segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A Casa do Monge Lagareiro, II

também denominada ''Lagar dos Frades''




A Casa do Monge Lagareiro, classificada como IIP – Imóvel de Interesse Público pelo Decreto-Lei n.º 67/97, de 31 de Dezembro, publicado no Diário da República, I Série, n.º 301, de 31-12-1997, é um exemplar de arquitectura civil pombalina, localizado na Estrada Municipal n.º 553 (ou Estrada do Lagar dos Frades), em Ataíja de Cima, Alcobaça, junto ao km 98 da Estrada Nacional 1 (IC 2) e a 200 metros a poente deste.

O Olival do Santíssimo (olival dos frades da Ataíja de Cima) e a Quinta onde se incluíam o Lagar dos Frades e a Casa do Monge Lagareiro, formavam em conjunto a exploração agrícola, já que o lagar se justificava para processar as azeitonas do olival e a Casa como armazém e residência do encarregado da gestão do olival e do lagar.

Lamentavelmente, a nosso ver, a classificação da Casa do Monge Lagareiro ignorou esse carácter, deixando de fora quer os vestígios ainda existentes do antigo lagar, quer o muro que rodeia a quinta, os quais me parece terem idêntica importância, histórica, arqueológica e arquitectural.

Edificados em data incerta, na segunda metade do século XVIII, no âmbito da actividade reformadora da ordem de São Bernardo levada a cabo pelo Abade Dom Frei Manuel de Mendonça que – em execução das políticas pombalinas - promoveu a plantação do olival dos frades e a construção do necessário lagar e casa do monge lagareiro, o lagar e a Casa foram erguidos dentro de uma quinta murada, junto à Lagoa Ruiva, da qual o lagar se abastecia de água, muito provavelmente através de uma galeria artificial de que falam testemunhos locais.

A lagoa está actualmente aterrada e ocupada pelo campo de futebol (estádio da rã) e pelo Largo do Cabouqueiro.

A Casa do Monge Lagareiro, agora muito arruinada, é um edifício de planta rectangular e dois pisos, actualmente com cobertura de uma água, pendendo sobre a fachada principal, a nascente. As paredes a norte e a poente são cegas. Dos dois pisos, o térreo destinava-se a serviços e armazenamento do azeite e o segundo a habitação do monge lagareiro que supervisionava o olival, a quinta e o lagar.

A fachada principal, virada a nascente (sudeste, mais rigorosamente) e à serra dos Candeeiros, apresenta no piso nferior duas janelas gradeadas, de moldura simples em pedra calcária da região, encimadas, no piso superior, por janelas com moldura de brincos e frontão de laços. Ao centro, um falso janelão cego, de moldura recortada, é encimado por uma grande e bem trabalhada pedra de armas de Cister, rematado por uma coroa de que actualmente só sobra a parte posterior.

No interior, as janelas do segundo piso surgem como janelas conversadeiras e as paredes divisórias usavam (já não usam, já tudo ruiu) como técnica de construção o chamado taipal à galega, “estrutura com prumos e barrotes de travejamento, tendo pelas 2 faces fasquias, também de madeira, e preenchendo-se o interior com argamassa de argila, cal, cortiça e azeite, obtendo-se assim maior leveza e durabilidade da estrutura e o isolamento térmico, com paredes frescas no Verão e quentes no Inverno” (Paula Noé).

No alçado sul existe uma escada exterior de acesso ao piso superior.

O conjunto da fachada era equilibrado pela existência de dois corpos laterais esconsos, adossados ao corpo principal.

O corpo norte está arruinado há, pelo menos, setenta anos e não tem qualquer ligação funcional com a Casa. Serviu, certamente, instalações do lagar.

O corpo sul, onde se situam os acessos ao edifício e cuja degradação mostra, agora, que foi meramente encostado ao corpo principal da Casa, apresenta ao nível do piso inferior um arco, entretanto parcialmente fechado para nele se abrir uma porta.

As instalações do lagar organizavam-se na fachada posterior, a poente, junto à qual ainda se vêem algumas das “virgens” onde articulavam as varas das prensas.

Pormenor do brazão de Cister, na fachada principal da Casa do Monge Lagareiro, aqui, ainda com a coroa inteira.
A foto, retirada do site do IGESPAR - Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arquelógico ( http://www.igespar.pt/pt/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/detail/74418/)
é da autoria de técnicos do Ministério da Cultura e datada, segundo informação do IGESPAR, de 1987.
 
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