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Uma das soluções
a que, durante toda a primeira metade do Séc. XX, os ataijenses recorreram,
para fugir às agruras e carências da vida local, foi a emigração para a região
de Lisboa, para tratar de vacas leiteiras.
Do que alguns
fizeram profissão onde se mantiveram longos anos.
Entre muitos
outros, seguiram esse caminho os irmãos João e Manuel Luís de Sousa (Ver Aqui), Porfírio Coelho e o irmão José Coelho (Ver Aqui), Francisco Jorge (ainda vivo e de quem me lembro, há muitos anos, como
responsável de uma grande vacaria que então existia na Quinta do Carmo, em
Sacavém, mesmo colada à Portela) e, episodicamente, muito jovem, João Rosa Dias
(Janita).
Não que a vida de vaqueiro fosse uma boa vida, que o não era,
desde logo por ser um trabalho sem folgas, sem domingos ou feriados. Os animais
comem todos os dias e todos os dias as vacas tinham de ser tratadas e mungidas.
Mas, se todos os dias se trabalhava, todos os dias se
ganhava alguma coisa. Isso fazia a diferença já que, na Ataíja daquele tempo,
não havia trabalho, não havia onde se ganhasse um tostão, salvo na época da
azeitona e pouco mais.
Sobre as condições em que esse trabalho de vaqueiro se
realizava, é bem elucidativa a fotografia seguinte.
Nela vemos Porfírio Coelho, ainda jovem (a fotografia é,
talvez, dos anos de 1930 ou inícios de 1940), numa dessas quintas dos arredores
de Lisboa, descalço, camisa e calças arregaçadas, estas de cós largo, onde se
enrola uma cinta. Junto à porta da vacaria, a bilha de boca larga, afunilada,
para onde se mungia.
A cena é crua, como num filme neo-realista e, à evidente
pobreza do vaqueiro, alia-se a decadência do cenário, quase ruínas, apenas
contrapontada pela presença dos fios telefónicos, por onde, imagina-se, passará
algum progresso, no entanto, muito longe e muito acima do protagonista.
Porfírio Coelho foi por muitos anos vaqueiro (a isso o
obrigava as necessidades da vasta família que chegou aos sete filhos - de dois
casamentos - e um enteado), trabalhando, segundo a memória familiar “em casa de
uns Condes”, até 1948, quando teve de regressar definitivamente, por ter
adoecido “dos pulmões”.
Esse regresso à aldeia, quando a filha mais velha tinha
apenas 13 anos e o mais novo ainda estava para nascer, teve como consequência
inevitável o prolongamento da pobreza, de que o Porfírio nunca se conseguiu
livrar.
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