terça-feira, 7 de agosto de 2012

Vaqueiros


.
Uma das soluções a que, durante toda a primeira metade do Séc. XX, os ataijenses recorreram, para fugir às agruras e carências da vida local, foi a emigração para a região de Lisboa, para tratar de vacas leiteiras.
Do que alguns fizeram profissão onde se mantiveram longos anos.

Entre muitos outros, seguiram esse caminho os irmãos João e Manuel Luís de Sousa (Ver Aqui), Porfírio Coelho e o irmão José Coelho (Ver Aqui), Francisco Jorge (ainda vivo e de quem me lembro, há muitos anos, como responsável de uma grande vacaria que então existia na Quinta do Carmo, em Sacavém, mesmo colada à Portela) e, episodicamente, muito jovem, João Rosa Dias (Janita).

Não que a vida de vaqueiro fosse uma boa vida, que o não era, desde logo por ser um trabalho sem folgas, sem domingos ou feriados. Os animais comem todos os dias e todos os dias as vacas tinham de ser tratadas e mungidas.

Mas, se todos os dias se trabalhava, todos os dias se ganhava alguma coisa. Isso fazia a diferença já que, na Ataíja daquele tempo, não havia trabalho, não havia onde se ganhasse um tostão, salvo na época da azeitona e pouco mais.

Sobre as condições em que esse trabalho de vaqueiro se realizava, é bem elucidativa a fotografia seguinte.



Nela vemos Porfírio Coelho, ainda jovem (a fotografia é, talvez, dos anos de 1930 ou inícios de 1940), numa dessas quintas dos arredores de Lisboa, descalço, camisa e calças arregaçadas, estas de cós largo, onde se enrola uma cinta. Junto à porta da vacaria, a bilha de boca larga, afunilada, para onde se mungia.

A cena é crua, como num filme neo-realista e, à evidente pobreza do vaqueiro, alia-se a decadência do cenário, quase ruínas, apenas contrapontada pela presença dos fios telefónicos, por onde, imagina-se, passará algum progresso, no entanto, muito longe e muito acima do protagonista.

Porfírio Coelho foi por muitos anos vaqueiro (a isso o obrigava as necessidades da vasta família que chegou aos sete filhos - de dois casamentos - e um enteado), trabalhando, segundo a memória familiar “em casa de uns Condes”, até 1948, quando teve de regressar definitivamente, por ter adoecido “dos pulmões”.

Esse regresso à aldeia, quando a filha mais velha tinha apenas 13 anos e o mais novo ainda estava para nascer, teve como consequência inevitável o prolongamento da pobreza, de que o Porfírio nunca se conseguiu livrar.

Apesar dessa pobreza, a casa do ti’ Porfírio foi uma casa onde, sempre, me senti bem e onde gostava muito de estar: Uma chuva de primos para brincar, um tio e uma tia sempre tolerantes com as crianças e … carapaus secos dentro de um crivo.
.

Sem comentários:

Enviar um comentário