quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Duas aldeias desaparecidas

Nota para os eventuais leitores: Este post contém erros factuais que serão brevemente corrigidos
JQ 17-12-2013
O mapa das aldeias da nossa região tem-se mantido praticamente inalterado desde há vários séculos.

De facto, ainda hoje existe a grande maioria dos povoados mencionados na carta de doação dos Coutos de Alcobaça e, a maioria das capelas e igrejas existentes (indicadores bastantes seguros dos locais de povoamento), são do Séc. XVI ou anteriores.
No que, especificadamente, diz respeito a Aljubarrota (São Vicente) e tal como já referido em posts anteriores, em meados do Séc. XVII existiam as igrejas, capelas e ermidas de São Vicente o Velho, São Vicente o Novo (ambas junto ao limite norte de Aljubarrota), São João Baptista (nos Olheiros), Nossa Senhora das Areias (nos Chãos), São Sebastião (na Ataíja de Baixo), Santa Teresa (nos Casais de Santa Teresa, “nos Casais que estão além da Ataíja de Cima”, diz o Couseiro) e Nossa Senhora da Graça (na Ataíja de Cima).

Em meados do Séc. XVIII, mais exactamente, em 1758, o pároco de São Vicente, identifica os lugares da paróquia e a respectiva população e lá estão Aljubarrota (parte pertencente à Paróquia de São Vicente), com 263 pessoas, Ataíja de Cima, com 187, Casais de Santa Teresa, com 102, Chãos, com 92, Ataíja de Baixo, com 87, Cumeira de Baixo, com 72 e logo, com 57 pessoas em 20 fogos, Casais dos Belos.
Seguem-se, ainda, as povoações, mais pequenas, de Cadoiço, Pedreira (Moleanos), Casal do Rei e Vale Vazão com, respectivamente, 39, 30 19 e 11 habitantes.

Trinta e três anos depois, em 1791, no mapa elaborado para a construção da estrada de Rio Maior a Leiria, identifica-se, a norte e muito próximo do Val Vazão (aqui designado Casal do Vazão), uma nova localidade: Casal Novo.

Este Casal Novo, do qual restam, ainda, vestígios das construções há muito abandonadas, terá deixado de ser habitado em meados do Séc. XX.

Não sendo mencionado nas Memórias Paroquiais, não existia, certamente, como povoação, no ano de 1758 (o Val Vazão, ali ao lado, tinha apenas três fogos habitados e foi mencionado).
A ser assim, mais do que um casal novo, este foi um casal efémero que terá durado cem anos ou pouco mais.

Por outro lado, temos os Casais dos Belos. Esta povoação, referida, como vimos, nas Memórias Paroquiais era, ao tempo, em 1758, com os seus 20 fogos e 57 pessoas, um povoado relativamente importante ao nível da Paróquia.
No final do Séc. XVIII, em 1794 e 1795 e, ainda, em 1831, habitantes dos Casais dos Belos celebraram, confirmadamente, escrituras relativas a empréstimos mutuários.
Seja, a designação Casais dos Belos usava-se ainda quarenta anos depois do mapa acima referido.
Isso, leva-nos a acreditar que se trata de lugares diferentes, que o Casal Novo e os Casais dos Belos são povoações diferentes.
Do Casal Novo, sabemos onde era, embora não saibamos as razões do seu abandono.



Dos Casais dos Belos, não há qualquer notícia, ou memória.
Volto, pois à interrogação que já deixei num post anterior:

Onde é que eram estes Casais dos Belos?


NOTAS:
A bibliografia em que se apoia este texto pode ser pesquisada, neste blog, em “Couseiro” e “Memórias Paroquiais”.
Sobre a Estrada de Rio Maior a Leiria (estrada de D. Maria Pia), pode consultar-se o interessante livro de Ricardo Charter’s de Azevedo, “A Estrada de Rio Maior a Leiria em 1791”, colecção Tempos&Vidas-15, Edição Textiverso, Leiria, 2011.
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2 comentários:

  1. Há dias, pesquisava - via NET - nos livros paroquiais de registo de assentos de batismo, de casamento e de óbito, existentes no arquivo distrital de Leiria e anotei a presença de diversos registos relativos a Casais dos Belos da freguesia de S. Vicente de Aljubarrota no espaço temporal 1800-1850. Por curiosidade, fui à procura daquele lugar - via Google - e descobri o seu post. No caso do citado lugar ter existido, pelo menos, até finais do século XIX, é possível descobrir assentos de casamento de pessoas naturais dali e que tenham ido morar para outras paragens e descobrir através dos seus descendentes, netos em princípio, - ou de alguém que os tenha conhecido - a localização dos ditos Casais. Curiosamente encontrei referência a um processo orfanológico de 1839 em que os Casais Belos são atribuídos à vizinha freguesia dos Prazeres.

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    1. Muito obrigado, D. Adelina, pelo seu comentário que, além do mais me lembrou a necessidade de dar cumprimento à promessa acima de corrigir alguns erros deste post.
      No que diz respeito ao Casal Novo, a correcção já foi feita no post "Casal Novo - Uma aldeia abandonada" (http://ataijadecima.blogspot.pt/2015/03/casal-novo-uma-aldeia-abandonada.html) que publiquei neste blog em 30-3-2015.
      No que respeita aos "Casais dos Belos", ainda não tenho a certeza mas talvez se tratasse do que a minha avó chamava os "Casais de Cima" que entretanto foram absorvidos no aglomerado dos Casais de Santa Teresa. Mas, como digo, isso precisa de confirmação.
      Se, por acaso, as suas investigações andam em torno de Aljubarrota gostaria de falar mais detalhadamente com a D. Adelina Rosa. O meu email é: jose.quiterio@sapo.pt
      Muito obrigado

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