sábado, 29 de maio de 2010

Quando a festa de Nossa Senhora da Graça se celebrava no dia 1 de Janeiro

Por aviso de 18 de Janeiro de 1758, o Secretário de Estado dos Negócios do Reino, Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal), fez remeter, através dos principais prelados, e para todos os párocos do reino, os interrogatórios sobre as paróquias e povoações, pedindo as suas descrições geográficas, demográficas, históricas, económicas, e administrativas e a indicação dos estragos provocados pelo terramoto de 1 de Novembro de 1755.

As respostas ao inquérito, naturalmente manuscritas, também chamadas Memórias Paroquiais,  encontram-se actualmente reunidas em 43 volumes, à guarda da Torre do Tombo e constituem um documento único que nos fornece uma grande massa de informações sobre todo o país e como ele era naquele ano de 1758. Estas informações estão hoje à disposição de todos, sendo facilmente acessíveis na Internet através do endereço: http://digitarq.dgarq.gov.pt/


A parte relativa às respostas dadas, em 27 de Abril de 1758, pelo Cura de São Vicente de Aljubarrota tem, infelizmente, dois problemas:

O padre escrevia muito mal e,
Várias das folhas encontram-se muito deterioradas e, por isso, em boa parte, totalmente ilegíveis.


É, no entanto, possível recolher informações interessantes sobre a freguesia e sobre a Ataíja de Cima e descobrir, por exemplo que, há 252 anos, a Festa de Nossa Senhora da Graça se celebrava no dia um de Janeiro:



O que, transcrito, dá:

Tem (a freguesia de São Vicente de Aljubarrota) mais a capella de Nossa Senhora da Graça cuja Imagem parece tam bem antiga e de pedra é do povo daquele lugar que se chama Ataija de Sima esta capella esta em um largo no meyo do lugar…….. alguns rendimentos que tem que servem para a fabrica da dicta Capella e festa da mesma Senhora que la faz em dia da oitava do Natal e nesse dia acode a ella bastante gente dos povos vezinhos, e tem também esta capella em o altar a imagem do Menino Jesus.


Notas:
- As reticências referem-se a uma pequena parte do texto que não conseguimos decifrar
- A oitava do Natal é, no calendário litúrgico, o período de oito dias que se segue ao Dia de Natal.
- Na oitava do Natal (1 de Janeiro) a Igreja Católica celebra a festa litúrgica de Santa Maria, Mãe de Deus. É isso que explica que a festa de Nossa Senhora da Graça da Ataíja de Cima se realizasse naquele dia.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Afonso Vicente e Margarida Vasques – Dois ataíjenses do Séc. XV

No livro “Porto de Mós, Colectânea Histórica e Documental, Séculos XII a XIX”, do Professor Saul António Gomes, já referido em post anterior, consta, (Doc. 236) um contrato pelo qual Afonsso Vecente e Margarida Vaasquez, sua mulher, moradores na Ataíja, termo de Porto de Mós, venderam a Joham Afonso dos Casaaes (termo de Leiria) e a Beatriz Afomso sua mulher a parte dos bens de raiz, sitos em Maceira, Leiria, que tinham herdado por morte dos pais da vendedora.

O documento foi celebrado em Porto de Mós, em 26 de Dezembro de 1468, por João de Santarém, tabelião do conde de Ourém D. Fernando (este D. Fernando era neto de D. João I e filho de D. Nuno Álvares Pereira e, além de conde de Ourém e, portanto, senhor de Porto de Mós, era também, entre muitos outros títulos e prebendas, Duque de Bragança, Marquês de Vila Viçosa, conde de Barcelos e conde de Arraiolos).


O contrato aqui referido contem três elementos relevantes para a história da Ataíja:

- Confirma que naquele tempo, a aldeia era povoada;
- Identifica dois moradores;
- Confirma que, naquela data, Ataíja não integrava os coutos de Alcobaça, pertencendo, antes, ao termo de Porto de Mós.


