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Numa região caracterizada pela absoluta falta de água
superficial, como era o caso da Ataíja de Cima e de todas as aldeias da Borda
da Serra, desde as Pedreiras até à Venda das Raparigas, o acesso ao precioso
líquido exigia que, no tempo das chuvas, se procedesse ao seu armazenamento em
cisternas ou lagos artificiais, bem como o aproveitamento de toda a que se acumulava em depressões naturais.
Assim, todos os locais onde era possível reter alguma água adquiriam
uma importância decisiva na vida daqueles povos e tinham de ser, claramente,
identificados.
A microtoponímia ataíjense é, disso, evidente reflexo:
Ele há as Barreirinhas, nos Arneiros, já perto da Figueira
Pedral. O Canto do Barreiro, às Hortas, no caminho que vai de junto da casa que
foi de José Bernardo, na direcção da Serra e o Barreirão, já na Ataíja de
Baixo, onde havia um lagar de azeite que a esse barreirão ía buscar a água
indispensável à laboração das azeitonas.
Em todos estes casos, são os solos barrentos, impermeáveis, que
permitem conservar alguma água em depressões do terreno.
Quando atingiam dimensões e capacidade de armazenamento
apreciáveis, permitindo o seu uso comunitário, passavam a chamar-se lagoas: a
lagoa Ruiva, na Ataíja de Cima que era a maior de todas e a lagoa de Ferro, na
Ataíja de Baixo, ambas entulhadas e, também na Ataíja de Baixo, a Lagoa Cova
que ainda lá está e valeria a pena recuperar.
E havia as Lagoínhas (lagoas pequenas), a que se acedia pela
Rua das Covas mas, hoje em dia, também já não retêm água.
E, os pocinhos (poços pequenos), do qual o mais conhecido é
o Pocinho dos Casais, responsável pela grande mancha de verde que se vê em
plena encosta da serra, em forte contraste com a secura envolvente.
As pias também eram topónimo, como encontrei numa escritura
de 1867, relativa à compra de “um olival às pias” mas, cuja localização não
pude confirmar.
Chegamos, finalmente, ao título deste texto.
Piões que nada têm a ver com brinquedos de crianças.
Piões, na Ataíja de Cima, eram pias naturais (pião como
aumentativo de pia – pia grande), concavidades abertas, pela dissolução do calcário, na superfície das rochas,
nas quais se acumulava água que era usada pelos pastores.
É por isso que temos um Vale Pião, um dos vales
que se abrem desde o cume da serra dos Candeeiros e cujo nome se deve à
existência de piões, onde pastores e animais podiam matar a sede.
Um dos blocos de pedra existentes no pequeno museu do
cabouqueiro, junto à Casa do Monge Lagareiro, ilustra bem o que é um pião (a
cavidade em primeiro plano está cheia de água):
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