiras da Solancis ocupam 34 ha, correspondente a 4,45% da área total das pedreiras.

Na área do parque foram já objecto de recuperação 80 ha, dos quais 21,7%, correspondentes a 17 ha, foram recuperados pela Solancis.

Enunciou medidas tendentes a assegurar a sustentabilidade das explorações, designadamente o facto de que as pedreiras produzem, quase exclusivamente, para alimentar as necessidades da fábrica (sendo que a fábrica só trabalha para satisfazer encomendas), extraindo-se apenas o necessário e quando necessário, minimizando-se os stocks.

Na fábrica, de imponentes dimensões, que visitámos de seguida, prenderam a atenção deste visitante o elevado grau de automatização, o sistema de recolha de desperdícios (toda a fábrica é percorrida por túneis onde correm tapetes rolantes que recolhem os desperdícios de pedra e os encaminham para o local onde são carregados nos camiões que os conduzem ao seu destino final), a produção própria de energia eléctrica, por recurso a painéis fotovoltaicos que já corresponde a quase 20% do consumo, (respectivamente, 1111 kwh/dia e 6098 kwh/dia) e os números, igualmente impressionantes, relativos à ETAR própria, com capacidade de tratamento de 8000 litros de água por minuto e a produção de lamas que atinge as 30 toneladas diárias.

Ao terminar a visita passamos por um veículo plug-in que estava a carregar as suas baterias e a provar que na Solancis as questões ambientais são levadas a sério.

Numa das paredes da recepção da Solancis este painel mostra diferentes acabamentos da pedra, que a entrada de designers na fábrica e a moderna maquinaria CNC (controlo numérico computorizado) agora permitem.


O PNSAC ofereceu aos participantes algumas das suas publicações:

- Plantas a Proteger no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros;
- Guia de Aves do PNSAC;
- Guia de Recuperação de Áreas Degradadas.

No decurso da visita tive a oportunidade de cumprimentar dois ataíjenses que ali trabalham e se hão-de ter interrogado sobre o que eu fazia ali. A resposta a essa interrogação é simples: Por um lado, a minha convicção de que o assunto interessa à Ataíja de Cima e o objectivo de dar conta dele neste blog. Por outro lado, a tentativa – conseguida – de aprender alguma coisa. É que eu acredito firmemente que, enquanto aprendemos, não envelhecemos verdadeiramente.

A jornada terminou com um pic-nic na Casa Florestal de Vale de Ventos, uma degustação de produtos regionais oferecida pela CMA, que constituiu uma excelente oportunidade para a troca informal de impressões entre os participantes.