Neste ano de 1468, reinava em Portugal D. Afonso V, nasceu em Sines Vasco da Gama que, trinta anos depois, havia de descobrir o caminho marítimo para a Índia e (ou, talvez, em 1467) em Belmonte, nasceu Pedro Álvares Cabral que viria a ser o descobridor oficial do Brasil e morreu Gutemberg, o inventor da prensa de caracteres móveis.
O Mundo estava a mudar profunda e rapidamente.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Gente da Ataíja de Cima – Joaquim Rôzo

Joaquim Rosa (também já o ouvi referido como Joaquim Dias), comummente chamado Joaquim Rôzo, de acordo com o hábito local de sexualizar todos os apelidos, era um antigo seminarista, uma espécie de peregrino letrado que levava uma vida de quase vagabundo e era, ao que julgo, natural de Aljubarrota.

Não sendo exactamente um ataíjense, teve uma grande importância na vida da aldeia já que, quando ainda não havia escola na Ataíja de Cima, nos anos 20 do Séc. XX, e no período que antecede imediatamente a abertura da primeira que por aqui houve (inaugurada em 1933), foi o professor com o qual muitas crianças aprenderam a ler e escrever.

O Joaquim Rôzo, nas suas andanças, instalava-se por períodos alargados na aldeia e em sala improvisada e a troco de cama e mesa e alguns pagamentos em géneros, ensinava o bê-á-bá às crianças do lugar.

O meu pai e outras crianças do seu tempo, entre elas o futuro padre Tomás, cujo pai, José Luís de Sousa dispensava a taberna que se transformava em sala de aula, aprenderam com ele as primeiras letras (o meu avô Quitério que sabia ler e escrever por o ter aprendido na tropa e era um dos poucos homens da sua geração que o sabia, mandou que todos os filhos homens aprendessem a ler e a escrever. Às filhas não. Parece que explicava a sua opção com duas perguntas: Afinal de contas para que precisavam elas disso? Para escrever aos namorados?).

As lições de Joaquim Rôzo, apoiadas na Cartilha Maternal de que me lembro de haver, em casa do meu avô, um exemplar - naquele tempo já muito maltratado por sobre ele se ter derramado o conteúdo de um tinteiro -, eram exclusivamente dirigidas a esse objectivo: ler e escrever.

Ensinava em pequenas turmas, de meia dúzia ou menos de crianças, em regime intensivo e de curta duração, largando uma turma e pegando noutra logo que os miúdos aprendiam o mínimo.

Por vezes, ensinava para grupos ainda mais restritos, em casa dos alunos. Foi assim com João Luís de Sousa que, sendo pai de quatro filhas, a todas mandou ensinar em simultâneo, na sua própria casa.

E foi com essas primeiras letras ensinadas pelo Joaquim Rôzo que muitos ficaram e o meu pai ficou até cerca dos trinta e cinco anos, quando veio a fazer o exame da quarta classe em Lisboa, o que lhe permitiu tirar a carta de condução e trocar a vida de leiteiro pela de chófer (chauffeur) de praça, como então se chamava aos motoristas de táxi.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Artistas Ataijenses - Exposição de aguarelas de Inês Neves


A artista ataíjense Inês Neves vai realizar, de 5 a 27 de Junho de 2010, nas instalações da Adega Cooperativa de Alcobaça, uma importante exposição de aguarelas que merece a visita de todos.
Os trabalhos a expor representam um inventário exaustivo de todas as igrejas e capelas do concelho de Alcobaça, pelo que ao valor artístico intrinseco acresce um significativo valor iconográfico, permitindo a todos os visitantes uma visão da totalidade dos edifícios religiosos do nosso concelho.
Inês Neves dedica-se à pintura, sobretudo a aguarela, desde jovem e tem já uma obra realizada muito interessante da qual, aliás, já demos uma amostra neste blog.
Já tive oportunidade de ver e admirar as obras a expôr, todas de grande qualidade, como se pode adivinhar do cartaz, ilustrado com a reprodução da aguarela que retrata a Igreja da Misericórdia de Alcobaça e estou certo de que a exposição será uma experiência extremamente gratificante para todos os visitantes.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Genta da Ataíja de Cima - Maria Rosalia

Maria Rosalia de Sousa nasceu na Ataíja de Cima em 19 de Agosto de 1912, filha de João Luís de Sousa e de Rosalia de Carvalho e morreu, em 28 de Novembro de 1984, no IC2, atropelada por um autocarro.

