Foi preciso esperar até aos meados do Séc. XX para que os veiculos motorizados passassem a percorrer com alguma regularidade os caminhos da Ataíja de Cima.
A primeira camioneta, sobre a qual não possuo qualquer informação relativa a marca, modelo e características técnicas, era propriedade de uma sociedade informal que tinha por sócios o ataíjense João Veríssimo e José Damião, natural de Aljubarrota, tio da antiga Deputada e Euro-deputada, Elisa Damião e genro de José Ribeiro, da Ataíja de Cima.
Esta camioneta já existia em 1949, como se vê de uma carta já referida neste blog (aqui) e, em Agosto desse ano, fez transporte de resmo para as obras de construção da Estrada do Lagar dos Frades e, segundo me disse o próprio João Veríssimo, foi adquirida em segunda mão e durou pouco tempo, tendo ficado destruída num acidente que sofreu perto de Leiria o que, aliás, acarretou para o pai do João Veríssimo que tinha sido o financiador da aquisição, um prejuízo de 40 contos. (1)
Tratava-se de uma camioneta relativamente pequena, como se deduz de uma história que sempre me lembra de ouvir e segundo a qual, tendo-se a dita camioneta avariado lá para a borda da serra, foi ela rebocada pela junta de bois de José Ribeiro.
Seria necessário esperar cerca de 10 anos até que um pouco antes de 1960 (2), Luísa Ribeiro comprou, nova, a primeira camioneta inteiramente propriedade de um ataíjense. Esta camioneta circulou durante décadas tendo, após o falecimento de Luísa Ribeiro, ficado na posse do seu viúvo. Este, devido a um defeito numa das mãos, era conhecido por José Maneta, pelo que a camioneta era, igualmente, de todos conhecida como a camioneta do Maneta.
Tratava-se de um pequeno veículo, com um peso bruto de cerca de 3.000Kg, uma pick-up de marca Opel que se vê na fotografia seguinte:
(junto à camioneta do Maneta vai a passar António Matias Júnior, conduzindo a sua junta de vacas que transportam sobre o carro um bidão de àgua que foram buscar à Lagoa Ruiva. Em segundo plano vê-se o barracão que o Maneta estava, então, a construir. Ao fundo, as casas que foram de Alfredo Ângelo da Silva e onde agora existe o estabelecimento de mercearia, utilidades, tecidos e confecções de Maria Lúcia Carvalho Gomes. Não sei a data da fotografia mas é, certamente, posterior a 1969, uma vez que ao fundo se vê, também, um poste de electricidade.)
Ainda em meados da década de cinquenta, surgiu na Ataíja de Cima a primeira mota. Era de marca Norton
mas desconheço o modelo e outras características. Foi propriedade de António Faustino Ribeiro, O Mosca, que com ela teve um acidente, em 1956, quando transportava, à pendura, o seu amigo António Baptista Vigário, conhecido por António Sabino o qual, na queda, sofreu fracturas cujas sequelas o incapacitaram para o trabalho agrícola e ditaram o seu futuro de comerciante e industrial.
Entretanto, em 1950 ou 1951, também chegou à Ataíja de Cima o primeiro automóvel ligeiro de passageiros. Era um Opel, propriedade do António Sabino acima referido o qual, por à época ter apenas 18 anos de idade (a maioridade atingia-se aos vinte e um anos), teve de ser emancipado para poder tirar a carta de condução.
Durante anos não houve outro automóvel na Ataíja de Cima e, ainda quando a estrada do Lagar dos Frades foi alcatroada, em 1976 se não me engano, os dedos de uma mão sobravam para contar os que havia.
Um desses raros automóveis foi um velho Studebaker que foi propriedade de Horacio Gomes de Carvalho e um dia, aí por 1970, em resultado da forte rivalidade que naquele tempo ainda havia entre a Ataíja de Cima e os Casais de Santa Tereza, provocada, quase sempre, por questões de namoros, veio de lá, dos Casais de Santa Teresa, com uma machada cravada no capot.
Agradecimento:
Na versão inicial deste post tinha eu deixado um apelo: " Aos leitores ataijenses: Neste post, como noutros, são evidentes algumas lacunas de informação. O que aqui fica é aquilo de que eu tenho conhecimento ou de que me lembro. O que importava que ficasse era o que, de facto, aconteceu.
Fica, pois, o pedido para que me façam chegar os comentários, os esclarecimentos e as correcções que forem pertinentes".
O apelo surtiu efeito.
Obrigado a todos os que, com a sua colaboração, (António, Fernanda, Isabel e Anabela Matias, João Veríssimo, Sousa & Catarino, Lda e António Baptista Vigário) permitiram a melhoria do texto e do seu rigor histórico.
No entanto, este texto não está ainda fechado, faltando referir, designadamente, as motorizadas.
Quem poderá ajudar-me a completar a história dos primeiros veículos motorizados na Ataíja de Cima?
NOTAS:
(1) 40.000$00 (quarenta mil escudos), correspondentes a € 199,52 mas equivalentes, considerando-se a desvalorização da moeda e a correcção monetária, (ver Portaria 772/2009) a € 15.705,83, No entanto, se nos lembrarmos que, naquela época, um homem ganhava no campo não mais de 27$00, então temos a verdadeira importância daqueles quarenta contos: mais de 5 anos de trabalho de um jornaleiro! (ou quase 7 anos se trabalhassem tantos dias como nós agora trabalhamos).
(2) A matrícula, visível na fotografia, é dos anos de 1957/58. (informação dísponível em http://www.anecra.pt/gabtec/p002.aspx, consultado em 17 de Setembro de 2014)
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