Cacilhas sempre foi pouco mais do que um cais onde acostam os
barcos que transportam os passageiros (e, antes da ponte, também transportavam as
mercadorias) que circulam entre Lisboa e a margem sul na parte mais estreita do
estuário do Tejo.
Almada, lá no alto, é terra antiga que teve foral de D.
Sancho I mas, a sua história tem tanto de longa quanto de discreta.
É, assim com todas as povoações das margens sul. De costas
para o sol, estão lá apenas como ponto de apoio às cidades grandes que na sua
frente de desenvolvem do outro lado do rio.
E, nem a inauguração, em 17 de Maio de 1959, da gigantesca
estátua do Cristo-Rei[i], mudou
grandemente as coisas.
Embora
desde meados do Séc. XIX se verifique no concelho de Almada um crescimento
populacional constante, o grande salto, económico e demográfico[ii], só é dado a partir de 1966 quando, no dia 6 de Agosto, foi inaugurada a ponte sobre
o Tejo, logo seguida da
inauguração do estaleiro da Margueira[iii] em 1967[iv].
Cacilhas
era (é) uma pequena faixa, uma praia, encaixada entre o rio e a colina onde se
ergue Almada. Pequena povoação justificada pela existência do cais, de que há
memória desde os Fenícios e os Romanos, foi, sempre, terra de pescadores,
marítimos, carregadores e almocreves que, em meados do Séc. XVIII, já eram em
número suficiente para justificar a construção da Igreja
Paroquial de Nossa Senhora do Bom Sucesso.
Ali,
na estreita praia, tudo se concentra: o cais dos “cacilheiros” e a
correspondente estação de autocarros, a Igreja a alguns metros, as docas do
desactivado estaleiro da H. Parry & Son, Lda e, um niquinho mais para sul,
as gigantescas e também desactivadas docas do estaleiro da Margueira da
Lisnave. Para o lado direito de quem chega de barco há becos e está o Ginjal
onde pontificam restaurantes, antigas tascas e magníficas vistas para o rio e
Lisboa.
Tudo
chega e tudo parte do Largo de Cacilhas onde, em 1874, a Câmara Municipal de
Almada mandou erguer um chafariz que ficou colocado à entrada da Rua Direita[v], por onde se chegava à
sede do concelho.
Pode
ter-se uma noção da importância e notoriedade pública do acontecimento vendo o
destaque que lhe foi dado na primeira página do “Diário Ilustrado” de 1 de
Novembro de 1874:
Depois
de ter servido a população durante mais de setenta anos, por razões aparentemente
desconhecidas e em data incerta, algures pelos anos de 1940 ou princípios de
1950, o chafariz desapareceu, quando a má qualidade da água já não permitia o
uso humano[vi].
De
então para cá, o Largo de Cacilhas mudou de nome e, várias vezes, de configuração,
esta, tentando a cada vez uma melhor adaptação às necessidades decorrentes do
serviço do cais e da articulação entre “cacilheiros” e transportes rodoviários
e, essa terá sido a razão próxima para a o desaparecimento do chafariz.
Mas,
se desapareceu o chafariz não desapareceu a memória da sua importância, o que
levou a Câmara Municipal de Almada a decidir, no âmbito de obras para
revitalização do centro histórico de Cacilhas, levantar no mesmo local do
primitivo chafariz uma réplica, cuja inauguração teve lugar, no meio de grande
festa, em 13 de Julho de 2012.
E,
o que é que a Ataíja de Cima tem a ver com tudo isto?
O
caso é que a dita réplica, uma cópia perfeita, colocada no local onde existiu o
chafariz original, local esse que hoje como então é o coração da vida de
Cacilhas, o que faz com que o chafariz seja visto, diariamente, por milhares de
pessoas, essa réplica, é obra da empresa ataíjense Vigário & Machado. Lda[vii]
[i] O
Cristo-Rei não foi concebido em atenção a Almada, foi concebido para ser visto
a partir de Lisboa.
Nesse tempo não existia a Diocese de Setúbal, criada em 1975. A área pertencia ao Patriarcado de Lisboa onde, aliás, o Cristo-Rei se manteve, apenas transitando para a Diocese de Setúbal em 1999.
Nesse tempo não existia a Diocese de Setúbal, criada em 1975. A área pertencia ao Patriarcado de Lisboa onde, aliás, o Cristo-Rei se manteve, apenas transitando para a Diocese de Setúbal em 1999.
[ii] O concelho de Almada que em
1960 tinha pouco mais de 70.000 habitantes, passou em 1980 para cerca do dobro
e, actualmente, terá cerca de 174.000 residentes.
[iii] Com
capacidade para receber os maiores navios então existentes, o estaleiro
beneficiou largamente do encerramento do Canal do Suez, ocorrido no ano da sua
inauguração, em 1967 e que se manteve até 1975.
[iv] Ainda
não tinha passado um ano sobre a data de 5 de Maio de 1966 quando, primeira
vez, um navio transportando contentores descarregou num porto europeu
(Roterdão, na Holanda). A contentorização das cargas havia de, nos anos
seguintes, revolucionar completamente os transportes em geral e o transporte
marítimo em particular.
[v] Actual
Rua Cândido dos Reis a qual foi, até à década de 1960, o principal acesso de
Cacilhas a Almada.
[vi] Em
meados dos anos de 1940, quando começava a verificar-se crescimento urbano de
Almada, foi resolvido o problema crónico do abastecimento de água a Cacilhas,
com a entrada em serviço da rede de abastecimento domiciliário e, daí, a
desnecessidade e o consequente desaparecimento do chafariz.
[vii]
Vigário & Machado, Lda, Rua dos Arneiros, 5, 2460-713 Ataíja de Cima. Tel.
262508146, https://www.facebook.com/vigariomachado.lda/
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