quinta-feira, 11 de julho de 2013

Compadres



Analisando os registos paroquiais do final do Séc. XIX e inícios do Séc. XX (entre 1881 e 1910), verificámos que, de 160 nascimentos ocorridos na Ataíja de Cima, em 48 deles, (30%), um dos progenitores era natural de fora da aldeia.
Significa isto, a nosso ver que, apesar do isolamento a que toda a borda da serra estava sujeito, existia uma mobilidade bastante significativa que, aliás, deu origem a consórcios matrimoniais com pessoas oriundas dos mais desvairados lugares. Lisboa, claro, mas isso é absolutamente razoável já que, sendo Lisboa um local óbvio de emigração, é normal que daí tenham resultado relações amorosas. Mas, também, por exemplo, Moita dos Ferreiros, no concelho da Lourinhã ou, Asseiceira, Tomar.

O que não encontramos foi relações conjugais entre a aldeia e a vila de Alcobaça.

Isso parece confirmar que as relações entre a pequena burguesia alcobacense e os camponeses do leste do concelho, (a quem aqueles, depreciativamente, chamavam serranos), raramente ultrapassavam os aspectos formais inerentes às necessárias trocas comerciais ou ao cumprimento de alguma burocracia.

Ainda era assim há poucas dezenas de anos

Excepções encontrei, até agora, duas. De facto, em pelo menos dois casos, elementos da burguesia alcobacense associaram-se, por compadrio, a famílias ataijenses.

Temos, assim que em 1902, Alfredo, um dos filhos do ataíjense Matias Ângelo teve por padrinho o Tabelião (notário) Alfredo Augusto Jacobety.
Mas, Matias Ângelo não era um ataíjense qualquer. Era o mais rico de todos e, alguns anos depois, viria mesmo a adquirir a um ilustre membro da burguesia alcobacense de então (Olímpio Trindade Jorge,) o Olival do Santíssimo.

Desconhecidas, para mim, são as razões que terão levado António Lúcio Taveira Pinto, merceeiro em Alcobaça a aceitar ser, em 3 de Agosto de 1881, o padrinho de Maria, filha do casal de proprietários ataíjenses João Coelho e Maria de Sousa (ela natural dos Casais de Santa Teresa).

Este António Lúcio Taveira Pinto era um homem rico e, mais do que isso, com ambições sociais, como se deduz do facto de ter enviado o seu filho Aquiles a estudar em Coimbra.

É o que se vê do “Annuario da Universidade de Coimbra / Anno Lectivo de 1891-1892 / Coimbra / Imprensa da Universidade / 1892”, onde se pode confirmar que, naquele ano, eram os seguintes os únicos cinco estudantes de Alcobaça em Coimbra:

- António do Prado de Sousa Lacerda, filho de Duarte de Sousa Lacerda Prado, natural de Aljubarrota.
- José da Silveira Brandão Freire Themudo, filho de José Fortunato da Silveira Freire Themudo de Vera, natural de Alcobaça.
- António de Sousa Neves, filho de Francisco de Sousa Neves, natural de Alcobaça.
- Joaquim Mathias Silvério, filho de Mathias Silvério, natural da Praia da Nazareth (que, então, ainda não era concelho, fazia parte do concelho de Alcobaça).
- Achiles Taveira Pinto, filho de António Lúcio Taveira Pinto, natural de Alcobaça

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