Luís da Graça de Sousa, nasceu na Ataíja de Cima em 12 de Maio de 1931, (tendo, no entanto, sido registado como nascido a 27 do mesmo mês), filho de Manuel Luís de Sousa e de Maria da Graça.
Para sustentar a numerosa prole, o pai emigrava sazonalmente para a região de Lisboa onde, a meias com seu irmão João Luís de Sousa, era responsável por uma vacaria (os irmãos revezavam-se na função, em períodos de cerca de três meses. Enquanto um ficava por Lisboa, o outro estava na Ataíja cuidando das magras terras familiares e olhando pelas famílias) e foram os tostões assim amealhados que lhe permitiram construir uma cisterna de abóboda que ainda existe junto à casa que foi sua, na Rua das Seixeiras e, a escassos metros, um moinho de vento que existiu onde na segunda metade dos anos de 1940 o seu filho, que foi conhecido por João Frade, construiu a sua casa.
(Sobre essa cisterna publicámos um texto neste blog, em 23-02-2011 - ver AQUI)
(Sobre o moínho publicámos um texto neste blog em 24-08-2018 - ver AQUI)
Tudo isso não obstava à continuada pobreza da família pelo que ao Luís coube, aos 12 anos de idade, ir “servir”, ou seja, como criado de cama e mesa, em casa de um agricultor de Serro Ventoso, onde se manteve até aos 17 anos e ganhou para as primeiras botas.
Regressado à Ataíja, iniciou-se nos negócios de compra e venda de peles de coelho, chinelos velhos, azeite e tudo o que pudesse ajudá-lo a escapar à incerta vida de jornaleiro.
Mais tarde havia de seguir a aventura de se tornar leiteiro, em Lisboa, o mesmo caminho percorrido por muitos alcobacenses da “borda da serra” (conheci pessoalmente leiteiros oriundos de Aljubarrota, Ataíja de Baixo, Casal do Rei, Molianos, etc.e, da Ataíja de Cima, foram leiteiros, entre outros, os meus pais, João Lourenço Quitério e Maria Joaquina da Graça (Maria Carlota).
Naquele tempo, os naturais de uma determinada região emigravam para a capital para exercer uma determinada profissão (ía-se para a profissão de um amigo ou conhecido: galegos e minhotos para tabernas e restaurantes, os tomarenses para a construção civil, os de Tábua para padeiros, alcobacenses também, muitos, para vaqueiros (da Ataíja de Cima foram vaqueiros em Lisboa - cito de memória - Porfírio Coelho, António e Francisco Jorge, João Dias (Janita), João Ângelo e outros) e os alentejanos para operários, fixando-se nos arrabaldes industriais do Barreiro, Amadora e Moscavide).
Em Lisboa se manteve até 1958 – tinha, entretanto, casado em, em 8 de Abril de 1956, com Luísa Cordeiro Catarino - quando regressou à Ataíja, instalando-se na casa dos meus pais, agora minha, onde ficou até que construiu a sua, indo nós ocupar a “parte de casa” onde ele vivia, na cave de um prédio que já não existe, na Rua Luís Monteiro, nº 28, no Alto do Pina).
Aproveitando a recente descoberta do valor comercial do vidraço de Ataíja, que o "Veneno" tinha começado a explorar pouco antes, começou também ele a escavar uma pedreira, num pequeno terreno no Vale Cordeiro que era propriedade do seu sogro, António Catarino. O negócio foi crescendo e a escola que, no tempo próprio, se tinha ficado pela segunda classe, foi retomada aos 37 anos quando, feita a quarta classe, pode tirar a carta de condução, e ter o seu primeiro automóvel.
O resto da história é conhecido:
Dotado de inteligência e carácter e impulsionado por uma enorme vontade de trabalhar, extraordinária visão empresarial, espírito inovador, – Luís da Graça foi sempre um pioneiro, o primeiro a usar nas suas pedreiras cada uma das novas tecnologias e equipamentos que iam surgindo - e capacidade de gestão, o negócio não parou de crescer.
E, a par do negócio, apoiado na divisa que tanto gostava de repetir: “Quanto mais dou, mais tenho!”, cresceu o Benemérito:
Bombeiros, Misericórdias, Autarquias e Associações, de todas as terras onde exerceu actividade industrial, beneficiaram largamente dos donativos de Luís da Graça.
No dia 25 de Maio de 2008, a pretexto da inauguração do monumento aos Cabouqueiros que ofertou à Ataíja, foi objecto de uma grande e merecida homenagem que incluiu o descerramento do seu busto, cuja fotografia ilustra este texto
Manteve-se até perto dos oitenta anos de idade, à frente da sua empresa Sousa & Catarino, Lda (http://sousaecatarino.pt).
Pouco depois, o curso inexorável do tempo impôs-se e Luís da Graça deixou aos seus filhos a direcção efectiva da empresa.
Os últimos anos viveu-os no Lar da Santa Casa da Misericórdia de Alcobaça.
Luís da Graça de Sousa foi um grande industrial, um grande filantropo, um grande ataijense e foi um amigo.
Faleceu no dia 23 de outubro de 2021
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O texto acima foi inicialmente publicado em 22 de Março de 2011, actualizado em 23 de Outubro de 2021 e hoje, 30 de Maio de 2024, de novo actualizado, agora a pretexto da inserção do seu diploma da 4ª Classe, cuja disponibilização agradecemos ao seu neto Marcelo Paulino.