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Um dos pássaros mais conhecidos, na nossa Ataíja é, também, um dos
menos vistos: Todos lhe conhecem o nome, todos lhe conhecem o característico canto
mas, a maioria das pessoas, nunca viu nenhum.
De facto, o cuco-canoro (Cuculus
canorus) é uma ave discreta já que pela sua cor cinzenta,
onde apenas sobressaem as listas mais escuras da parte inferior do corpo e o círculo amarelo onde se inscrevem os olhos, se
confunde facilmente no seu habitat preferido, as zonas de arvoredo, a baixa
altitude.
Na Ataíja, gosta
especialmente do vale da ribeira do Mogo, onde sabemos que está ao ouvir o seu
sonoro canto, o “cuc-cuc”, que lhe dá o nome e com que anuncia a primavera.
Ave de arribação, passa o
inverno em África e chega a Portugal no mês de março, reproduz-se e, volta a
emigrar, retornando ao sul, a partir de julho.
A chegada do cuco (e, com
ele, dos dias amenos) era aguardada com grande expectativa.
Já ouviste o cuco?
Perguntavam as pessoas umas às outras.
Ainda vai ouvir o cuco,
dizia-se aos mais velhos, em sinal de que haviam de passar os rigores do
inverno e gozar de muita saúde, pelo que não se justificava estarem a
lamentar-se das suas maleitas.
O cuco é, uma ave de
costumes peculiares e, diríamos, reprováveis.
É um parasita.
Não constrói ninho, depositando
os seus ovos nos ninhos de outras aves, como ele, insectívoras e, muitas vezes,
de porte bastante mais pequeno (um cuco é uma ave relativamente grande, com
trinta a trinta e cinco centímetros de comprimento, metade dos quais
correspondem à cauda e uma envergadura que chega a atingir os sessenta
centímetros).
Deposita um ovo em cada
ninho e, para que a ave parasitada não se aperceba da tropelia, come um dos
ovos lá existentes.
Dispensa-se, assim, de ter de
construir ninho, chocar os ovos ou alimentar as crias.
Este sentido de oportunismo,
também o tem a cria que, por ter pouco tempo de gestação nasce antes dos outros ovos e, para ganhar espaço,
expulsa-os do ninho.
As aves hospedeiras continuam a alimentar o cuco sem darem
pela diferença e quando este atinge a maturidade, é já bastante maior que os
seus pais adoptivos.
A acrescer a todos estes “maus comportamentos”, parece,
ainda, que a fêmea é promíscua, copulando com vários machos.
Mas, pelos vistos, ao cuco tudo se perdoa, por ser o arauto
da desejada primavera.
Na Ataíja de
Cima da minha infância, havia um outro Cuco.
Um tal
Joaquim, de alcunha o Cuco, que era natural do Valado dos Frades, mas casou na
Ataíja e aqui viveu, - na casa onde, actualmente, vive o Paulo Jorge -, até viuvar
de Teresa Neto, que faleceu de tétano, adquirido como consequência da infecção provocada
por um golpe de enxada num pé (as mulheres e as crianças andavam descalças)
tendo, posteriormente, regressado à sua terra.
A certa
altura, o Cuco arrendou ao meu pai a soija de baixo que (talvez com saudades
das culturas de regadio do seu Valado natal) plantou de cebolas que regava com
água, trazida em barricas, da Lagoa Ruiva. O que causou grande admiração (e
alguma contestação, pelo gasto excessivo de água) pois, por aqui, nunca tal se
tinha visto.
NOTA: para a elaboração deste texto foram consultados (em 25-6-2012) além do ficheiro que legenda a foto, mais os seguintes sites de internet:
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