Como a generalidade dos demais bens das
ordens religiosas extintas em 1834, o Olival e o Lagar dos Frades da Ataíja de
Cima foram, nos anos seguintes, vendidos em hasta pública.
Naturalmente, foram as elites do novo regime e os representantes mais abastados da burguesia emergente que adquiriram esses bens e, no caso dos bens do Mosteiro de Alcobaça, foi o “brasileiro” Bernardo Pereira de Sousa que adquiriu, além do mais, os lagares de azeite da Quinta de Chiqueda, da Fervença e das Antas[i] e a Quinta das Freiras de Cós, em Chiqueda[ii].
Naturalmente, foram as elites do novo regime e os representantes mais abastados da burguesia emergente que adquiriram esses bens e, no caso dos bens do Mosteiro de Alcobaça, foi o “brasileiro” Bernardo Pereira de Sousa que adquiriu, além do mais, os lagares de azeite da Quinta de Chiqueda, da Fervença e das Antas[i] e a Quinta das Freiras de Cós, em Chiqueda[ii].
Ao mesmo tempo, por arrematação
realizada no dia 6 de Abril de 1836, adquiriu o Olival do Santíssimo
Sacramento, o Olival dos Frades da Ataíja de Cima[iii].
Quem era este Bernardo Pereira de Sousa
que, na sequência de tais aquisições se tornou dono de 22 prensas de
vara, um terço da capacidade
extractiva dos lagares de azeite do Mosteiro, segundo António Maduro[iv] e, pelo mesmo modo, adquiriu posição dominante
na moagem de cereais?
Bernardo
Villa Nova não incluiu o seu nome entre as personalidades que biografou em “Figuras
de Alcobaça e sua Região”[v].
Dele,
diz António Maduro[vi] que
adquiriu a nacionalidade portuguesa em 1836, abandonando definitivamente o
Brasil e casou com Francisca Jacinta Pereira, uma rica herdeira do também
brasileiro João Pereira Gomes.
A imensa quantidade e qualidade dos imóveis cuja propriedade
acumulou, fez dele o mais colectado pelo imposto da décima[vii] e levou-o,
em meados da década de 1840, a presidente da Câmara Municipal de Alcobaça[viii].
Foi pai de Ana Pereira de Sousa que, em vários lugares, é
identificada como Ana Pereira de Sousa da Trindade[ix], sendo
que o Trindade é apelido do marido João Pereira da Trindade.
O casal teve duas filhas, Clotilde Pereira da Trindade que casou
com Augusto Rodolfo Jorge e Francisca Pereira da Trindade que casou com o Dr. Francisco
Zagallo[x] que,
esclarece Bernardo
Villa Nova, nasceu em Ovar em 1850, licenciou-se em Coimbra em 1876 e, pouco
depois, tornou-se médico municipal em Alcobaça onde viveu até morrer em 1910[xi].
Foi esta Francisca que herdou o Olival do Santíssimo
Sacramento da Ataíja de Cima, como se conclui do que diz Manuel Vieira Natividade[xii]
segundo o qual, no ano de 1885, esse olival era propriedade “do Dr. Francisco
Baptista de Almeida Pereira Zagalo, médico em Alcobaça”[xiii].
Sabemos que o olival foi, depois, propriedade de Olímpio Trindade Jorge, o qual marcou os limites da propriedade com um vasto conjunto de marcos, muitos deles ainda hoje existentes (ver o que aqui publicámos neste blog, em 8-10-2009, sob o Título “Os Marcos do Olival dos Frades” e que com este post pretendemos rectificar, desenvolver e melhorar) e, recorrendo de novo à mencionada obra de Bernardo Villa Nova, ficamos a saber que o Olímpio era sobrinho do Dr. Zagalo (ou seja, de sua mulher) e filho de Augusto Rodolfo Jorge o qual, por sua vez, nasceu no Porto e veio para Alcobaça com 19 anos, em 1866, acompanhando o seu pai, Dr. Bernardo Francisco Jorge “médico que depois de ser agraciado por D. Pedro V com o título de comendador pelos seus serviços prestados por ocasião da epidemia de febre-amarela, veio para Alcobaça como médico municipal”[xiv].
