domingo, 26 de maio de 2013

A Debulhadeira do Pirata - II

As Fotos

Não há certezas sobre a data exacta das fotografias que se seguem. Talvez sejam de 1993, ou de um ano antes, ou depois.
Certo é que por estes anos se deu uma segunda, efémera e última ( ao menos até agora), época de cultura do trigo na Ataíja.
O fim da actividade da debulhadeira do Pirata foi, também, o fim da cultura do trigo na nossa terra.

Que o mundo estava a mudar vê-se bem do facto de não existirem animais em nenhuma das fotos seguintes.
Agora, ao contrário do que aconteceu durante séculos, já não há juntas de vacas com os seus carros a transportar o trigo e tudo é feito com tractores e seus respectivos reboques.
Essa é, seguramente, a mudança mais importante. Não o facto de se ter deixado de cultivar o trigo, já que as terras ataijenses nunca tiveram grande aptidão para o cereal que, tradicionalmente, era cultivado para pagar foros, destinando-se o sobrante – se sobrava – a fazer pão que se comia em raros dias de festas. Nos restantes dias, apenas se comia pão de milho.



Nesta primeira foto vê-se a correia que, a partir da tomada de força do tractor, acciona todo o sistema e quatro dos homens necessários ao funcionamento da debulhadora:
Sobre a debulhadora, o homem de camisa negra tem por função cortar o atilho do molho do trigo.
O segundo homem sobre a máquina é o aumentador. A sua função é “enfiar” o trigo na tremonha, garantindo um regular e adequado abastecimento do sistema de debulha.
À direita da imagem, o homem que suporta um molho de trigo numa forquilha sobre a cabeça, para o colocar na debulhadora, não faz parte da equipa de debulha. É o proprietário do trigo a debulhar ou um seu familiar. É ao dono do trigo que compete colocá-lo sobre a debulhadora.
Finalmente, sob a correia motora, vê-se o saqueiro. É a ele que compete medir, ou pesar e ensacar o trigo debulhado e, consequentemente, apurar a maquia que cabe ao proprietário da debulhadora. Desempenha, por isso, um papel de grande importância e é, geralmente, o encarregado, responsável por todo o sistema: 



Enquanto o trigo limpo sai por um dos lado da debulhadora, pelo lado oposto sai a palha que, elevada pelo tapete rolante, vai cair junto do homem que vemos sobre uma plataforma anexa à enfardadeira. É o aumentador da enfardadeira, cujo trabalho é o de encaminhar, nas quantidades e com a regularidade certas, a palha para a tremonha, de onde cairá no leito onde vai ser feito o fardo: 



Aproveitando os primeiros fardos fabricados, constrói-se ao redor da enfardadeira uma espécie de tenda, onde os arameiros podem fazer o seu trabalho protegidos do sol.
A enfardadeira é como um molde que enforma e onde se vai comprimindo a palha, separando-se os fardos uns dos outros por aquelas peças de madeira (como se chamam, alguém sabe?) que se veem à esquerda da foto e que, entre cada uma das tábuas, possuem ranhuras por onde o arameiro faz passar o arame que ata enquanto o fardo está comprimido: 



Uma paisagem inteiramente mecânica: As juntas de vacas foram substituídas por tractores e seus reboques e carrinhas de caixa aberta:



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