Durante grande parte da primeira metade do século XIX a nossa
região foi palco de sucessivas movimentações militares.
Primeiro, as invasões francesas. Há documentos relatando a presença dos exércitos, quer franceses quer ingleses, desde Agosto de 1808 e, quase sem interrupções, até, pelo menos, Março de 1811.
Tinham passado pouco mais de vinte anos sobre as guerras e os sofrimentos provocados pelas Invasões Francesas quando, de novo, por aqui andaram as botas cardadas dos militares. Agora, era a Guerra Civil travada entre os dois irmãos D. Pedro e D. Miguel, na verdade, a guerra entre o Antigo Regime agonizante e a sociedade moderna que emergia.
Passados pouco mais de três anos sobre o fim da guerra civil, novas incursões militares pela nossa terra. Agora, a chamada Revolta dos Marechais, reacção ao Setembrismo encabeçada pelos mesmos Saldanha e Terceira que tinham vencido a Guerra Civil.
Um dos mais importantes, embora inconclusivo, dos combates havidos durante a Revolta dos Marechais ocorreu no Chão da Feira, praticamente no mesmo local onde 452 anos antes se tinha travado a Batalha de Aljubarrota.
Mais tarde, em 1846 e 1847, a Revolta da Maria da Fonte e a Guerra da Patuleia haviam de trazer novos e sucessivos movimentos de tropas a toda a nossa região.
Mas, do que queremos falar hoje é da Guerra Civil.
Depois das Cortes de 1828 onde D. Miguel se fez proclamar
Rei absoluto, os liberais foram perseguidos e presos aos milhares, muitos foram
mortos e grande número foi forçado a exilar-se. D. Pedro abdica então do trono
brasileiro e em 1831 desembarca nos Açores para, a partir daí, organizar um
exército que desembarcou nos arredores do Porto em Julho de 1832, aí ficando
sitiado pelos miguelistas durante longos 13 meses, até Agosto de 1833.
No início desse ano de 1833, os liberais contrataram para comandar
as suas forças navais um oficial da marinha inglesa, Charles Napier[i]
o qual escreveu um pormenorizado relato da sua participação nesta guerra,
relato esse que, sob o título An Account
of the War in Portugal, foi publicado em Londres em 1836 e, traduzido com o título Guerra da Sucessão em Portugal, foi
publicado em Lisboa em 1841.
Apesar de a tomada de Lisboa pelos liberais e o fim do Cerco
do Porto terem ocorrido em meados de 1833 (Julho e Agosto, respectivamente), a guerra
continuou e só veio a terminar em Maio de 1834 com a assinatura da Convenção de
Évora Monte.
Nesses longos meses, as operações militares tiveram particular incidência na Estremadura onde Leiria permanecia fiel a D. Miguel e no Ribatejo, já que o mesmo D. Miguel, tinha instalado o seu quartel-general em Santarém. O último dos grandes combates desta guerra aconteceu precisamente em Maio de 1834, na Asseiceira, perto de Tomar, apenas dez dias antes da assinatura da Convenção de Évora Monte.
Nesses longos meses, as operações militares tiveram particular incidência na Estremadura onde Leiria permanecia fiel a D. Miguel e no Ribatejo, já que o mesmo D. Miguel, tinha instalado o seu quartel-general em Santarém. O último dos grandes combates desta guerra aconteceu precisamente em Maio de 1834, na Asseiceira, perto de Tomar, apenas dez dias antes da assinatura da Convenção de Évora Monte.
A paginas 125 do Tomo II do referido Guerra Civil em Portugal, o almirante Charles Napier descreve a
conquista de Leiria e os movimentos de tropas que a precederem:
No dia 12 de Janeiro[ii] tomou
o Duque da Terceira o Comando do Exército e estabeleceu o seu Quartel-General
no Cartaxo. Saldanha partiu no mesmo dia para Rio Maior, para onde tinha
destacado uma força na tarde anterior, para formar uma junção com as tropas já
estacionadas, ali e em Alcobaça, perfazendo ao todo cerca de quatrocentos a
quinhentos homens.
No dia 13 a Cavalaria
ocupou os Carvalhos[iii],
e a Infantaria os Molianos e povoações adjacentes. O Tenente-Coronel
Vasconcellos com o 1.° Regimento de Infantaria Ligeira da Rainha marchou no
mesmo dia para Cós e no dia seguinte chegou à Batalha.
Uma copiosa chuva que
durou quarenta e oito horas sem interrupção tinha inundado todo o terreno, mas não
obstante estas dificuldades as colunas estavam empenhadas em marchar sobre
Leiria e atacar aquela Cidade, antes que o inimigo tivesse tempo de se escapar.
Contudo, as dificuldades de uma marcha noturna eram tão grandes que o Marechal
decidiu esperar para o dia seguinte.
(E, no dia seguinte, Leiria foi tomada e, quando os últimos defensores miguelistas a abandonavam, fugindo pela estrada de Coimbra …)
A Cavalaria foi no
seu alcance pelo espaço de uma légua. Matou muitos, e fez muitos prisioneiros
Os Oficiais do Estado
Maior acompanharam a Cavalaria e acharam muita satisfação em tingir as suas
espadas em sangue Miguelista.
Tal é a guerra civil.
Almirante Sir Charles John Napier, pintura atribuída a John Simpson [Public domain], via Wikimedia Commons
[i] O
Almirante Sir Charles John Napier foi um importante e controverso militar e político, com uma
carreira longa e recheada, durante a qual serviu com brilhantismo as armadas
britânica e portuguesa. A sua biografia merece bem uma leitura. (v. https://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_John_Napier)
[ii] De 1834.
[iii] O
lugar que hoje chamamos Pedreiras
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