Eira s.f. - Local onde se debulhavam os cereais e frutos de vagem. Havia-as de
vários tipos, todas reflectindo a importância social e o poder económico do
proprietário. Os mais abastados tinham-nas de planta quadrada, fundo de pedra
de cantaria aparelhada em placas de grandes dimensões, paredes de pedra
rebocada e capeamento também de cantaria e porto para entrada do gado e do
trilho, com entalhe para colocação de um taipal de madeira. O piso era
ligeiramente inclinado para uma caleira que, no Inverno, conduzia as águas à
cisterna sempre próxima.
Outras eram simplesmente um círculo de terra argilosa endurecida e
impermeabilizada por um processo que, certamente, chegou até nós através dos
árabes:
Limpo o terreno argiloso de quaisquer plantas, seixos ou pedras, era
picado e coberto com uma camada fina de uma mistura de palha migada miúda,
boniscos e bostas secas e desfeitas. Tudo bem humedecido com água, levavam-se
as ovelhas a andar em círculo para pisar e misturar e, por fim, era tudo
alisado. Deixava-se secar e estava a eira pronta a receber as palhas para a
debulha, feita ao ritmo forte dos cadenciados golpes dos manguais.
Embaçado Adj. – Espantado, surpreso. Encavacado, confundido, envergonhado.
Emos suf. – Forma corrente do sufixo, no vocábulo correspondente à 1ª
pessoa do presente indicativo plural, na generalidade dos verbos intransitivos.
Assim, diz-se, por ex.: andemos, estemos, fiquemos, semos, em vez de
andamos, estamos, ficamos, somos.
Encertar v.tr. - Por encetar (iniciar). Tirar o primeiro bocado.
Enfolar v.tr. - Inchar, ganhar forma de fole. Os coelhos enfolavam, ficavam com a
barriga dilatada, quando comiam verdizela fresca.
Engrolar v.tr. – Aferventar. Cozer brevemente os alimentos. Mal engrolados diz-se dos
alimentos que foram cozidos à pressa, ou sem cuidado e, por isso, se apresentam
mal cozidos (com menos cozedura do que seria correcto). Talvez, por engrelar,
derivando de grelos que, esses sim, se querem pouco cozidos.
Engrolar, significa, também, enrolar a comida na boca, comer lentamente, por
falta de apetite ou por dificuldades de mastigação, como faziam os velhos devido
à falta de dentes.
Enjorcar v.tr. - Atamancar. Mal-enjorcado: mal arranjado, mal vestido.
Enterreirar v.tr. – Fazer um terreiro. Limpar de ervas, com a enxada, o terreno em volta
dos troncos da oliveira e um pouco para lá da largura da copa.
As azeitonas eram varejadas e, de seguida, apanhadas do terreiro.
Enterreiravam-se, tb., outras árvores: nogueiras, figueiras para colher
os figos caídos e dá-los de comer aos porcos e medronheiros para aproveitar os
medronhos de que se fazia aguardente.
Entroviscar v.tr. – Franzir, torcer (o nariz). Entroviscado diz-se do tempo nublado que
ameaça chuva.
Enxofrado Adj. - Diz-se de quem está
zangado, agastado, amuado.
Esbriguar v.tr. - (às vezes, dito desbriguar). Por Esburgar, ou esbrugar, que significa
limpar os ossos da carne. Limpar, pôr a limpo, esclarecer muito bem (por ex.,
na seguinte frase, extraída de uma carta escrita em 1952: “…só depois das coisas estando desbriguadas eu te mandarei dizer”).
Escápula s.f. - Chambaril. Peça feita de um tronco de madeira
de carvalho ou oliveira, com quatro a cinco centímetros de diâmetro, em forma
de V aberto e com as pontas em forma de anzol e na qual, após a matança, se dependura
o porco pelos jarretes (tendões que ligam as pernas traseiras aos ossos
calcâneos, correspondentes aos tendões de Aquiles).
Escarranchar v.tr. – Abrir muito as pernas. Sentar ou montar com uma perna de cada lado do
assento ou da sela (ir ou estar escarranchado, ir ou estar às escarranchas).
Escola s.m. - A primeira escola da Ataíja funcionou entre 1933 e 1973 e era no Adro,
entre o palheiro do Mira, também já desaparecido e a Capela. Com entrada pela,
agora chamada, Rua de Nossa Senhora da Graça, tinha, na parede
virada ao Adro, uma placa com os dizeres: "Obra da Ditadura - 1933",
a qual, infelizmente, se perdeu aquando da demolição.
Foi construída
por adaptação de um palheiro, doado por João Cordeiro, na empena do qual se
abriram quatro grandes janelas para iluminar o espaço. Apesar da placa, quase tudo
foi suportado pelos residentes que ofereceram, além do edifício, trabalho,
madeiras etc.
A escola era,
apenas, uma única sala, cuja porta dava directamente para a rua e não havia
electricidade, nem água, nem recreio, nem instalações sanitárias. Só a
secretária da professora, três filas de carteiras duplas (na fila do lado
direito as carteiras eram maiores e aí se sentavam os alunos da quarta classe)
e um quadro preto com uma moldura de madeira carunchosa, sobre o qual estavam
os retratos do Salazar e do Carmona (que lá se manteve mesmo muitos anos depois
de o retratado ter falecido e sido substituído na função por Craveiro Lopes),
ladeando um crucifixo. Aí estudavam as crianças de ambas as Ataíjas.
