O Professor da Universidade de Coimbra, Saul António Gomes, um profundo estudioso da história da Alta Estremadura, cujos antecedentes familiares radicam muito perto de nós (Calvaria, Corredoura) publicou, em edição da Câmara Municipal de Porto de Mós, 1995, um livro monumental, “Porto de Mós, Colectânea Histórica e Documental, Séculos XII a XIX”, no qual inventaria e transcreve muitas centenas de documentos de grande importância para o estudo da história de Porto de Mós e, por isso, também, para a história da Ataíja que nele é referida por diversas vezes.
Um desses documentos (doc. n.º 164), de 1435, é a “Relação das propriedades do Mosteiro de Alcobaça situadas no concelho de Porto de Mós”, onde se inclue:
“Item outro talho no ditõ lugar (accerca de Sam Vecente) que parte do Aguiam com Diogo Nunez e do Soam com caminho que vay pera Atayga e da Travessya entesta n’estrada que vay pera Leyrea e avera em ela huã geyra.”
Vista a aparente simplicidade do texto, arriscamos uma tradução para português moderno:
“Também outro talho, perto da Igreja de São Vicente, o qual confronta do Norte com Diogo Nunes e do Sul com o caminho que vai para Ataíja e do poente entesta na estrada que vai para Leiria e terá de área cerca de uma jeira.”
NOTAS:
1 - Na Ataíja, ainda hoje chamamos talho a um terreno de pequenas dimensões (em regra, a terrenos bem mais pequenos do que este).
2 - O documento dá-nos, apenas, três confrontações:
Norte, (aguiam - aguião ou aquilão - significa vento do norte ou do nordeste.
Sul (soam – suão ou soão – suão significa vento do sul ou do sudeste. Já soão, significa vento que sopra de oriente. Em qualquer caso, trata-se, sempre, de ventos quentes que sopram do quadrante sul) e,
Travessia. Esta palavra, travessia, significando, parece-nos, o lado mais estreito da propriedade, não é, de todo, habitual na designação de confrontações de terrenos. No caso, uma vez que a propriedade confrontava com a estrada para a Ataíja e, a norte, com outra propriedade e, ainda, com a estrada para Leiria, isso significa, inequivocamente, que se situava a nascente desta estrada, no cimo da encosta sobranceira ao Cadoiço, entre a actual estrada de Aljubarrota para Ataíja e o Mogo.
3 - Jeira era uma antiga medida agrária, correspondente à área de terreno que uma junta de bois podia lavrar num dia (cerca de 2500 m2).
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