O Lagar dos Frades da Ataíja de Cima
Nos textos aqui publicados anteriormente sobre a Casa
do Monge Lagareiro, da Ataíja de Cima, (Ver AQUI e AQUI), procurámos sintetizar o
conhecimento actual sobre o monumento e desfizemos um erro que vinha sendo
sistemática e acriticamente repetido, o de que a fachada principal seria
dominada por “um janelão cego”, demonstrando que tal janelão nunca existiu ou,
melhor, nunca passou de uma mera decoração feita em reboco.
Sobre este falso janelão, aliás, bom seria que os
conhecedores da arquitectura setecentista – área em que não possuo quaisquer
qualificações – observassem o estado actual do monumento, com vista ao
esclarecimento da interessante questão de saber se tal era solução corrente na
época ou, se se trata de uma curiosidade rara, como me parece que se trata, já que
não tenho conhecimento de outros casos semelhantes.
Acresce que a solução adoptada para “fingir” o dito
janelão, é de grande qualidade de execução técnica, de tal modo que, durante
cerca de 250 anos, foi capaz de iludir todos os estudiosos e leigos que a
contemplaram, todos eles convencidos de que se tratava da moldura de pedra de
um janelão entaipado.
Esse equívoco está hoje sanado e, na sequência de uma
intervenção e apresentação de provas fotográficas que fizemos junto do IGESPAR,
no site deste instituto já não se fala, como antes, num “janelão cego”
dizendo-se, apenas, que “Ao centro, uma molduração integra a pedra de
armas de Alcobaça” (ver: http://www.igespar.pt/pt/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/detail/74418/)
No entanto, idêntica actualização não foi, ainda, feita
no SIPA – Sistema de Informação para o Património Arquitectónico, onde, em: http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3336, continua a referir-se a existência
de um “janelão cego, de moldura recortada”.
Um outro aspecto deste monumento que interessaria ser
objecto de estudo é que, de facto, nada na literatura nos elucida sobre como
realmente ele seria aquando de sua construção e pleno funcionamento.
É preciso notar, em primeiro lugar que, da escassa
literatura que se refere ao lagar dos frades da Ataíja de Cima, apenas J.
Vieira Natividade, (v. As Granjas do Mosteiro de Alcobaça, in Obras Várias,
II), declara tê-lo visto em funcionamento, cerca de 1915, e faz uma breve
descrição das instalações, descrição essa, no entanto, insuficiente para com
base nela se tentar reconstituir a respectiva planta.
Curiosamente o texto, publicado inicialmente, em 1944,
no Boletim da Província da Estremadura, refere-se a dois dos compartimentos do
lagar indicando as respectivas dimensões (o das prensas, com 21,80mx11,10m e o
dos moinhos com 35,50mx9,50m), com uma minúcia que indicia terem, tais medições,
sido feitas com cuidado e rigor. Como, de seguida, diz que as dependências do
lagar já não existem (em 1944), isso significa que aquelas medidas foram
tomadas anteriormente.
Talvez, na época em que viu o lagar em funcionamento
(em 1915, JVN tinha 16 anos de idade), certamente acompanhando o pai nas suas
explorações.
Sendo de admitir que as medidas foram, como é normal, tomadas sobre um esboço (que ainda existiria em 1944), deve admitir-se a possibilidade de, entre os papéis de J. Vieira Natividade, ainda poder vir a encontrar-se uma "planta" do lagar dos frades de Ataíja de Cima.
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