Há vários indícios de que no Século XIX, pelo menos a partir
da extinção das Ordens Religiosas e das profundas alterações na propriedade e no
sistema produtivo que, na nossa região, se verificaram em virtude da saída dos
frades de Alcobaça e da consequente venda dos bens fradescos a uma burguesia
emergente, havia na Ataíja escassez de mão-de-obra.
Será isso que justifica a fixação na nossa aldeia de um relativamente
elevado número de enjeitados, de tal modo que a generalidade dos actuais
ataíjenses têm entre os seus ancestrais, avós, bisavós e trisavós, que eram
enjeitados.
Talvez por essas razões, a Ataíja de Cima não acompanhou o
fortíssimo movimento que, a partir do primeiro quartel do Séc. XIX e durante
cem anos, levou cerca de 1.300.000 portugueses pelos caminhos da emigração, sobretudo
para os Estados Unidos e o Brasil.
Apesar disso, alguns ataíjenses emigraram no inicio do Séc. XX. Nenhum, que eu saiba, para o Brasil mas um (meu tio-avô) emigrou para a Argentina e por lá faleceu sem que os familiares tivessem tido outras notícias dele.
Pelo menos três emigraram para os Estados Unidos: Um deles
foi Francisco Sabino, avô paterno do nosso amigo Américo de Sousa Sabino, o
qual em 20 de Agosto de 1913 vivia em New Bedford, Massachussets, conforme se
vê de uma procuração que nessa data passou a sua mulher Maria Coelho. Outro, de
quem apenas sei que tinha o apelido Ângelo que transmitiu aos filhos, foi o
sogro da minha tia Angélica. Outro ainda, de quem apenas sei que foi marido da
Benedita, uma senhora cuja naturalidade desconheço, sempre conheci viúva e só e
morava no início da Rua das Seixeiras, numas casas que agora são de António
Baptista Vigário (António Sabino).
(no verso da foto, escrito a lápis: "Joaquim Batista")
(Foto, de 2010, da casa que foi da minha tia Angélica da Graça e, antes, de seus sogros. A parte da casa a partir do postalete de electricidade, para o lado da estrada, corresponde a dois quartos que se ligam à "casa de fora" por uma grossa parede de pedra. Um dia, estranhando eu esse facto, por inabitual, a minha tia explicou-me que tinham sido mandados construir (e acrescentados à casa original) pela sua sogra, "com dinheiro que o meu sogro mandou da América")
Mais tarde, nos anos 50, Manuel Sabino (filho de Francisco
Sabino) emigrou também, fixando-se no Canadá
Posteriormente, pelo menos mais quatro ataijenses emigraram
para o continente norte-americano e aí vivem actualmente.
[i] O fotógrafo já não existe mas New Bedford é, ainda, hoje, um lugar onde não é indispensável
falar inglês, nem comer hamburgers ou beber coca cola, já que a cada esquina se
encontra um português e um estabelecimento de nome português, onde é possível comprar
de tudo e comer e beber exclusivamente produtos portugueses.
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