quinta-feira, 6 de abril de 2017

A(s) Escola(s) da Ataíja de Cima - I

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Um ataíjense andava a estudar para Padre quando, numa mesma semana, lhe morreram pai e mãe. Então e por razões que não sabemos, fosse o desgosto ou a necessidade de tomar conta da casa familiar, abandonou os estudos teológicos, regressou à Ataíja de Cima, casou-se uma primeira vez e, tendo viuvado, voltou a casar-se, tinha então 72 anos e a noiva 25. Faleceram, ambos, com a idade de 98 anos.(Como explicamos num outro post, esta descrição não condiz totalmente com os factos documentados)

Foram os avós paternos de João Veríssimo.

Segundo os meus cálculos, este Veríssimo há-de ter nascido com o Séc.XIX e é um dos mais antigos ataíjenses letrados de que tenho conhecimento.
Os demais ataijenses daquele tempo eram, como quase todos os portugueses, analfabetos.

É certo que, em 1822, já havia em Aljubarrota um professor de primeiras letras mas, não tenho notícia de o seu saber ter chegado a esta borda da serra.

Ainda em 1874, mesmo o carpinteiro Luís Ribeiro não sabia assinar, isto apesar de ser um mestre de ofício e de, nesse tempo, já haver em Aljubarrota um professor do ensino primário.

Tal como, em 1898, o filho daquele, Luís Ribeiro Júnior, também não sabia assinar, pese embora já fosse um abastado proprietário rural.

Por esse tempo, o meu avô Joaquim Coelho Quitério estava na tropa e foi aí que aprendeu a ler e escrever.

Antes disso, o meu trisavô João Maria de Sousa Cláudio, assinou, em trémula letra, pelo menos um assento paroquial. Isto, apesar de, em outros assentos que testemunhou, o Pároco ter declarado que não sabia assinar.

O primeiro esboço de escola que existiu na Ataíja, talvez tenha tido as suas instalações na casa alta que pertenceu ao referido Luís Ribeiro Júnior. Talvez tenha sido aí que o filho José Ribeiro, nascido em 1900, aprendeu a ler e escrever.

Facto é que, naquela casa, (no lugar onde o Rafael Mosca construiu a sua e onde, quando eu era pequeno, funcionava um palheiro no rés-do-chão, o primeiro andar servia de quartel ao rancho da azeitona e sobre o telhado girava o aerogerador que alimentava a única telefonia da aldeia) foram encontrados, após o falecimento de José Ribeiro, restos de um quadro preto, de lousa, e alguns sólidos geométricos de madeira.

A geração seguinte de ataijenses aprendeu a ler, os que aprenderam, com Joaquim Rôzo que por aqui ensinou nos anos de 1920 e, ou, princípios de 1930.

A escola oficial e formal, essa, só chegaria em 1933 e foi construída por adaptação de um palheiro, doado por João Cordeiro, na empena do qual, para iluminar o espaço, se abriram quatro grandes janelas.

Era no Adro, entre o palheiro do Mira, também já desaparecido e a Capela, com entrada pela, agora chamada, Rua de Nossa Senhora da Graça, tinha uma placa com os dizeres: "Obra da Ditadura - 1933" e funcionou até ao ano lectivo de 1972 / 1973.

Apesar da placa, tudo ou quase tudo foi suportado pelos ataijenses que ofereceram, além do edifício, trabalho, madeiras e dinheiro.

A escola tinha uma única sala, cuja porta dava directamente para a rua e não havia electricidade, nem água, nem recreio, nem instalações sanitárias.
Apenas a secretária da professora, três filas de carteiras duplas (na fila do lado direito as carteiras eram maiores e aí se sentavam os alunos da quarta classe) e um quadro preto sobre o qual estavam os retratos do Salazar e do Carmona (que por lá se manteve mesmo muitos anos depois de falecido e substituído na função, primeiro por Craveiro Lopes e, depois, por Américo Tomaz), ladeando um crucifixo.

Aí estudavam as crianças de ambas as Ataíjas.

Uma vez que havia uma única sala, de manhã estudavam os da primeira e os da quarta classe e de tarde os da segunda e os da terceira (ou ao contrário, já não me lembro bem), em turmas mistas.

Aí estudei, da primeira à terceira classes.

Foi demolida, para alargamento do Adro, alguns anos depois da construção da escola actual.


Reconstituição da escola, desenhada a partir de fotos antigas. Aguarela de Inês Neves.




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ADENDA:
No semanário Região de Cister, n.º 1227, de 23 de Fevereiro de 2017, na rubrica Arco da Memória, da autoria de José Eduardo Reis de Oliveira, sob o título: "Recordando Joaquim Augusto de Carvalho" diz-se, a certa altura que o dito Joaquim Augusto de Carvalho, na sua qualidade de presidente da Câmara Municipal de Alcobaça, cargo que desempenhou entre Outubro de 1953 e 1962, "Esteve também ligado à edificação das cantinas escolares em Pataias, Aljubarrota e Ataíja".

Ora, tal não corresponde à verdade dos factos.

Na Ataíja de Baixo não havia escola e a escola da Ataíja de Cima era, naquele tempo, constituída por uma única sala, cuja única porta dava, directamente, para a rua, sem qualquer espaço de recreio ou anexo, sem rede de electricidade ou de água (que só chegariam à Ataíja de Cima em, respectivamente, 1969 e 1993) nem, sequer, instalações sanitárias nem, muito menos, cantina.
Só no novo edifício escolar, aberto no ano lectivo de 1973/1974, houve cantina e não desde o seu início. De facto, a cantina escolar só chegou à Ataíja de Cima em data que ainda não consigo precisar mas, seguramente, não antes do 1980.

É esta a verdade histórica.
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2 comentários:

  1. Que eu saiba, só nestas novas obras é que foi feita uma cantina escolar 2006\2007

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  2. Que eu saiba, só nestas novas obras é que foi feita uma cantina escolar 2006\2007

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