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Não se trata de um pássaro muito vulgar e, embora pareça não
correr perigo de extinção (apesar de ter desaparecido dos campos de diversos
países do norte da Europa, como a Suécia, a Holanda e a Bélgica e de grande
parte da Alemanha), é raro ver-se.
Um destes dias, quando me levantei e fui à janela, como
habitualmente faço, para me deliciar olhando o campo sob o sol da manhã, dei
com uma belíssima poupa que, a escassos metros, debicava a terra em busca dos
insectos de que se alimenta.
Ainda tentei uma foto, mas ela (ou ele, sei lá eu)
esgueirou-se e foi procurar insectos para outro lado.
Era, no entanto, igualzinha à da fotografia seguinte que
encontrei, algures, na internet:
Lembro-me, ainda miúdo, do que terá sido a primeira vez que
vi uma poupa, junto à Lagoa Ruiva.
Quem me acompanhava, certamente alguém mais velho, deu-me,
então, a correspondente aula de ornitologia: o nome do pássaro, os hábitos
alimentares e o de fazer o ninho em buracos nas paredes e, claro, esse costume
repugnante de os construir com fezes fedorentas.
O fascínio da poupa estava, exactamente, aí:
A rainha de beleza das aves do meu mundo era, afinal, só
aparência, coisa para se ver ao longe. Chegássemos perto e o horroroso cheiro
empestaria as plumas caprichosas com que se passeava, arrogante, no meio de
pardais cinzentos.
Parece-me bem que a tal lição de ornitologia tinha uma
intenção moral: Alertar a criança que eu era, para o valor relativo da
aparência e da beleza.
E, funcionou.
Durante muito tempo a poupa foi, para mim, um pássaro
falsamente bonito, na verdade, apenas, mal-cheiroso que fazia ninhos nojentos
em lugares decadentes como, no caso, as ruínas do lagar dos frades e da Casa do
Monge Lagareiro.
Mas, a verdade é as poupas são pacíficos e muito belos insectívoros
(e, por isso, vítimas colaterais do uso de insecticidas na agricultura) e, não só não fazem o ninho
com excrementos, como o mantém impecavelmente limpo e o tal cheiro é produzido
por uma glândula que, em caso de ameaça e só nesse caso, expele um líquido, esse sim muito
mal-cheiroso, no que constitui uma estratégia de defesa, destinando-se,
exclusivamente, a afastar os predadores.
Estamos reconciliados, eu a poupa e, aquela que me visitou
numa destas manhãs, está autorizada a fazê-lo todos os dias.
O que me daria muito gosto.
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