terça-feira, 1 de outubro de 2013

O Almirante Cardoso



A primeira vez que encontrei o Almirante Francisco António Gonsalves Cardoso, foi no assento de casamento de sua filha Adelina Augusta de Freitas Cardoso que, com a idade de 28 anos, em 15 de Dezembro de 1884, se consorciou com o dourador Joaquim da Fonseca Brilhante e Brito, em São Vicente de Aljubarrota, vila de onde todos eram naturais.
E, foi já depois de ter vasculhado a internet à procura de mais informações sobre este, para mim, desconhecido marinheiro que reparei na pequena placa, numa esquina à Rua Direita, que dá nome à “Rua Almirante Cardoso”, com que Aljubarrota o homenageia.

Apesar dessa placa, julgo que a maioria dos seus conterrâneos, tal como eu, não saberá quem foi o Almirante Cardoso. Havia, pois, que investigar e, consultada a documentação que, sobre ele, existe no Arquivo Histórico da Marinha, ficamos a saber que:

Francisco António Gonsalves Cardoso, natural de Aljubarrota, filho do Capitão Francisco António Gonsalves Cardoso, foi baptizado em São Vicente de Aljubarrota em 9 de Fevereiro de 1800.
Alistado na Academia de Marinha, completou o respectivo curso em 1821, iniciando uma longa e brilhante carreira de 50 anos que o levou até Contra-Almirante.

Pelo meio, navegou por todos os mares e batalhou em Portugal, Brasil e Angola.

Dos combates travados em Angola, dá conta a inscrição em pedra sobre o portão do Forte da Catumbela:
“Foi feito á custa dos habitantes de Bengella, honra á digna Camara Municipal, os contínuos insultos feitos aos brancos pelos indígenas deste districto, originarão a construção deste reducto. As guarnições dos brigues Mondego, Tamega e corveta Relampago, comandados pelo chefe F. A. Glz. Cardozo, os submeterão por ordem do Governador Geral o Exmo. Snr. Pedro Alexandrino da Cunha. F.X. Lopes Major do Extº. traçou e construio 1ª pedra 5 Outubro 1846”
(este forte da Catumbela encontra-se, actualmente, em mau estado de conservação mas o Governo angolano já manifestou a vontade de o reconstruir e preservar).

Os combates que travou em Portugal em 1832 e 1833 quando integrava as tropas liberais de D. Pedro IV com quem tinha vindo do Brasil, levaram-no a ser ferido por duas vezes e, uma delas, muito gravemente.
Antes, aos 23 anos, tinha participado, comandando uma canhoneira, no Bloqueio do Recôncavo, (Baía, Brasil), no âmbito das acções militares de iniciativa portuguesa contra os independentistas brasileiros.

Entre Setembro de 1827 e Julho de 1832, esteve ao serviço da marinha brasileira, o que denuncia a sua filiação liberal.

Como administrador colonial, foi Governador-Geral da Província de Angola e Governador da Província de Macau, Timor e Solor e Deputado por Angola.

Recebeu numerosas condecorações, designadamente as de Cavaleiro da Ordem da Torre e Espada, Cavaleiro de Nossa Senhora da Conceição “pelos distintos serviços praticados na estação naval, d’Angola durante um longo e penoso cruzeiro contra o tráfico da escravatura”, Cavaleiro e Comendador da Ordem de São Bento de Aviz, Oficial da Legião de Honra (França), Oficial da Ordem da Roza (Brasil), Comendador da Ordem do Leão Neerdelandêz (Holanda), Grã-Cruz da Ordem de Isabel a Católica (Espanha).

Foi agraciado com o título do Conselho de Sua Magestade (podendo usar, e usou, o título de Conselheiro).

Em 1849 foi-lhe diagnosticada uma hepatite crónica e, nesse ano, esteve em Aljubarrota, doente, conforme se vê de um atestado médico que lhe foi passado pelo Dr. João Pereira Crespo, “Bacharel formado em Medicina pela Universidade de Coimbra, Médico do Partido Municipal d’Alcobaça e Deputado às Cortes”.
Em finais de 1851, autorizado a residir em Aljubarrota “devendo apresentar-se logo que seja nomeado para algum serviço”.
E havia de ser, ainda, nomeado para muitos serviços dos quais os últimos foram o de Comandante do Corpo de Marinheiros, aos 70 anos de idade e, no ano seguinte, o mesmo em que chegou a contra-almirante do quadro, o de “Ajudante de Campo de Sua Majestade El-Rei o Senhor D. Luiz 1º”.

Faleceu em 24 de Fevereiro de 1875

Foto do Almirante Cardoso, cedida pela Biblioteca Central da Marinha – Arquivo Histórico
(reprodução proibida sem autorização expressa da Biblioteca Central da Marinha – Arquivo Histórico)


13 anos depois do falecimento do Almirante, em 1888, o deputado por Alcobaça, Dr. António Lúcio Tavares Crespo, fez um requerimento inquirindo pela pensão à viúva, pensão essa que o parlamento tinha aprovado mas o Ministério da Marinha não pagava.



  
(Com os nossos agradecimentos ao Arquivo Histórico da Marinha e à sua chefe Dra. Isabel Beato)


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