sexta-feira, 9 de julho de 2010

Pedra insonsa

Os estudiosos que têm publicado sobre a região serrana do concelho de Alcobaça dão, sistematicamente, uma grande importância às construções em pedra seca ou insonsa, quer dizer, sem qualquer argamassa.
Mas, se esse tipo de construção é evidente nas delimitações das propriedades, em paredes de estrutura muito simples, a maioria das vezes mera sobreposição das pedras, solução aliás comum em muitas regiões de Portugal (por exemplo, nas zonas rurais do concelho de Sintra) e, também noutros países da área mediterrânica, como se vê na fotografia seguinte tirada na Croácia mas que bem o poderia ter sido no vale da ribeira do Mogo:



A verdade é que na Ataíja o uso desta técnica foi muito limitado no que respeita à construção de edifícios e outras estruturas mais complexas. Pelo menos nos últimos dois séculos, é de crer que o exemplo dos frades que construíram o lagar dos frades com uma argamassa de barro, cal e borras de azeite, tenha sido largamente copiado. Os muros da "quinta", são, aliás, um extraordinário exemplo da qualidade desta construção, mantendo, após duzentos e cinquenta anos, uma notável solidez, como se vê da fotografia seguinte:



Esse uso limitado da técnica de construção em pedra insonsa é bem compreensível desde logo, porque é claramente mais fácil construir com argamassa com o que se dispensa (à custa, até certo ponto, da solidez do conjunto) um aparelhamento mais minucioso das pedras de enchimento.
Havia, construidas em pedra seca, muitas cortes de porcos, covas de bagaço e pequenos palheiros ou casas de arrumos mas estão hoje quase todas desaparecidas.
Os poços eram, também, construidos em pedra seca e nisso se distinguiam das cisternas que eram argamassadas com uma mistura de barro e cal e rebocadas.
A maioria dos poços, designadamente os mais característicos, com cobertura de telha, estão hoje desaparecidos.
Sobram, no entanto alguns com falso aspecto de cisterna, como é o caso do que foi construído pelo meu avô Joaquim Coelho Quitério: tem cobertura de cimento armado e, apenas na parte que emerge da terra, a parede rebocada pelo exterior, como se vê na fotografia seguinte:



Das paredes de edifícios, construídas em pedra seca, o caso mais notável, pela qualidade da construção, que se pode ver nas ruas da Ataíja, é a parede de um anexo à residência que foi de Maria Branca, na Rua das Hortas, de que a fotografia seguinte apresenta um pormenor. De notar que quando esta parede foi construída já não havia na Ataíja pedreiros especializados nesta técnica tendo, segundo me explicou Joaquina Branco, a construção sido feita a mandado de seu pai por pedreiros que vieram "de trás da serra".

 

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