Foi o primeiro de nove partos de sua mãe, de que só vingaram quatro raparigas: ela, duas freiras a que já nos referimos no post “Vocações religiosas na Ataíja de Cima” e, Joaquina Rosalia de Sousa, a mais nova e a única que casou.

Aos dezanove anos adoeceu gravemente, de “tísica”, como então se chamava à tuberculose pulmonar, ao que parece e segundo a memória familiar, contraída quando procedia a limpezas em casa de um familiar que morreu dessa doença.

Durante a doença, de cura longa e difícil, foi sujeita a tratamentos extremamente dolorosos, através da técnica do pneumotórax, a que se submetia em Leiria onde se deslocava com o pai, numa carroça emprestada por seu tio José Luís de Sousa. Para fazer face às despesas dos tratamentos, o pai viu-se forçado a vender uma fazenda. Mas, pode dizer-se, teve sorte: não só se curou como a partir daí teve uma vida cheia e saudável, até aos 72 anos.

Dotada de uma grande energia, trabalhou as terras da família, como se fosse um chefe de família, criou animais domésticos como qualquer mulher do seu tempo, costurou para fora, fazendo obra nova e remendos e, resultado natural da sua rigorosa vivência religiosa, dedicou-se aos outros:

Aos pais de que nunca se separou e amparou na velhice e na doença (o pai faleceu com oitenta e três anos e a mãe com oitenta e oito, esta sofrendo de paralisia resultante de um “ataque”, um AVC, que a levou a passar os últimos vinte anos de vida numa cadeira de rodas).

Aos sobrinhos de quem foi uma segunda mãe e dos quais sempre tinha alguns em casa.

À Igreja que serviu como catequista, como zeladora das missões franciscanas, cuidando do altar de N. S. de Fátima na Igreja Paroquial de São Vicente e dos trajes dos Cruzados, cozendo bolos para a festa do Sagrado Coração de Jesus, distribuindo os jornais católicos “A Voz do Domingo e “A Voz de Fátima”, oferecendo almoço ao padre e comitiva por ocasião da visita pascal, organizando pequenos ranchos que nos meses de verão faziam peregrinações a Fátima e cantando na missa com uma característica voz tremida.

Aos outros serviu - e esta é faceta da sua vida que tenho mais viva na memória – como a enfermeira que dava as injecções (o que aprendeu com o Dr. Gedeão) aos doentes da aldeia e das aldeias vizinhas, Casais de Santa Teresa, Cadoiço, Ataíja de Baixo e Casal do Rei, chegando a ir até aos Molianos, deslocando-se, quando o tratamento do doente o exigia, mais de uma vez por dia.
E, como dona do único termómetro da aldeia, media a febre e era chamada a acompanhar os últimos momentos dos agonizantes e, se nada mais havia a fazer, rezava e, chegada a hora, ajudava a lavar e vestir o corpo.

Esta vida agitada, durante a qual percorreu, sempre a pé, incontáveis quilómetros, fosse dia, fosse noite iluminando o caminho com uma lanterna de azeite, fizeram dela uma profunda conhecedora de toda a região e uma mulher rija, sem medos e desembaraçada.

No casamento de sua irmã (31-12-1944) a família, muito católica, não queria baile (como nas suas cartas de Paris a irmã freira insistentemente recomendou). Mas um irmão do noivo, Porfírio Coelho, queria e contratou o tocador para animar a festa. Sabendo disso, a Maria Rosalia meteu-se de noite ao caminho e foi até Évora de Alcobaça (a pé, claro) avisar o tocador para não ir, que uma irmã da noiva que estava em França tinha morrido. O que não era verdade, mas podia ter sido já que estávamos em plena 2ª guerra mundial, a casa-mãe da Congregação de São José de Cluny, em Paris, foi efectivamente bombardeada e esta freira esteve dada como desaparecida.

De uma outra vez, andando a cozer pão, a porta do forno soltou-se e caiu sobre um pequeno frango que por ali andava, do que resultou ficar o bicho com as tripas de fora enquanto piava angustiosamente. A Maria Rosalia não se atrapalhou: meteu-lhe as tripas para dentro, cozeu-o com agulha e linha e desinfectou-lhe as feridas com mercúrio (mercurocromo).

