Joaquim Rosa (também já o ouvi referido como Joaquim Dias), comummente chamado Joaquim Rôzo, de acordo com o hábito local de sexualizar todos os apelidos, era um antigo seminarista, uma espécie de peregrino letrado que levava uma vida de quase vagabundo e era, ao que julgo, natural de Aljubarrota.
Não sendo exactamente um ataíjense, teve uma grande importância na vida da aldeia já que, quando ainda não havia escola na Ataíja de Cima, nos anos 20 do Séc. XX, e no período que antecede imediatamente a abertura da primeira que por aqui houve (inaugurada em 1933), foi o professor com o qual muitas crianças aprenderam a ler e escrever.
O Joaquim Rôzo, nas suas andanças, instalava-se por períodos alargados na aldeia e em sala improvisada e a troco de cama e mesa e alguns pagamentos em géneros, ensinava o bê-á-bá às crianças do lugar.
O meu pai e outras crianças do seu tempo, entre elas o futuro padre Tomás, cujo pai, José Luís de Sousa dispensava a taberna que se transformava em sala de aula, aprenderam com ele as primeiras letras (o meu avô Quitério que sabia ler e escrever por o ter aprendido na tropa e era um dos poucos homens da sua geração que o sabia, mandou que todos os filhos homens aprendessem a ler e a escrever. Às filhas não. Parece que explicava a sua opção com duas perguntas: Afinal de contas para que precisavam elas disso? Para escrever aos namorados?).
As lições de Joaquim Rôzo, apoiadas na Cartilha Maternal de que me lembro de haver, em casa do meu avô, um exemplar - naquele tempo já muito maltratado por sobre ele se ter derramado o conteúdo de um tinteiro -, eram exclusivamente dirigidas a esse objectivo: ler e escrever.
Ensinava em pequenas turmas, de meia dúzia ou menos de crianças, em regime intensivo e de curta duração, largando uma turma e pegando noutra logo que os miúdos aprendiam o mínimo.
Por vezes, ensinava para grupos ainda mais restritos, em casa dos alunos. Foi assim com João Luís de Sousa que, sendo pai de quatro filhas, a todas mandou ensinar em simultâneo, na sua própria casa.
E foi com essas primeiras letras ensinadas pelo Joaquim Rôzo que muitos ficaram e o meu pai ficou até cerca dos trinta e cinco anos, quando veio a fazer o exame da quarta classe em Lisboa, o que lhe permitiu tirar a carta de condução e trocar a vida de leiteiro pela de chófer (chauffeur) de praça, como então se chamava aos motoristas de táxi.
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