Ao consultar o mapa elaborado em
1791 para a construção da estrada de Rio Maior a Leiria[i], verificámos
que nele se identifica, a norte e muito próximo do Vale Vazão (aí designado Casal
do Vazão), a localidade do Casal Novo de que falámos num texto publicado neste blog, em 2011 e, então
julgávamos, erradamente, pertencer à freguesia de São Vicente de Aljubarrota.
Não é o caso uma vez que, de facto, o território onde se
encontra a aldeia, agora em ruínas, do Casal Novo, integra a freguesia do
Juncal. É certo que, num extremo dela, uma cunha apontada ao Vale Vazão, uma
ponta de lança entrando em território de S. Vicente.
Das Memórias Paroquiais, de 1758, não resulta claro se este
Casal Novo já então existia ou não.
É que, na descrição dos lugares que constituem a
freguesia do Juncal, diz o respectivo pároco[ii] que a Cumeira é aldeia
que fica a uma distância de meia-légua para o lado do sul[iii] e tem 13 casas e
quarenta e três pessoas e, “logo adeante”, fica Marco e Casal, “que tem dez
fogos e pessoas vinte e cinco”.
E, mais não diz.
No entanto, tendo usado na ordem de descrição dos
lugares da freguesia o critério de nomear primeiro os que ficam a norte e a
poente da paróquia e, só depois, os que ficam a sul e a nascente, duvidas não
há de que este “Marco e Casal” ficava (ou ficavam? Eram um ou dois povoados?) a sul da Cumeira (de Cima).
Aí, a poente da estrada nacional 8, ainda a carta
militar de 1969 identificava o lugar de Casal Velho, nos nossos dias reduzido a
uma “Rua do Casal Velho” e, a nascente daquela estrada e continuando para
sudeste, o Casal de Além e o Casal Novo este, já então representado, sobretudo,
por ruínas[iv].
Notícias concretas (notícias com gente dentro) do
Casal Novo encontrámo-las nos registos paroquiais de São Vicente de Aljubarrota[v], do que é exemplo o
casamento celebrado em 24 de Novembro de 1804, entre Joaquim Martins, natural
do Casal Novo, onde residia e Ana Maria, da Maiorga.
O pai do noivo era nascido no Casal Novo mas a mãe era natural da Ataíja de Cima, onde os noivos fixaram residência.
O pai do noivo era nascido no Casal Novo mas a mãe era natural da Ataíja de Cima, onde os noivos fixaram residência.
Seja como for, este Casal Novo, foi um casal efémero que
se encontra desabitado desde meados do Séc. XX[vi] e do qual, hoje em dia, apenas
restam ruínas das construções há muito abandonadas.
Visitámo-lo há cerca de dois anos e as fotografias seguintes mostram o estado
em que, então, se encontrava (Nota: O local é acessível por veículo todo o terreno ou bicicleta):
Um olhar atento (notem-se as janelas entaipadas) mostra-nos que, depois de deixar de servir de habitação, esta casa teve outros usos.
A padieira com seu escarção (na Ataíja diz-se pavieira que, aliás, é forma igualmente aceitável).
Padieira ou verga é a peça (na construção tradicional de pedra ou de madeira) que fecha, superiormente, os vãos das portas e das janelas.
Escarção (aqui formado pelas duas pedras colocadas obliquamente sobre a padieira), é o arco que se coloca sobre a padieira para evitar que
sobre ela recaia todo o peso da construção que lhe fica por cima (descarregando esse peso sobre as ombreiras).
Aqui era uma cozinha, como se vê da parede suja de
fumo e da reentrância destinada à guarda de alimentos e, ou, pratos, tachos e outros utensílios da cozinha. (Em casa da minha avó havia uma reentrância assim, a que ela chamava "a buraca" e tinha uma porta de rede. Aí se guardava o pão, o peixe frito, queijos, o açúcar, a massa e o arroz, etc.)
A Natureza tem horror ao vazio
Os do Casal Novo tinham uma bela vista para a serra dos Candeeiros
No meio da vegetação que tudo invade vislumbram-se os restos do
que foi um forno de cozer pão.
Uma pedra de coice, (ou, coiceira), há muito inútil por falta de porta
[i] Sobre a
Estrada de Rio Maior a Leiria (estrada de D. Maria Pia), consulte-se o
interessante livro de Ricardo Charter’s de Azevedo, “A Estrada de Rio Maior a
Leiria em 1791”, colecção Tempos&Vidas-15, Edição Textiverso, Leiria, 2011.
[ii] A
Memória Paroquial do Juncal é acessível online em: http://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=4240415
[iii] Da Igreja
Paroquial, obviamente.
[iv] Na
Carta Militar de 2004, já não aparece qualquer referência a Casal Novo. O local
é agora identificado por Chão da Mança o que, aliás, nos remete para a enorme
qualidade do Mapa de 1791 que, como se pode ver, já aí identificava uma “Fonte
da Mança”.
[v] E,
muitas mais há-de haver nos registos paroquiais do Juncal. Mas, isso já está
fora do âmbito dos nossos estudos.
[vi] Tenho a
informação de que ainda estará vivo no Vale Vazão, ou estava há poucos anos, o
que terá sido um dos últimos habitantes do Casal Novo.