quarta-feira, 14 de julho de 2010

Santo António na Ataíja de Cima

Na capela de Nossa Senhora da Graça da Ataíja de Cima, sobre duas peanhas de pedra cravadas na parede que ladeiam o nicho onde se encontra a imagem do orago, estão, dentro de redomas de vidro, as imagens do menino Jesus e de Santo António.
Trata-se de imagens modernas, adquiridas já na segunda metade do Séc. XX, para substituir outras mais antigas que se encontravam muito deterioradas e, pelo menos o menino Jesus, das últimas vezes que saiu em procissão tinha, inclusive um dos braços partidos.
Inicialmente e até ao Séc. XVII, na capela havia, ao menos a acreditar no autor do COUSEIRO, apenas a imagem de Nossa Senhora da Graça. Entre meados do Séc. XVII e meados do Séc. XVIII, foi acrescentada a imagem do menino Jesus, uma vez que no seu relatório de 1758 o cura de São Vicente diz que ela está sobre o altar, sem fazer qualquer referência a Santo António.

A introdução da imagem de Santo António é, pois, posterior e, em data que não conhecemos, passou a realizar-se uma festa em honra do Santo no dia 15 de Agosto.

Ora, Santo António é tradicionalmente festejado, em 13 de Junho. Qual, então, a justificação para que na Ataíja seja celebrado em 15 de Agosto?
É que Santo António nasceu em Lisboa, onde foi baptizado com o nome de Fernando de Bulhões, em 15 de Agosto de 1191 (ou 1195, não se sabe bem), e faleceu em Pádua em 13 de Junho de 1231. O que comemoramos é, assim, a data de nascimento do santo.

Santo António foi frade agostiniano mas, em 1220, ingressou na OFM (Ordem dos Frades Menores, Franciscanos) de cujo Capítulo Geral, em Assis, Itália, fez parte por convite do próprio São Francisco.
Foi canonizado pelo Papa Gregório IX no dia 30 de Maio de 1232, menos de um ano após a sua morte, o que diz bem do prestígio de santo que adquiriu em vida.
Em 1946, o papa Pio XII proclamou-o Doutor da Igreja, considerando que foi um exímio teólogo e insigne mestre em matérias de ascética e mística.

"Assentou praça" em 1668 e foi sucessivamente promovido a capitão, e a Tenente-Coronel do Exército Português, com direito ao respectivo soldo e o mesmo aconteceu no Brasil durante todo o período imperial, com a patente de Tenente-Coronel e direito ao soldo que só deixou de ser pago em 1911.

Santo muito popular em países como Portugal, Itália, Brasil e Espanha (onde, em Ciudad Real, o vi festejar rijamente) tornou-se, em detrimento de São Vicente, o patrono popular de Lisboa que o comemora com sardinhas assadas na noite mais alegre, movimentada e anárquica do ano. É santo casamenteiro, advogado de causas perdidas e afamado milagreiro (no Brasil fazem promessas e colocam a imagem de cabeça para baixo até que se cumpram).

Como é que um místico e asceta Doutor da Igreja se torna um santo tão popular, sempre associado na imaginação do povo a festa e alegria? Não sei mas, a verdade é que todos os franciscanos que conheci eram pessoas alegres, bem dispostas e com gosto de viver. Talvez Santo António fosse um franciscano assim.


FESTA EM HONRA DE SANTO ANTÓNIO

ATAÍJA DE CIMA

15 DE AGOSTO DE 2010

Sem comentários:

Enviar um comentário