sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A Faiança na Ataíja de Cima

A rede pública de electricidade foi inaugurada na Ataíja de Cima, em Outubro de 1969, nas vésperas das eleições legislativa.

Estavam, assim, criadas as condições para o início de uma nova fase da industrialização da aldeia (industrialização essa que tinha começado em 1955 com o início da exploração do Vidraço de Ataíja, como se disse em post anterior).

Ainda em 1969, começou a ser construída a primeira fábrica de faianças, a SAFARIL – Cerâmica Artística e Decorativa dos Candeeiros, Lda, (cuja escritura publica de constituição da sociedade é de 1972) que tinha entre os sócios fundadores o ataíjense António Baptista Vigário.

Mais tarde, a Safaril integrou-se no grupo empresarial de faianças Martan/Safaril.

Fechou portas e apresentou-se à falência no ano de 2000, encontrando-se as suas instalações actualmente abandonadas.

Na década de 1980, assistiu-se a um grande crescimento do número de fábricas de faiança em todo o concelho de Alcobaça, tendo iniciado actividade um total de, pelo menos, 78 empresas, das quais 7 na Freguesia de São Vicente de Aljubarrota e, destas, 5 na Ataíja:

- Novalco – Novas Faianças de Alcobaça. Lda., a qual, tendo entrado em falência, foi adquirida por novos proprietários que a reabriram com a firma Destinos – Arte Cerâmica, S.A., e encontra-se em funcionamento.

- Carfip – Cerâmica da Figueira Pedral, Lda., que entretanto cessou as suas actividades e em cujas instalações existe, actualmente, uma fábrica de transformação de pedra da empresa Airemármores, Extracção de Mármores, Lda.

Sousicer – Faianças Decorativas. Lda., criada por iniciativa do ataíjense José Fernando Cordeiro de Sousa e que se encontra em laboração.

- Fata – Faianças da Ataíja, Lda., com falência decretada por sentença de 27-02-2003, do Tribunal da Comarca de Alcobaça.

- Sofal – Sociedade de Faianças. Lda., empresa que chegou a ter assinalável projecção. Veio a falir (insolvência declarada por sentença de 20-05-2008, do Tribunal da Comarca de Alcobaça), encontrando-se as suas instalações actualmente abandonadas e em rápido processo de deterioração.


As seis fábricas referidas empregavam, no final do Séc. XX, centenas de trabalhadores do que resultava o pleno emprego da população ataíjense e, por isso, embora o nível salarial fosse bastante baixo, próximo do salário mínimo nacional, esse foi um período de extraordinária prosperidade, tendo o nível de empregabilidade chegado a ultrapassar os 50% da população total da aldeia.


Actualmente, em todo o concelho de Alcobaça, são pouco mais de cinquenta as entidades que constituem o sector da cerâmica utilitária e decorativa, incluindo fábricas, fornecedores de matérias-primas, empresas distribuidoras e artesãos.

Uma vez que o sector se mantém em crise – e não se vê que possa voltar, ao menos em dimensão, ao que foi nos anos de 1980 – a maioria dessas entidades é constituída por “sobreviventes” do período áureo, o que se reflecte, desde logo, na idade média dos trabalhadores que é de cerca de 45 anos. Como sempre no sector, a maioria são mulheres (70%), têm como habilitações literárias a escolaridade mínima obrigatória e são operárias (88%).


NOTA: Este post é, parcialmente, subsidiário do estudo elaborado por Luís Peres Pereira para SDO Consultoria – Análise SWOT ao Sector da Cerâmica Utilitária e Decorativa da Região de Alcobaça – Relatório de Diagnóstico, Junho de 2009, disponível in:

http://www.cm-alcobaca.pt/resources/e948fa0cea16233e67612e1de606d708/Full_Report_Alcobaca_Final_Version_02.pdf

 
Bule "gata" produzido em 1992, na Ataíja de Cima, por SOFAL para a AVON (Estados Unidos)

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