segunda-feira, 4 de junho de 2012

Os Crespos, de Regueira de Pontes, senhorios foreiros na Ataíja de Cima


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Entre as muitas famílias “de fora” que possuíam terras na Ataíja de Cima, assunto a que já dediquei alguns textos aqui publicados, surge agora uma outra:
A família Crespo, de Regueira de Pontes, Leiria, que por aqui conservou prazos foreiros pelo menos desde 1835 e até 1920.

Em 1835, o ataijense Manuel Martins, então ainda solteiro, tornou-se enfiteuta do Dr. António Manuel da Silva Crespo, de Regueira de Pontes, Leiria, ao qual ficou a pagar o foro anual de 5 alqueires, ou 69,825 litros, de trigo pelo domínio útil de “metade de uma terra e oliveiras no sítio dos Arneiros, um olival no sítio dos Caramelos e uma casa térrea na Ataíja”.

Falecido o Dr. Crespo foi, tal foro, objecto de uma escritura de reconhecimento, celebrada em 5 de Fevereiro de 1869, no Cartório do Tabelião Libório, em Alcobaça, na qual o Manuel Martins, e sua mulher Maria Guilhermina e as herdeiras do senhorio, suas irmãs, Dona Ana Joaquina da Silva Crespo e Dona Maria Ignácia da Silva Crespo, representadas na escritura pelo seu procurador José de Bairros, professor de instrução primária em Alcobaça, se reconheceram, mutuamente, como enfiteutas e senhorias.

Cinquenta e um anos mais tarde, em 19 de Março de 1920, um outro Crespo, o Padre Manuel de Sousa Crespo, dos Milagres (a freguesia dos Milagres foi criada por desmembramento das de Regueira de Pontes e Colmeias), vendeu[i] a Francisco Vigário (o Vigário Velho), o domínio directo de um foro anual de oitenta e quatro litros de trigo (6 alqueires), imposto em uma terra de semeadura e vinha no Outeiro, que o vendedor possuía por herança de D. Júlia das Dores da Silva Crespo[ii], de Regeira de Pontes.

Aquele Dr. António Manuel da Silva Crespo foi gente importante. Era filho do Capitão (da Companhia de Ordenanças de Regueira de Pontes?) António Francisco Crespo e foi Bacharel em Cânones e juiz de fora, conselheiro do distrito e vereador da Câmara Municipal de Leiria, integrando, em 1852, a lista dos maiores agricultores do distrito, com interesses em, pelo menos, Regueira de Pontes e Alcobaça onde, aparentemente, se deslocava com frequência e passava temporadas.[iii]

Seria tio[iv] do Dr. António Lúcio Tavares Crespo (1843-1905)[v], ilustre alcobacense que foi um dos promotores da construção do elevador da Nazaré, Bacharel em Direito[vi], Advogado e Conservador do Registo Predial no Porto, deputado às Cortes pelo círculo de Alcobaça em 1865-1868 e 1887-1889 e presidente da mesa da assembleia geral da Companhia de Fiação e Tecidos de Alcobaça.


NOTAS:

[i] Escritura celebrada em 19-03-1920, Alcobaça, Notário José Estevam d’Abreu e Oliveira.
[ii] Sobrinha do Dr. António Manuel da Silva Crespo.
[iii] Como se deduz das actas da sessão da Câmara Municipal de Leiria, de 18 de Maio de 1846, citada por Ricardo Charters d’Azevedo, in http://www.familiasdeleiria.com/, (consultado em 30-5-2012). O que parece pressupor que tais interesses excediam os foros da Ataíja de Cima.
[iv] No entanto, este parentesco não parece totalmente esclarecido.
[v] Uma breve biografia do Dr. António Lúcio Tavares Crespo pode ser lida em “Figuras de Alcobaça e sua Região”, por Bernardo Villa Nova, Rebate, 2002, Alcobaça,
[vi] Em 1857/1858, frequentava o 1.º ano do curso de Direito, onde era colega de Thomaz Emilio Rapozo de Magalhães. Não havia, naquele ano, outros estudantes alcobacenses em Coimbra. (v. “Relação e Indice Alphabético dos Estudantes…”, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1857)

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