As Fotos
Não há certezas sobre a data exacta das fotografias que se
seguem. Talvez sejam de 1993, ou de um ano antes, ou depois.
Certo é que por estes anos se deu uma segunda, efémera e
última ( ao menos até agora), época de cultura do trigo na Ataíja.
O fim da actividade da debulhadeira do Pirata foi, também, o
fim da cultura do trigo na nossa terra.
Que o mundo estava a mudar vê-se bem do facto de não
existirem animais em nenhuma das fotos seguintes.
Agora, ao contrário do que aconteceu durante séculos, já não
há juntas de vacas com os seus carros a transportar o trigo e tudo é feito com
tractores e seus respectivos reboques.
Essa é, seguramente, a mudança mais importante. Não o facto
de se ter deixado de cultivar o trigo, já que as terras ataijenses nunca
tiveram grande aptidão para o cereal que, tradicionalmente, era cultivado para
pagar foros, destinando-se o sobrante – se sobrava – a fazer pão que se comia
em raros dias de festas. Nos restantes dias, apenas se comia pão de milho.
Nesta primeira foto vê-se a correia que, a partir da tomada
de força do tractor, acciona todo o sistema e quatro dos homens necessários ao
funcionamento da debulhadora:
Sobre a debulhadora, o homem de camisa negra tem por função
cortar o atilho do molho do trigo.
O segundo homem sobre a máquina é o aumentador. A sua função
é “enfiar” o trigo na tremonha, garantindo um regular e adequado abastecimento
do sistema de debulha.
À direita da imagem, o homem que suporta um molho de trigo
numa forquilha sobre a cabeça, para o colocar na debulhadora, não faz parte da
equipa de debulha. É o proprietário do trigo a debulhar ou um seu familiar. É
ao dono do trigo que compete colocá-lo sobre a debulhadora.
Finalmente, sob a correia motora, vê-se o saqueiro. É a ele
que compete medir, ou pesar e ensacar o trigo debulhado e, consequentemente,
apurar a maquia que cabe ao proprietário da debulhadora. Desempenha, por isso,
um papel de grande importância e é, geralmente, o encarregado, responsável por
todo o sistema:
Enquanto o trigo limpo sai por um dos lado da debulhadora,
pelo lado oposto sai a palha que, elevada pelo tapete rolante, vai cair junto
do homem que vemos sobre uma plataforma anexa à enfardadeira. É o aumentador da
enfardadeira, cujo trabalho é o de encaminhar, nas quantidades e com a
regularidade certas, a palha para a tremonha, de onde cairá no leito onde vai
ser feito o fardo:
Aproveitando os primeiros fardos fabricados, constrói-se ao
redor da enfardadeira uma espécie de tenda, onde os arameiros podem fazer o seu
trabalho protegidos do sol.
A enfardadeira é como um molde que enforma e onde se vai
comprimindo a palha, separando-se os fardos uns dos outros por aquelas peças de
madeira (como se chamam, alguém sabe?) que se veem à esquerda da foto e que,
entre cada uma das tábuas, possuem ranhuras por onde o arameiro faz passar o
arame que ata enquanto o fardo está comprimido:
Uma paisagem inteiramente mecânica: As juntas de vacas foram
substituídas por tractores e seus reboques e carrinhas de caixa aberta:
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