Analisando os registos paroquiais do final do Séc. XIX e
inícios do Séc. XX (entre 1881 e 1910), verificámos que, de 160 nascimentos ocorridos
na Ataíja de Cima, em 48 deles, (30%), um dos progenitores era natural de fora
da aldeia.
Significa isto, a nosso ver que, apesar do isolamento a que
toda a borda da serra estava sujeito, existia uma mobilidade bastante
significativa que, aliás, deu origem a consórcios matrimoniais com pessoas
oriundas dos mais desvairados lugares. Lisboa, claro, mas isso é absolutamente
razoável já que, sendo Lisboa um local óbvio de emigração, é normal que daí
tenham resultado relações amorosas. Mas, também, por exemplo, Moita dos
Ferreiros, no concelho da Lourinhã ou, Asseiceira, Tomar.
O que não encontramos foi relações conjugais entre a aldeia
e a vila de Alcobaça.
Isso parece confirmar que as relações entre a pequena
burguesia alcobacense e os camponeses do leste do concelho, (a quem aqueles,
depreciativamente, chamavam serranos), raramente ultrapassavam os aspectos
formais inerentes às necessárias trocas comerciais ou ao cumprimento de alguma
burocracia.
Ainda era assim há poucas dezenas de anos
Excepções encontrei, até agora, duas. De facto, em pelo
menos dois casos, elementos da burguesia alcobacense associaram-se, por
compadrio, a famílias ataijenses.
Temos, assim que em 1902, Alfredo, um dos filhos do
ataíjense Matias Ângelo teve por padrinho o Tabelião (notário) Alfredo Augusto Jacobety.
Mas, Matias
Ângelo não era um ataíjense qualquer. Era o mais rico de todos e, alguns anos
depois, viria mesmo a adquirir a um ilustre membro da burguesia alcobacense de
então (Olímpio Trindade Jorge,) o Olival do Santíssimo.
Desconhecidas,
para mim, são as razões que terão levado António Lúcio Taveira Pinto, merceeiro
em Alcobaça a aceitar ser, em
3 de Agosto de 1881, o padrinho de Maria, filha do casal de proprietários
ataíjenses João Coelho e Maria de Sousa (ela natural dos Casais de Santa
Teresa).
Este António Lúcio Taveira Pinto era um homem rico e, mais
do que isso, com ambições sociais, como se deduz do facto de ter enviado o seu
filho Aquiles a estudar em Coimbra.
É o que se vê do “Annuario da Universidade de Coimbra / Anno
Lectivo de 1891-1892 / Coimbra / Imprensa da Universidade / 1892”, onde se pode
confirmar que, naquele ano, eram os seguintes os únicos cinco estudantes de
Alcobaça em Coimbra:
- António do Prado de Sousa Lacerda, filho de Duarte de
Sousa Lacerda Prado, natural de Aljubarrota.
- José da Silveira Brandão Freire Themudo, filho de José
Fortunato da Silveira Freire Themudo de Vera, natural de Alcobaça.
- António de Sousa Neves, filho de Francisco de Sousa Neves,
natural de Alcobaça.
- Joaquim Mathias Silvério, filho de Mathias Silvério,
natural da Praia da Nazareth (que, então, ainda não era concelho, fazia parte
do concelho de Alcobaça).
- Achiles Taveira Pinto, filho de António Lúcio
Taveira Pinto, natural de Alcobaça
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