O frango sobreviveu, cresceu e fez-se um grande galo!


Na fotografia abaixo, Maria Rosalia, então com 63 anos de idade, no casamento da sua afilhada Amália:

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Ataíja num documento do Séc. XV

O Professor da Universidade de Coimbra, Saul António Gomes, um profundo estudioso da história da Alta Estremadura, cujos antecedentes familiares radicam muito perto de nós (Calvaria, Corredoura) publicou, em edição da Câmara Municipal de Porto de Mós, 1995, um livro monumental, “Porto de Mós, Colectânea Histórica e Documental, Séculos XII a XIX”, no qual inventaria e transcreve muitas centenas de documentos de grande importância para o estudo da história de Porto de Mós e, por isso, também, para a história da Ataíja que nele é referida por diversas vezes.

Um desses documentos (doc. n.º 164), de 1435, é a “Relação das propriedades do Mosteiro de Alcobaça situadas no concelho de Porto de Mós”, onde se inclue:

“Item outro talho no ditõ lugar (accerca de Sam Vecente) que parte do Aguiam com Diogo Nunez e do Soam com caminho que vay pera Atayga e da Travessya entesta n’estrada que vay pera Leyrea e avera em ela huã geyra.”

Vista a aparente simplicidade do texto, arriscamos uma tradução para português moderno:

“Também outro talho, perto da Igreja de São Vicente, o qual confronta do Norte com Diogo Nunes e do Sul com o caminho que vai para Ataíja e do poente entesta na estrada que vai para Leiria e terá de área cerca de uma jeira.”


NOTAS:
1 - Na Ataíja, ainda hoje chamamos talho a um terreno de pequenas dimensões (em regra, a terrenos bem mais pequenos do que este).
2 - O documento dá-nos, apenas, três confrontações:
Norte, (aguiam - aguião ou aquilão - significa vento do norte ou do nordeste.
Sul (soam – suão ou soão – suão significa vento do sul ou do sudeste. Já soão, significa vento que sopra de oriente. Em qualquer caso, trata-se, sempre, de ventos quentes que sopram do quadrante sul) e,
Travessia. Esta palavra, travessia, significando, parece-nos, o lado mais estreito da propriedade, não é, de todo, habitual na designação de confrontações de terrenos. No caso, uma vez que a propriedade confrontava com a estrada para a Ataíja e, a norte, com outra propriedade e, ainda, com a estrada para Leiria, isso significa, inequivocamente, que se situava a nascente desta estrada, no cimo da encosta sobranceira ao Cadoiço, entre a actual estrada de Aljubarrota para Ataíja e o Mogo.
3 - Jeira era uma antiga medida agrária, correspondente à área de terreno que uma junta de bois podia lavrar num dia (cerca de 2500 m2).

sábado, 1 de maio de 2010

Os Frades e a Ataíja de Cima - III - Outros lagares, antes do lagar dos frades

Quando os frades procederam (ordenaram, o trabalho não foi dos frades) à plantação do Olival do Santíssimo e à necessária construção do Lagar dos Frades da Ataíja de Cima, não o fizeram por uma decisão meramente voluntarista mas, antes, para acompanhar o processo de ocupação e aproveitamento agrícola da zona da base da serra dos Candeeiros onde, como concordam os historiadores, já se vinham plantando oliveiras desde o final do Séc. XVII.


Se, como parece certo, foi no mandato do Abade D. Frei Manuel de Mendonça, (quer dizer, entre 1768 e 1777) que se iniciou ou procedeu à plantação do Olival do Santíssimo e à construção do lagar, então deve recordar-se que o Abade era sobrinho do Marquês de Pombal e, não será exagero dizê-lo, seu correlegionário político. (não por acaso, o abaciato de D. Frei Manuel de Mendonça termina em 1877, o mesmo ano em que morre o Rei D. José I e, consequentemente, o ano em que cessa o poder do Marquês de Pombal).

Estas obras de fomento agrícola promovidas pelo abade podem, por isso, ser enquadradas na política geral pombalina de reforma da economia portuguesa.

