A descalçadeira é, dizem os dicionários, um utensílio para
ajudar a descalçar as botas.
E, descalçar a bota é, por definição, uma tarefa difícil.
Daí a extrema utilidade da descalçadeira, instrumento que, no
tempo das botas de elástico, era de uso obrigatório em todas as casas
camponesas e ainda hoje é de enorme utilidade, desde logo para ajudar a
descalçar botins.
O objecto em si é de uma simplicidade e eficiência
espantosas: Uma simples tábua de madeira em cuja parte inferior se prega uma
travessa destinada a elevar a parte dianteira onde um corte em V permite
entalar o tacão da bota. Segura-se a tábua pisando-a com o outro pé e, é só
puxar o pé que se quer descalçar que ele sairá facilmente de dentro da bota.
Tenho uma que uso há uns vinte e cinco anos e foi construída
num dia em que o meu pai andou a ajudar-me a plantar uma sebe de cedros e, acabado
o trabalho, ao fim da tarde, me perguntou: Tens uma descalçadeira? Pois! Não tinha!
Sem se atrapalhar, procurou um pouco em redor, onde ainda
havia restos de madeiras que tinham sido usadas nas obras de construção da casa.
Pegou num serrote, um martelo e dois pregos e alguns minutos depois estava
construída a descalçadeira que, logo ali, foi útil a ambos e amanhã, espero,
hei-de voltar a utilizar.
No que de mim depender esta descalçadeira ainda vai durar
muitos anos.
Gosto muito dela.
Porque quando a olho ou a uso me faz recordar o meu pai e porque é uma peça muito útil, extraordinariamente simples, funcional, eficaz e eficiente. Um aparelho sem defeito.
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