Tornando ao Olival dos Frades da Ataíja de Cima, a sua propriedade passou, talvez por herança ou doação, do Dr. Francisco Zagalo ao sobrinho Olímpio Trindade Jorge que o vendeu, em 1918, pela quantia de 100.000$000, (cem mil escudos ou, cem contos de réis), valor que hoje corresponderia, nos termos da Portaria n.º 281/2014, de 30 de Dezembro, que estabelece, para os bens alienados em 2014, os coeficientes de desvalorização da moeda para efeitos da correcção monetária dos valores de aquisição de determinados bens e direitos, a 171.496.000$00 seja, a € 855.401,40.
O comprador
foi Matias Ângelo, da Ataíja de Cima.
Com a morte
de Matias Ângelo, ocorrida em 1933, o Olival dos Frades da Ataíja de Cima foi
desmembrado e dividido entre os seus herdeiros.
Ruínas (1995) do lagar do Guincho, construído, na margem da Lagoa Ruiva, por Matias Ângelo, para processamento das azeitonas do Olival dos Frades. O lagar está, hoje, totalmente desaparecido, encontrando-se no seu lugar a oficina de Soltage - Derralharia, Lda.
[i] António Valério Maduro, in Monges e
Camponeses – O domínio cisterciense de Alcobaça nos séculos XVIII e XIX. Edição
CEPAE – Centro do Património da Alta Estremadura, 2010.
consultado em 6-4-2015.
[iii] António
Maduro, 50 Coisas de Escrita Vária Alcobacense, Colecção Estremadura, espaços e
memórias, II Série, 06, CEPAE – Centro do Património da Estremadura e Folheto
Edições & Design, 2012, p.193
[iv] António
Maduro, 50 Coisas …, pág. 35
[v] Bernardo
Villa Nova, Figuras de Alcobaça e sua Região, (originalmente publicados em 3
volumes, em Alcobaça, 1959, 1960 e 1961). Edição fac-similada agrupando os 3
volumes, publicada por Rebate, Movimento Cívico, 2002
[vi] António
Maduro, 50 Coisas …, pág. 193
[vii] A
Décima foi um imposto criado em 1641 para prover às necessidades de defesa do
Reino. Era um imposto universal (excluídos os eclesiásticos, mas incluídos os
nobres) sobre o rendimento, fosse de propriedade, trato, maneio ou profissão. O
nome provém do facto de o valor a pagar ser, em regra, um décimo do rendimento
tributado. Evoluiu para se tornar um imposto predial e, é como imposto predial
que é referida, ainda hoje, na linguagem corrente.
[viii] António
Maduro, 50 Coisas…, p.194
[ix] V., por
ex., António Maduro, 50 Coisas…, p.194
[x] Agradecemos
esta informação a um estimado leitor deste blog que, identificando-se apenas
por João, em comentário inserido em 23 de Dezembro de 2012, ao texto inicial
deste post, nos esclareceu sobre estes parentescos, já que Bernardo Villa Nova
(op. cit.) apenas diz que Augusto
Jorge e o Dr. Zagalo casaram com senhoras alcobacenses que, no entanto, não
identifica.
[xi] Bernardo
Villa Nova, Figuras de Alcobaça ….
[xii] in O Mosteiro de Alcobaça (Notas
históricas), Coimbra, Imprensa Progresso, 1885
[xiii] O
facto de o Dr. Zagallo surgir como
proprietário do Olival dos Frades da Ataíja de Cima apenas nove anos após se
ter licenciado, já nos fazia presumir (no texto inicial deste post que
publicámos em 2010 e, por conter erros diversos, agora reescrevemos), que o teria
adquirido por herança de sua mulher.
[xiv] Trata-se, talvez, do mesmo médico que,
nesse ano de 1866, apresentou e defendeu na Escola Médico-Cirúrgica do Porto a
tese: “FRACTURAS DO COLLO DO FEMUR” THESE APRESENTADA À ESCOLA
MEDICO-CIRURGICA DO PORTO PARA SER DEFENDIDA PELO ALUMNO BERNARDO FRANCISCO
JORGE, PORTO, TYPOGRAPHY DE
ANTONIO JOSÉ DA SILVA TEIXEIRA, Rua da Cancella Velha, 62, 1866 acessível na internet em : http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/18311/3/VIII-2_17_EMC_I_01_P.pdf.
(consultado
em 14-04-2015)
6 de junho de 1872 – Falecimento: há notícia de ter falecido em Alcobaça o antigo facultativo desta cidade, Bernardo Francisco Jorge, após acudir na praia da Nazaré a numerosas pessoas vítimas de febre tifoide (“Jornal do Porto”, p. 1).
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