É certo que a política económica pombalina foi, sobretudo, uma política industrial (na nossa região o exemplo, de todos conhecido, é a criação da fábrica de vidros dos irmãos Stephens, na Marinha Grande) sendo comparativamente irrelevantes as acções dirigidas à agricultura (aqui com a excepção da atenção dada aos vinhos do Porto, com a criação da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro e da primeira região demarcada de produção de vinhos que houve no mundo).

Mas, no caso de Alcobaça e do seu Mosteiro, cujas propriedades eram agrícolas, tudo o que devesse ser feito em termos de reformas havia, necessariamente, de passar pela agricultura. Mas não só. É, ainda, sob o mandato de D. Frei Manuel de Mendonça que se procede a uma funda reorganização dos mosteiros cistercienses portugueses e, com o apoio directo do Marquês de Pombal, é criada no Mosteiro a Real Fábrica de Lençaria e Tecidos de Alcobaça a qual, no âmbito de uma política de privatizações, como hoje se diria, foi vendida a particulares na sequência de uma ordem de 6-7-1892.


Quando Frei Manuel de Figueiredo diz que: “No lugar das ataijas estavam muitas terras incultas, no total domínio do Mosteiro e este as doou ao Administrador das rendas destinadas ao Santíssimo Sacramento e o Administrador mandou aí plantar olival e fazer um lagar que aí se conserva”, isso significa o óbvio: que nem todas as terras estavam no total domínio do Mosteiro.

Havia muitas terras que não eram do Mosteiro (mas sobre as quais e os seus produtos o Mosteiro cobrava impostos diversos e pesados) e foi nestas terras que outros que não os frades plantaram, desde os finais do Séc. XVII, extensas áreas de olival. E, necessariamente, tiveram de construir os lagares para processar a azeitona.

Assim, na nossa região e, certamente, por todos os coutos, os lagares de azeite eram bem mais dos que, hoje, se conseguem identificar através da documentação (designadamente, o inventário a que se procedeu em 1834) do Mosteiro.

Só na pequena distância que vai do Lagar dos Frades da Ataíja de Cima até aos Molianos se identificam, em 1791, três lagares, nenhum deles pertencentes ao Mosteiro (v. “MAPPA TOPOGRAPHICO/ Levantado/ em M.DCC.XCI./ Pelos Officiaes de Infanteria com exercicio de Ingenheiros/ O Coronel Luiz Candido Cordeiro Pinheiro Furtado,/ e o Sargento-Mor Henrique Niemeyer,/ Desenhado/ Pelo segundo Tenente Carlos Luiz Ferreira da Cruz Amarante,/ Para servir de delineamento da estrada desde/ A Serra de Rio-Maior athe Leiria,/ Na conformidade do Alvara de XXVIII de Março do mesmo/anno e das instruçoens dadas/ Pelo Illm°. e Exmo. Sor. Joze de Seabra da Silva/ Ministro e Secretario de Estado dos Negocios do Reino/Ao Dezor. Superintendente Geral das Estradas/ Joze Diogo Mascarennas Neto./ Quartel de Condexa./ 16 de Agosto de 1793”).

O facto de estes lagares estarem representados num mapa elaborado cerca de vinte anos depois da presumível construção do Lagar dos Frades da Ataíja de Cima significa, a nosso ver, duas coisas: (a) que se mantinham, então, em funcionamento e, (b) que eram de construção anterior ao Lagar dos Frades da Ataíja de Cima. Ora, naquele tempo, as oliveiras do olival do Santíssimo apresentavam, ainda e necessariamente, pequeno porte e, por isso, pequena produção, e a capacidade de processamento do lagar da Ataíja de Cima não estava, certamente, esgotada. A manutenção em funcionamento daqueles três lagares significará, assim, a resistência dos povos a, neste domínio, submeterem-se aos interesses imediatos dos frades.

Mas sobre o que, realmente, se passava sabemos muito pouco porque os historiadores têm tendência para se centrar nos frades e no seu ponto de vista. É precisa uma nova leitura dos documentos fradescos (que outros não há ou são muito escassos) que tenha por objectivo encontrar neles as pessoas e as suas vivências.