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Entre as muitas famílias “de fora” que possuíam terras na
Ataíja de Cima, assunto a que já dediquei alguns textos aqui publicados, surge
agora uma outra:
A família Crespo, de Regueira de Pontes, Leiria, que por
aqui conservou prazos foreiros pelo menos desde 1835 e até 1920.
Em 1835, o ataijense Manuel Martins, então ainda solteiro,
tornou-se enfiteuta do Dr. António Manuel da Silva Crespo, de Regueira de Pontes, Leiria, ao
qual ficou a pagar o foro anual de 5
alqueires, ou 69,825 litros, de trigo pelo domínio útil de “metade de uma terra
e oliveiras no sítio dos Arneiros, um olival no sítio dos Caramelos e uma casa
térrea na Ataíja”.
Falecido o Dr. Crespo foi, tal foro, objecto de uma
escritura de reconhecimento, celebrada em 5 de Fevereiro de 1869, no Cartório
do Tabelião Libório, em Alcobaça, na qual o Manuel Martins, e sua mulher Maria Guilhermina e as herdeiras do
senhorio, suas irmãs, Dona Ana Joaquina da Silva Crespo e Dona Maria Ignácia da
Silva Crespo, representadas na escritura pelo seu procurador José de Bairros,
professor de instrução primária em Alcobaça, se reconheceram, mutuamente, como
enfiteutas e senhorias.
Cinquenta e um anos mais tarde, em 19 de
Março de 1920, um outro Crespo, o Padre Manuel de Sousa Crespo, dos Milagres (a
freguesia dos Milagres foi criada por desmembramento das de Regueira de Pontes e Colmeias),
vendeu[i] a Francisco Vigário (o
Vigário Velho), o domínio directo de um foro anual de oitenta e quatro litros
de trigo (6 alqueires), imposto em uma terra de semeadura e vinha no Outeiro,
que o vendedor possuía por herança de D. Júlia das Dores da Silva Crespo[ii], de Regeira de Pontes.
Aquele Dr. António Manuel da Silva Crespo foi
gente importante. Era filho do Capitão (da Companhia de Ordenanças de Regueira
de Pontes?) António Francisco Crespo e foi Bacharel em Cânones e juiz de fora,
conselheiro do distrito e vereador da Câmara Municipal de Leiria, integrando,
em 1852, a lista dos maiores agricultores do distrito, com interesses
em, pelo menos, Regueira de Pontes e Alcobaça onde, aparentemente, se deslocava
com frequência e passava temporadas.[iii]
Seria tio[iv] do Dr.
António Lúcio Tavares Crespo (1843-1905)[v], ilustre
alcobacense que foi um dos promotores da construção do elevador da Nazaré,
Bacharel em Direito[vi],
Advogado e Conservador do Registo Predial no Porto, deputado às Cortes pelo
círculo de Alcobaça em 1865-1868 e 1887-1889 e presidente da mesa da
assembleia geral da Companhia de Fiação e Tecidos de Alcobaça.
NOTAS:
[i] Escritura
celebrada em 19-03-1920, Alcobaça, Notário José Estevam d’Abreu e Oliveira.
[ii] Sobrinha
do Dr. António Manuel da Silva Crespo.
[iii] Como
se deduz das actas da sessão da Câmara Municipal de Leiria, de 18 de Maio de
1846, citada por Ricardo Charters d’Azevedo, in http://www.familiasdeleiria.com/, (consultado em 30-5-2012). O que
parece pressupor que tais interesses excediam os foros da Ataíja de Cima.
[iv] No
entanto, este parentesco não parece totalmente esclarecido.
[v] Uma
breve biografia do Dr. António Lúcio Tavares Crespo pode ser lida em “Figuras
de Alcobaça e sua Região”, por Bernardo Villa Nova, Rebate, 2002, Alcobaça,
[vi] Em 1857/1858, frequentava o 1.º ano do curso de
Direito, onde era colega de Thomaz Emilio Rapozo de Magalhães. Não havia,
naquele ano, outros estudantes alcobacenses em Coimbra. (v. “Relação e Indice Alphabético dos Estudantes…”, Coimbra, Imprensa da
Universidade, 1857)
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