Uma vez
que havia uma única sala, de manhã estudavam os da primeira e os da quarta
classes e, de tarde, os da segunda e os da terceira (ou ao contrário, já não me
lembro bem), em turmas mistas. Aí estudei, da primeira à terceira classes.
Foi demolida,
para alargamento do adro da capela, algum tempo depois da construção da escola
actual.
Antes disso, talvez tivesse existido um embrião de escola, uma vez que,
segundo relato de Amélia Ribeiro, foram encontrados na casa alta de seu pai, José
Ribeiro (onde agora, com volumetria semelhante, está a de seu neto, Rafael),
após a morte dele, os restos de um quadro negro e alguns sólidos geométricos em
madeira que sugerem ter, aquele espaço, sido usado como sala de aula.
Escoteira s.f. – (escóteira) Era assim que a minha avó chamava a uma cafeteira de folha
de flandres que havia lá em casa e servia para fazer o café de chicória que
acompanhava as sopas de leite, quando a cabra o dava (a palavra consta no
Priberam mas, com significado substancialmente diverso).
Esfolagate s.m. – Esfola-gato. Salto acrobático, salto mortal, cambalhota.
O DPLP
contém a palavra esfola-gato com o significado de repreensão, censura, falsa
interpretação (que convém dar a alguma coisa) e [antigo] maus tratos, todas,
como se vê, bem diferentes do que, por aqui, significa esfolagate.
O
Houaiss, no entanto, acrescenta que esfola-gato, como regionalismo português, tem
o significado de cambalhota, cabriola, reviravolta.
Esgravulhar v.tr. – Rebuscar minuciosamente. As galinhas esgravulham a terra em busca de
insectos.
Espoar v. tr. - Separar, com a peneira
fina, a farinha de trigo do rolão para fazer o pão-alvo.
Estonar v.tr. - Preparar o terreno para a sementeira, desfazendo as leivas e os
torrões que resultam da lavra com charrua. O mesmo que esterroar ou desterroar.
Estrada de D.
Maria I Top. - Ou Estrada de D. Maria Pia. Planeada e construída no final do Séc.
XVIII, ocupava o corredor onde hoje se situa o IC 2. Frente
à Ataíja era, nos anos cinquenta do Séc. XX, um simples caminho
bastante degrado, não facilmente transitável por automóveis, cujo préstimo não
ia além de serventia para os olivais circundantes, ou para as raras deslocações
às Pedreiras e aos Molianos.
Era um deserto de gente e um mar de oliveiras e, nas suas margens, desde o Casal Boieiro até aos Molianos, apenas existiam, na
Barraca, aos Casais de Santa Teresa, uma única casa e um lagar de azeite.
Estrada do Diamantino Top. - Entre a Ataíja
de Cima e os Casais de Santa Teresa havia um lagar de azeite, onde agora, (logo
a norte do IC9 e perto do IC2) se encontra uma oficina de serralharia, o qual
era propriedade de Diamantino dos Santos Vazão, comerciante de Alcobaça.
Para propiciar o acesso ao lagar, o Diamantino suportou às suas custas a
construção de um caminho em seixos (não esquecer que estamos na zona das
Seixeiras) e pedra, que ía desde o Oueiro, pela Rua das Seixieras, até ao
lagar. Esse trabalho ainda se encontra parcialmente visível e bastante
transitável no troço entre o prolongamento da Rua das Hortas e o entroncamento
com a Rua das Seixeiras.
É, sem dúvida, a mais antiga estrada calcetada da Ataíja e, ao que julgo,
caso único na região.
Estrada do Lagar dos Frades Top. - É a estrada
municipal n.º 553 que liga o IC 2 a Aljubarrota, por Ataíja de Cima e Cadoiço. Era
designada, simplesmente, a Estrada e, pelos mais antigos, no percurso entre o
centro da aldeia e a lagoa, por Azinhaga da Lagoa. Foi construída, em macadame,
no final dos anos quarenta do Séc. XX e, na minha infância, chegava, apenas (o
macadame, entenda-se), até à Lagoa Ruiva tendo sido prolongada até à Estrada
Nacional nº 1 aquando da construção desta, cerca de 1960.
Foi alcatroada na segunda metade dos anos setenta, por iniciativa de um
grupo no qual colaborei e incluía, entre outros, o meu pai e José (Coelho)
Sabino, então ambos emigrados por Lisboa. A população deu trabalho, dinheiro,
pedra e outros materiais, cedeu as faixas de terreno necessárias ao alargamento
e a pequenas rectificações do traçado e reconstruiu as paredes.
O traçado foi definido pelo Sr. Carrão, funcionário da Câmara, que
percorreu o centro da via transportando nos braços uma comprida vara cujas
pontas assinalavam os bordos da estrada que se iam marcando com estacas.
Nota: Apresenta-se apenas uma parte (cerca
de 1/3) dos vocábulos e expressões recenseados,
começados pela letra E.