Durante pelo menos todo o Séc. XIX e, ainda, durante a
primeira metade do Séc. XX era vulgar na nossa região que as pessoas se
casassem mais de uma vez.
Tal, tinha duas razões:
Uma, evidente, o falecimento prematuro de um dos cônjuges, fosse
na sequência de acidente (tétano), complicações inerentes ao parto, ou as muitas doenças
epidémicas que assolaram os anos de 1800, sobretudo o tifo e a cólera e as
primeiras décadas do Séc. XX, aqui, ainda o tifo mas, sobretudo, a pneumónica e
a tuberculose.
A outra, a quase impossibilidade de sobrevivência de uma
pessoa adulta solitária, muito menos quando, como em geral era o caso, tinha
filhos menores.
Ainda que não tivesse filhos. A verdade é que uma acentuada
especialização da educação, fazia com que um homem nada soubesse das tarefas
domésticas, nem a mulher estivesse apta ao exercício da generalidade das
tarefas de exterior, caracterizadas, aliás, por exigirem, em regra, um grande
esforço físico.
O homem e a mulher eram, assim, verdadeiramente complementares e, unidos, tinham muito melhores condições para enfrentar as dificuldades quotidianas.
A D. Joaquina Marques, essa, casou por três vezes:
1858
Ataija de
Sima
Joaquina
Marques
m.er de Joaq.im
Verissimo.
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Aos nove dias do mez de
Fevereiro de mil oito centos, e cincoenta, e oito, falleceo e foi sepultada no
Adro d’esta Parochial Igreja de S. Vicente d’Aljubarrota, tendo recebido os
Sacramentos da Penitencia, Sagrado Viático, e Extrema Unção Joaquina Marques,
cazada com Joaquim Verissimo d’Ataija de Sima. Fez disposição verbal deixou a
terça dos seus bens a seo Marido e pela sua alma quinze Missas e pelas almas
de seos dous defuntos Maridos dez, e uma oliveira á Confraria do SS.mo
sacramento desta Freguesia, do que para constar fiz este assento, que
assignarão como testemunhas Joaquim da Roza Sacristão, e Manoel Francisco
Torneiro, dia, mez, e anno ut supra.
O Parocho Manuel
Vieira da Silva
Test.as
Joaquim da
Roza Mel + Fr.o Tornro
|
O que levou a Joaquina Marques a casar três vezes?
O primeiro marido, João Vieira, morreu em 1826 e deixou uma
filha (Maria da Graça), com 12 anos.
O casamento seguinte foi, ainda, mais breve já que o marido,
Joaquim Antunes, veio a falecer logo em Julho de 1833, durante a epidemia de cólera
que, então, assolou a Ataíja de Cima e de que, noutra ocasião, havemos de falar
com mais pormenor.
Nessa altura, em 1833, a Joaquina Marques teria cerca de
quarenta anos e já estava viúva duas vezes!
Do terceiro casamento, não houve filhos, ao menos que
tivessem sobrevivido. Ou seja, o marido Joaquim Veríssimo, não tinha
descendentes.
Porquê, então, a deixa que lhe faz a falecida, com aparente
prejuízo de sua filha Maria da Graça?
Claramente, a Joaquina Marques quer assegurar as melhores condições ao seu sobrevivo marido mas, ao contrário do que parece, sem prejudicar a filha.
Claramente, a Joaquina Marques quer assegurar as melhores condições ao seu sobrevivo marido mas, ao contrário do que parece, sem prejudicar a filha.
Trata-se de testamentos cruzados.
É que, por sua vez e como se vê do respectivo assento de
óbito, o Joaquim Veríssimo fez testamento a favor de João Maria Cláudio de Souza, genro da Joaquina Marques.
O que me chamou a atenção para este assento de óbito foi a disposição
testamentária pela qual a Joaquina Marques manda que se rezem, “pelas almas de
seos dous defuntos Maridos dez” missas. Foi essa naturalidade na assunção da
pluralidade de casamentos, a qual leva a que todos os três maridos sejam
objecto das últimas atenções da moribunda, que me despertou a curiosidade.
Descobrir que a Joaquina Marques e o seu primeiro marido,
João Vieira, foram meus tetravôs, é um pormenor.
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