sexta-feira, 20 de abril de 2012

A velocidade do dinheiro


.

O ti’ José Salgueiro era um homem simples, trabalhador e  frugal.
Não era visto na taberna ou outros divertimentos e os hábitos de consumo eram mínimos.
Poupado, definia-o bem.

Tão poupado que, por vezes, era alvo de chacota: Andava quilómetros, tratando da sua vida e das suas terras, deslocando-se ao mercado em Alcobaça, à missa em Aljubarrota ou em peregrinação a Fátima, sempre sem meias, com os pés enfiados nuns botins de borracha, no fundo dos quais, para conseguir alguma ventilação, colocava, à laia de palmilhas, palhas alinhadas.

Tinha uma voz característica, emitindo num tom um bocado choninhas que se imitava fazendo um esgar, de modo a deixar os lábios bem esticados lateralmente e quase fechados.

Aquela moderação de vida permitiu-lhe poupar algum dinheiro que, às tantas, emprestou a um conterrâneo para este comprar um veículo automóvel (uma “carrinha”) e iniciar um negócio.

Um dia, quando se encontrava à porta de sua casa, à conversa, vendo o dito conterrâneo passar, conduzindo o tal veículo, em velocidade que lhe pareceu excessiva, desabafou para o vizinho com quem conversava:

Ai! Ai! Não gosto nada de ver o meu dinheirinho a andar tão depressa!

.

Sem comentários:

Enviar um comentário