quarta-feira, 20 de junho de 2012

A Poupa


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 De entre as aves, residentes ou de arribação, que podemos ver na Ataíja de Cima, a poupa é a que tem a plumagem mais exuberante.

Não se trata de um pássaro muito vulgar e, embora pareça não correr perigo de extinção (apesar de ter desaparecido dos campos de diversos países do norte da Europa, como a Suécia, a Holanda e a Bélgica e de grande parte da Alemanha), é raro ver-se.

Um destes dias, quando me levantei e fui à janela, como habitualmente faço, para me deliciar olhando o campo sob o sol da manhã, dei com uma belíssima poupa que, a escassos metros, debicava a terra em busca dos insectos de que se alimenta.
Ainda tentei uma foto, mas ela (ou ele, sei lá eu) esgueirou-se e foi procurar insectos para outro lado.

Era, no entanto, igualzinha à da fotografia seguinte que encontrei, algures, na internet:



Lembro-me, ainda miúdo, do que terá sido a primeira vez que vi uma poupa, junto à Lagoa Ruiva.
Quem me acompanhava, certamente alguém mais velho, deu-me, então, a correspondente aula de ornitologia: o nome do pássaro, os hábitos alimentares e o de fazer o ninho em buracos nas paredes e, claro, esse costume repugnante de os construir com fezes fedorentas.

O fascínio da poupa estava, exactamente, aí:
A rainha de beleza das aves do meu mundo era, afinal, só aparência, coisa para se ver ao longe. Chegássemos perto e o horroroso cheiro empestaria as plumas caprichosas com que se passeava, arrogante, no meio de pardais cinzentos.

Parece-me bem que a tal lição de ornitologia tinha uma intenção moral: Alertar a criança que eu era, para o valor relativo da aparência e da beleza.
E, funcionou.
Durante muito tempo a poupa foi, para mim, um pássaro falsamente bonito, na verdade, apenas, mal-cheiroso que fazia ninhos nojentos em lugares decadentes como, no caso, as ruínas do lagar dos frades e da Casa do Monge Lagareiro.

Mas, a verdade é as poupas são pacíficos e muito belos insectívoros (e, por isso, vítimas colaterais do uso de insecticidas na agricultura) e, não só não fazem o ninho com excrementos, como o mantém impecavelmente limpo e o tal cheiro é produzido por uma glândula que, em caso de ameaça e só nesse caso, expele um líquido, esse sim muito mal-cheiroso, no que constitui uma estratégia de defesa, destinando-se, exclusivamente, a afastar os predadores.

Estamos reconciliados, eu a poupa e, aquela que me visitou numa destas manhãs, está autorizada a fazê-lo todos os dias.
O que me daria muito gosto.
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