quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Gente da Ataíja de Cima - Francisco da Silva Salgueiro - O Chico Patoixo




Como já anteriormente escrevi, esta rubrica - Gente da Ataíja de Cima -, serve para trazer aqui histórias de pessoas extraordinárias, incomuns, pessoas que, por alguma razão, fosse a singularidade da sua condição ou inteligência, a importância das suas acções ou os acasos da vida, se tornaram diferentes dos demais mortais que as rodeavam ou rodeiam e tiveram, ou têm, papel relevante na vida da aldeia.

É por isso que agora vamos falar do Chico Patoixo que, pela sua intensa actividade empresarial e desportiva, foi um dos protagonistas da transição da economia agrícola de subsistência, para a economia industrial e de serviços.

Eu e o Francisco da Silva Salgueiro (Patoixo é alcunha herdada da mãe, Ana Lourenço da Silva, recentemente falecida aos 96 anos) nascemos, ele dois anos antes, em 11-12-1946, a escassos metros de distância, pegados que são os terenos onde se situa a casa que foi dos meus pais e aquele onde se impantaram as que foram de seus pais e dos avós maternos.
Embora o seu avô, e também o seu pai, possuísse uma casa mais abastada do que a generalidade dos ataijenses, isso não o livrou do percurso comum aos rapazes da sua idade, pelo que terminada a quarta, se seguiu a quinta, quer dizer, feito o então ensino obrigatório, a quarta classe, (hoje quarto ano) a sua ocupação passou a ser o trabalho do campo nas terras familiares.

Mas, se o trabalho do campo não era, por si, especialmente atractivo, menos o era quando prestado exclusivamente e sem remuneração nas terras familiares.

Por isso, logo que pode, em 1964, com dezoito anos, o Francisco tratou de fugir ao diário jugo paterno e foi trabalhar para a Cerâmica Vala, uma das grandes fábricas de telha e tijolo das muitas que então havia na Cruz da Légua e arredores.
Seguiu-se, entre 1966 e 1968, o serviço militar, incluindo dois anos na Guerra Colonial, na Guiné.
De regresso, voltou a trabalhar na Cerâmica Vala e aí se manteve até ao início de 1972 quando se casou com Luísa Gomes Henriques.
Logo de seguida, em Maio desse ano, emigrou com a mulher para França, para a região da Loire onde, em Blois, se dedicaram à apanha de morangos.
No ano seguinte mudaram-se para Orleans, ainda na Loire e aí trabalharam em estufas e na condução de máquinas agrícolas até 1977, quando se mudou para Valence, onde trabalhou numa empresa de limpezas e lhe nasceu a única filha.

Regressou a Portugal em 1985.

Nesse ano de 1985 abriu o restaurante Apeadeiro, junto ao entroncamento da Estrada do Lagar dos Frades com a Estrada Nacional nº 1, um lugar então pouco mais do que desértico (havia por ali, desde há alguns anos, a fábrica de cerâmica decorativa Safaril e pouco mais), pelo que a clientela prevista do restaurante seria constituída pelos passantes da EN 1, designadamente os motoristas de camião. Mas, se o restaurante nunca chegou a encher-se de camionistas, em contrapartida o aparecimento de diversas unidades industriais nas redondezas trouxe uma nova clientela que se mantém.
O nome Apeadeiro deve-se ao facto de ali fazer paragem, quando solicitado, o autocarro da carreira Expresso que ligava Leiria a Lisboa.


Deixando a mulher no restaurante, logo no ano seguinte, em 1986, criou a LIMPEC, que foi a primeira empresa de limpezas que houve em toda a região.
Hoje são vulgares as empresas de limpeza e todas as grandes e médias e muitas pequenas empresas, os bancos e os organismos públicos etc, contratam a limpeza das suas instalações a empresas  especializadas mas, quando o Francisco Salgueiro criou a LIMPEC não havia nada disso, salvo em Lisboa e poucas outras cidades do país.
A sua decisão, baseada na experiência que obteve em França, foi absolutamente inovadora.

Entre 1989 e 2001 foi o Presidente e a alma do Clube Desportivo e Recreativo Ataíjense, que hoje está inactivo mas nesse período chegou a militar no Campeonato da 1ª Divisão da Associação de Futebol de Leiria.
Ao Clube Desportivo e Recreativo Ataijense dedicámos, anteriormente, dois textos neste blog, aos quais os leitores interessados podem aceder clicando (CRTL+Clique) AQUI e 
 AQUI

Entretanto, em 1994, criou uma nova empresa de limpezas, a Restaurilimpa, Lda, a qual se mantém em plena actividade, agora com novos proprietários e sede em Alfeizerão, Alcobaça.

Por esta época, remodelou a casa e cómodos (adega e palheiro das vacas) que foram de seu avô Francisco Dionísio (Francisco da Silva Vigário, Dionísio por ser filho de Dionízia dos Santos) e, em 1996, ali abriu um café-restaurante, um mini-mercado e uma loja “dos trezentos”, tudo sob a designação de Novo Espaço.
No local, exactamente onde eram o palheiro das vacas e a eira onde muito brinquei quando era pequeno, funciona actualmente, por arrendamento, o café-restaurante e padaria Pátio dos Sabores.

No ano de 2000, no que julgo ter sido a sua última iniciativa empresarial criou, ainda, a empresa Mega Serviços de Francisco Salgueiro, Unipessoal Lda que dissolveu em 2015.

Em 2010 e após profundas obras de remodelação e modernização, o restaurante Apeadeiro reabriu com o novo nome de Doces Sabores e mantém-se ainda hoje na sua propriedade, embora já não sobre a sua gerência e, com uma excelente relação qualidade preço, é um bom restaurante cuja cozinha, dirigida pelo Chef Carlos Roxo, atrai comensais de toda a região.

Ao restaurante Doces Sabores dedicámos, antes, o texto com o mesmo nome, a que os leitores podem aceder (CRTL+Clique) 
AQUI


Por tudo isto, o Chico Patoixo é um dos protagonistas do processo de modernização da Ataíja de Cima e merece bem integrar esta galeria de ataijenses extraordinários.

Em Maio de 1999, o Chico Patoixo (de pé, 2º, da direita para a esquerda) com a "sua" equipa do Grupo Desportivo e Recreativo Ataíjense, 

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