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O ti’ José
Salgueiro era um homem simples, trabalhador e frugal.
Não era visto
na taberna ou outros divertimentos e os hábitos de consumo eram mínimos.
Poupado,
definia-o bem.
Tão poupado
que, por vezes, era alvo de chacota: Andava quilómetros, tratando da sua vida e das suas terras, deslocando-se ao mercado em Alcobaça, à missa em Aljubarrota ou em peregrinação a Fátima, sempre sem meias, com os pés enfiados
nuns botins de borracha, no fundo dos quais, para conseguir alguma ventilação,
colocava, à laia de palmilhas, palhas alinhadas.
Tinha uma voz
característica, emitindo num tom um bocado choninhas que se imitava fazendo um
esgar, de modo a deixar os lábios bem esticados lateralmente e quase fechados.
Aquela
moderação de vida permitiu-lhe poupar algum dinheiro que, às tantas, emprestou a
um conterrâneo para este comprar um veículo automóvel (uma “carrinha”) e
iniciar um negócio.
Um dia, quando
se encontrava à porta de sua casa, à conversa, vendo o dito conterrâneo
passar, conduzindo o tal veículo, em velocidade que lhe pareceu excessiva,
desabafou para o vizinho com quem conversava:
Ai! Ai! Não
gosto nada de ver o meu dinheirinho a andar tão depressa!
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